Artigo publicado na Gazeta do Povo de Curitiba, seção Opinião, coluna Flavio Quintela, em 31 de dezembro de 2015.
Pensei muito sobre o que escrever na última coluna de 2015. Pensei em ignorar o tema óbvio de fim de ano e introduzir um assunto completamente diverso das retrospectivas e análises tão comuns desta época. Não consegui – parece que a proximidade com o fim de um ciclo traz consigo a necessidade de relembrar o que aconteceu, reforçar o que deu certo e aprender com o que deu errado.
Sendo assim, preparei uma lista de sugestões para a presidente da República, já que os erros dela são os que afetam mais gente ao mesmo tempo.
Para Dilma Rousseff:
Não confie mais no Lula – eu sei que foi ele que a colocou aí na Presidência, e que sem ele você não seria nada além de uma empresária mal sucedida do 1,99. Mas o fato é que ele não gosta de você de verdade. Se ainda não percebeu, ele passou a jogar contra você. Na verdade, ele nunca jogou a favor – Lula é o tipo de pessoa que só faz as coisas por interesse próprio, um grande egoísta. Faça como os brasileiros de caráter e evite esse tipo de amizade. Não faz bem andar por aí na companhia de gente desse tipo.
Não escolha novos ministros do STF – suas escolhas são muito ruins. Sei que lhe parecem boas, mas você tem de entender que o que é bom para você geralmente é ruim para os brasileiros. Evite escolher novos ministros no futuro. Quando chegar a hora de escolher algum, invente alguma história, diga que está com dor de barriga ou que sua avó morreu. Faça o que for preciso para não cometer esse erro de novo.
Não escolha ministros de governo – quem não sabe escolher para o STF também não sabe escolher para o governo. É hora de se conformar com isso e deixar esse tipo de decisão para pessoas competentes. Tudo bem, sei que vai dizer que não tem ninguém competente em seu governo para tomar essas decisões. Mesmo assim, é melhor não decidir nada do que decidir errado.
Não fale mais em público – você não tem capacidade para discursar, muito menos de improviso. Evite entrevistas, aparições em eventos, palanques, púlpitos, microfones, câmeras de televisão e situações similares. Quando sentir aquela necessidade incontrolável de falar sobre coisas sem sentido como a importância da mandioca e os cachorros ocultos, tampe os dois ouvidos com os dedos e repita, baixinho, “mandioca, cachorro, mandioca, cachorro, mandioca, cachorro” até passar a vontade.
Não se comunique – toda vez que você usa telefone, e-mail, correio, WhatsApp, bilhetinho, Skype ou sinais de fumaça, alguma coisa ruim acontece. Evite se comunicar. Pense na possibilidade de uma temporada monástica no Himalaia, uma experiência única em que você poderia aprender a comunicar-se consigo mesma e a crescer interiormente. Lembre-se de que esse tipo de experiência não costuma funcionar a menos que dure quatro ou cinco anos. É importante ter perseverança nessas horas e não desistir. Na dúvida, rasgue o passaporte.
Não assine mais nada – tudo o que você assinou prejudicou os brasileiros e piorou suas vidas. Evite canetas, lápis, carimbos, teclados, mouses e outros dispositivos que possam transformar o que lhe vem à mente em ações concretas. Se colocarem algo em sua frente para assinar, finja que não viu, derrame café em cima da folha ou faça aviõezinhos e jogue-os pela janela. Só não assine nada.
Não presida mais nada – sua experiência presidindo as coisas só causou… (clique aqui para acessar o restante do artigo na página do jornal).
Flavio Quintela é escritor, jornalista e tradutor. É autor dos livros “Mentiram (e muito) para mim” e “Mentiram para mim sobre o desarmamento”.