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As mulheres podem ser o que quiserem ser?

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Por Fernando Fernandes, publicado pelo Instituto Liberal

Vi essas manifestações do Facebook relacionadas com a reportagem da Revista Veja sobre Marcela Temer com o título provocativo de ” Bela, Recatada e do Lar”. Me pergunto: quando que bela, recatada e do lar se tornou xingamento? Qual foi o momento em que ser bela, recatada e do lar se tornou uma oposição às mulheres que são belas e trabalham fora? Ou de que maneira dizer que alguém é recatada tornou-se uma ofensa às que, de modo diverso, são extrovertidas? Será que louvar alguém por ter prazer em suas escolhas diminui alguém que fez escolhas diferentes? Cada um não pode ser o que quiser ser?

Entendo que uma minoria, de modo difuso e particular, fez uma leitura ultra complexa, indo muito além das letras no papel, especulando sobre a “real intenção da matéria”. Dando um sentido oculto, quase em tom conspirativo, aludiram uma suposta tentativa de melhorar a imagem de Michel. Todavia, não foi esta a leitura da maioria. Ficaria mais feliz se os manifestações tivessem este teor de profundidade. Ao menos, seriam especulações sobre o uso instrumental da imagem de Marcela ou de como a reportagem serviu politicamente.

Ao contrário, as manifestações e mensagens exprimiam as críticas de um tipo específico de mulher, notadamente jovem, residente das grandes metrópoles e altamente influenciada por um estilo de vida moderno e urbano, seguindo o padrão da cultura pop internacional que se viram estranhamente ameaçadas ontologicamente. Era como se a existência de Marcela Temer, ou o tipo de mulher que Marcela supostamente representa, significasse uma ameaça simplesmente por ser diferente.

 

Nos anos 1990, nos EUA, muitas mulheres deixaram as grandes empresas, abandonaram suas carreiras e escolheram para suas vidas ser donas de casa e cuidar dos filhos, se dedicando integralmente às suas famílias e à vida doméstica. Kaley Cuoco já foi amplamente criticada por dizer querer deixar sua carreira para dedicar-se a família, assim como Ana Paula Arósio que ao abandonar a carreira foi mal-vista. Quantas mais?

“Entendo” as feministas histriônicas porque são radicais e percebem Marcela Temer como um obstáculo ao seu mundinho de sovacos peludos, de semanas sem banho e das “artes” feitas de sangue de menstruação. Contudo, alguém ser bela, recatada e do lar não diminui quem é diferente.

Marcela Temer, se quiser, pode representar um Brasil que muitos preferem sufocar ou tornar invisível. Um Brasil que não se curvou ao padrão já mencionado. Estes ataques desmesurados  refletem uma visão autoritária e intolerante sobre o modo de vida de uma parcela significativa da população.

Busque excelência enquanto ser humano e deixem que os outros sejam aquilo que quiserem ser. Ser diferente não é feio! Feio é ser autoritário e pensar que Marcela Temer, ou qualquer outra, é obrigada a ser exatamente como você acha – registre-se: ACHA – que deve ser.

Existem comportamentos mais saudáveis e existem comportamentos mais nocivos. Contudo, seguir esse ou aquele comportamento é liberdade do indivíduo. Essa tirania da opinião massacra milhares de “manas” que se compreendem ou querem ser “belas, recatadas e de seus lares”.

Quem saiu ganhando mesmo foi a Revista Veja. Escreveu uma “isca” com três coisas que iriam provocar a fúria das feministas. Conseguiu cliques, referências e movimentaram a internet. Deve, inclusive, ter virado até “trending topics”. Deu certo!

Ser o que quiser ser é a regra e “bela, recatada e do lar” é uma opção e precisa ser respeitada.

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