Há cerca de um ano atrás o professor britânico, Peter Lees Pearson com 76 anos ministrava uma aula de seu curso (gratuito, diga-se passagem) English for Science. Nas suas palavras, o nível dos alunos da pós-graduação do Instituto de Biociências da USP é muito bom, mas pouco reconhecido porque há pouquíssimas publicações em inglês, que é a língua franca na academia científica internacional. Como o método adotado para o aprendizado se baseia na leitura e discussão de textos, estes não precisam ser de concordância prévia e geral, ou seja, se lê de tudo que estiver relacionado ao curso, inclusive aquilo do qual se discorda.
No dia 22 de abril de 2015 sua sala de aula foi invadida por dez militantes do grupo chamado Ocupação Preta,[1] como forma de protesto contra a desigualdade racial na sala de aula do professor onde apenas um dos vinte alunos era negro. Além do mais o texto do dia fazia um vínculo entre Q.I. e raça, de um polêmico autor que, inclusive, perdeu cargos devido à publicação desse texto. Como dissemos, em uma universidade se discute inclusive ideias adversas, tanto que o professor em questão deixou claro que discordava da forma como os alunos brasileiros com mais chances entram na universidade pública e se declarou favorável à chamada Política de Ação Afirmativa, da qual as cotas são um exemplo.
Enfim, até mesmo quando se trata de um aliado, este tipo de militância que “pensa com o fígado” consegue agredir um aliado reprimindo sua liberdade de expressão. O absurdo disto tudo é que justamente o ambiente que deveria se caracterizar por ser o mais aberto e livre de preconceitos, inclusive aberto à crítica aos preconceitos como foi o caso da intenção do professor acaba sendo rechaçado sim, mas por outro preconceito muito maior: de que a disciplina era dada em inglês impedindo que os alunos invasores pudessem discutir. Nada mais nada menos que metade das quatro horas de curso foram tomados por interrupções com discursos ideológicos e palavras de ordem. Ao final, os invasores do Ocupação Preta conseguiram o que queriam, o professor septuagenário, simpático ao programa de cotas(!) desistiu de ministrar seu curso com fins filantrópicos de ajudar a ciência brasileira.
Agora perguntamos: quem ganha com isto? Certamente que não o conhecimento, a ciência ou os estudantes que invadiram querendo o fim do preconceito, pois um texto tido como preconceituoso deixou de ser estudado e criticado. O que estes sim fascistas têm que aprender é que não se combate o inimigo ignorando o mesmo ou pondo a cabeça em um buraco. Se combate o inimigo estudando o mesmo e atacando seus pontos fracos. Ao final das contas, os invasores se mostraram tão preconceituosos e irracionais quanto o que viam no objeto de sua ira. Se alguém já ouviu falar em “racismo reverso”, aí está um excelente exemplo.
V.D.
[1] "Aula na USP sobre racismo e QI vira alvo de protesto de estudantes negros" in: G1. Acesso em 21 mar. 17.