Dois anos atrás, uma mulher saudita de 28 anos foi condenada a 200 chibatadas e seis meses de cadeia. Seu crime: ter denunciado um estupro coletivo que sofreu em 2006, quando era estudante com 19 anos. Ela fora levada a um acampamento e estuprada por sete homens. A denúncia lhe custou uma pena de 90 chibatadas, pois é proibido uma mulher sair desacompanhada de um parente do sexo masculino no país. Não, isto não é Esparta! Como poderiam gritar, mas “Isto é Arábia Saudita!” O protesto de seu advogado lhe custou a perda de sua licença e o aumento da punição para 200 chibatadas, uma vez que ela aceitou falar publicamente sobre a barbárie.[1] No Dia Internacional da Mulher li muito sobre condições de trabalho desiguais, sobre diferenças salariais, sobre discriminação contra mulheres negras etc., mas não vejo uma linha sequer dessas organizações de defesa de gênero sobre a maior opressão existente na atualidade, do mundo islâmico contra as mulheres. Que é? Não existe?
Há mais de 10.000 km dali, no coração do Ocidente uma descendente de palestinos, Linda Sarsour está a frente dos protestos contra o recém-empossado presidente americano, Donald J. Trump. Sua causa pró-árabe também é pró-muçulmana, o que a fez se posicionar frontalmente contra o candidato Republicano e recebeu, como seria de esperar... Forte apoio do candidato socialista dos Democratas, Bernie Sanders. Uma prova de que sua causa é de esquerda mesmo é que ao invés de bradar contra os maus-tratos que sofrem as mulheres no Oriente Médio ou no Islã em geral, ela prefere se aliar a tudo que faça parte de uma agenda auto-vitimizadora, como o movimento Black Lives Matter, entre outros. Aqui, em suas próprias palavras:
“The same people who want to deport millions of undocumented immigrants are the same people who hate Muslims and who want to take our right to worship freely in this country. That common enemy, sisters and brothers, is white supremacy,” Sarsour said. “Let’s call it what it is.”
Her political philosophy places all of these groups, with all of their unique challenges, within the same category of oppressed peoples – and the oppressors, the opposition, are large corporations, white Islamophobes and Zionists.[2]
Alguém aí leu claramente o que ela está dizendo? O inimigo é o “supremacista branco”, mas o que isto tem a ver com grandes corporações? Este discurso visa resignificar as palavras adotando o capitalismo como sinônimo de opressão e igualando um sistema econômico ao racismo. Esta estratégia visa “racializar” a desigualdade econômica, o que rende frutos políticos, pois é mais fácil para quem não tem consciência política ser manipulado em termos étnicos, religiosos etc. Quanto à opressão praticada pelos supremacistas muçulmanos, nenhuma palavra. Nada, nadica de nada.
O que essas duas mulheres têm em comum? Só o fato de serem mulheres e muçulmanas, mas a verdade é que uma delas sofre a violência totalitária e cruel de um sistema ideológico religioso enquanto que a outra prefere ignorá-lo se fazendo de eterna vítima de uma sociedade oposta, aberta, que lhe permite inclusive fazer pouco caso de jihadistas e terroristas. Isto é justo?
V.D.
[1] JPOST.COM. “Gang-raped Saudi woman sentenced to 200 lashes, 6-months in jail” - Middle East - Jerusalem Post – mach 7 2015. Acesso em 11 mar. 17.
[2] WILNER, Michael. “Linda Sarsour, Women’s March organizer, works to link civil rights struggles to Palestinian cause” - American Politics - Jerusalem Post – january 24 2017. Acesso em 11 mar. 17.