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Por que a Esquerda apoia o Crime Organizado

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Muito se atribui ao PT, o caos na segurança pública, o que não deixa de ser verdade, mas a tradição de vitimizar criminosos (e usá-los politicamente) já vem de antes... No início dos anos 80, durante o primeiro mandato de Leonel Brizola campeava o discurso “Polícia Violenta VS. Morador Vítima” e com esta justificativa, a polícia foi proibida de entrar nas favelas.

O texto que se segue é um relato sobre a barbárie que cerca nossa sociedade. Cerca, não! Ela vem de dentro, melhor dizendo e nasce oriunda de dois fatores, a omissão e a má consciência sobre os problemas sociais que, dentre outros efeitos está nossa legislação leniente. E o aparente paradoxo disto tudo é que quanto maior a taxa de criminalidade, nossos legisladores fazem criar mais e mais leis sem se perguntarem porque o arcabouço institucional preexistente não dá conta do recado.

Leiam que não se arrependerão. Interessantíssimo também é o processo de descoberta da conexão entre a ideologia de esquerda e a criminalidade pelo autor que, a princípio discordava frontalmente desta tese.

Boa leitura,

V.D.

 

 

A Esquerda e o Crime Organizado

Por Geyson Santos

 

"A posteridade poderá saber, que não deixamos, pelo silêncio negligente, que as coisas se passassem como num sonho"

(Richard Hooker - alguém que não se calou)

Faz algum tempo, um de meus interlocutores disse algo que, tanto pareceu-me inverossímil como insólito: "a esquerda deste país é responsável pela escalada acachapante da criminalidade". De pronto, refutei a ideia, imaginando ser simplista demais; outros fatores deveriam ser analisados.

Pois bem, entretanto, tenho por princípio jamais descartar uma ideia, por mais estranha que seja, antes de gastar algum tempo a analisá-la. Assim, por algumas semanas fiquei às voltas com isso. Por que alguém com razoável instrução diria uma coisa destas? Parecia-me extremismo político.

Não me lembro ao certo como, mas ao pensar sobre o assunto, num "flash", vieram-me à mente as palavras "Ilha Grande". Então, lembrei de duas obras as quais havia "devorado" com muito entusiasmo, há muito tempo, e que nem lembrava mais: "Comando Vermelho - A História Secreta do Crime Organizado" e "CV PCC - A Irmandade do Crime", ambas escritos por Carlos Amorim, vencedor do Prêmio Jabuti com a primeira delas.

Nesse artigo gostaria de prosseguir o assunto que comecei em dezembro do ano passado, mas que faltava-me inspiração para continuar. Durante todos esses meses estive lendo e relendo, pensando e tentando chegar a conclusões sobre o tema.

Desde já, gostaria de expor minhas fontes. Partindo das fontes já elencadas acima, também li o mais importante livro escrito por um criminoso no Brasil: "Quatrocentos contra Um", no qual William da Silva Lima, mais conhecido como "o professor", conta como ele e seus pares fundaram a mais importante facção criminosa brasileira de todos os tempos, o Comando Vermelho. Essas foram minhas fontes primárias (cito-as, porquê, não arrogo-me o senhorio da verdade; cada um de vocês poderá lê-las e chegar às suas próprias conclusões). Como fontes secundárias, procurei reportagens, artigos e tudo que no Brasil tivesse sido escrito sobre o tema; não há muito escrito sobre assunto, contudo, ajudaram a reforçar as conclusões que eu mesmo havia chegado.

Como de regra, gostaria de propor minhas premissas, que serão baseadas nas palavras do supracitado jornalista e, do mais proeminente líder e, também fundador, do Comando Vermelho:

"O governo militar tentou despolitizar as ações armadas da esquerda tratando-as como 'simples banditismo comum', o que permitia também uma boa argumentação para enfrentar as pressões internacionais em prol da anistia e contra denúncias de tortura. Nivelando o militante e o bandido, o sistema cometeu um grave erro. O encontro dos integrantes das organizações revolucionárias com o criminoso comum rendeu um fruto perigoso: O Comando Vermelho. (Carlos Amorim - Comando Vermelho, a História Secreta do Crime Organizado);

"(...) Quando os presos políticos se beneficiaram da anistia que marcou o fim do Estado Novo, deixaram nas cadeias presos comuns politizados, questionadores das causas da delinquência e conhecedores dos ideais do socialismo. Essas pessoas, por sua vez, de alguma forma permaneceram estudando e passando suas informações adiante. Sua influência não foi desprezível. Na década de 1960 ainda se encontravam presos assim, que passavam de mão em mão, entre si, artigos e livros que falavam de revolução. (...) O entrosamento já era grande e 1968, batia às portas. Repercutiam fortemente na prisão os movimentos de massa contra a ditadura, e chegavam notícias da preparação da luta armada. Agora, Che Guevara e Regis Debray eram lidos. Não tardaram contatos com esses grupos guerrilheiros em vias de criação."(William da Silva Lima - Quatrocentos contra Um).

" (...) Nessa época, trinta presos políticos ainda estavam na Galeria LSN. Entre eles, alguns que seriam muito importantes no trabalho de conscientização. Padre Alípio é um dos mais importantes elos de ligação entre os militantes e a massa carcerária...

A respeito da experiência deste revolucionário na Ilha Grande, o repórter Aroldo Machado ouviu o preso Osvaldo da Silva Calil, o Vadinho, assaltante de banco. A entrevista foi publicada na edição de 22 de outubro de 1981 na revista Isto É. Um trecho é esclarecedor:

"- Fiquei com os marinheiros presos em 64. Depois, com os rapazes da ALN, MR-8, VAR-Palmares, Colina (Comando de Libertação Nacional), Juventude Operária e Universitária[ambos ligados aos setores radicalizados da Igreja]. No começo estranhei um pouco. Mas, com o passar dos anos, eles fizeram a minha cabeça, e cheguei até a ler a Bíblia."

Quando os presos políticos foram sendo transferidos ou libertados, a experiencia ficou. Vadinho conta mais:

- Os alunos passaram a professores. Convencemos os presos de que eles tinham que estudar e se organizar. Foi assim que tudo começou."(Comado Vermelho - A História Secreta do Crime Organizado)

"João Marcelo Araújo Júnior conta mais:

- Foi a partir dai que começou esse fenômeno, que mais tarde iria desembocar no Comando Vermelho. A Ilha Grande era um estabelecimento disciplinar uma prisão de castigo. Só tinha barra-pesada.

Os presos políticos levaram para lá sua organização, logo fortalecida com a chegada de outros condenados pela Lei de Segurança Nacional (...) O preso ideológico não se contenta com a prisão. Ao contrário, ele cresce. Na Ilha Grande, ocorreu um fenômeno ideológico por contaminação. Acabou gerando o Comando Vermelho, que perdeu a formação política original, nobre como movimento de libertação nacional, mas que absorveu a estrutura para se organizar como crime comum. Os bandidos adotaram o princípio da organização para verticalizar o poder dentro do grupo"(Comando Vermelho - A História Secreta do Crime Organizado).

Há muitas, muitas outras citações, mas o tempo e, o meio a que me fiei neste, não me permitem fazê-lo. Prossigo:

Neste ponto - depois de ler duas obras sobre o assunto, e estar a analisar a terceira já não me sobrava dúvidas de que o contato entre militantes da esquerda revolucionária e os presos comuns, no Presídio de Ilha Grande, mais conhecido como o" Caldeirão do Diabo ", havia criado um dos maiores vultos criminosos que nosso país já conheceu: o Comando Vermelho.

Ficou claro que os criminosos comuns, por meio de integrantes das esquerdas revolucionárias, tiveram acessos a livros, que foram contrabandeados para dentro dos presídios (naquela época proibidos pela ditadura militar); aprenderam além da ideologia da luta de classes, a organização do tipo guerrilheira revolucionária; técnicas da guerra de guerrilhas (que mais tarde utilizariam nos mais espetaculares assaltos a bancos da década de 80) e; os princípios que usariam para fundar e estruturar o Comando Vermelho.

Mas restava uma dúvida que me era premente ser resolvida: será que essa influência, profunda, que a esquerda exerceu sobre os criminosos comuns, não havia sido involuntária. Fruto de mera fatalidade induzida pelas circunstâncias.

Essa foi a parte mais árdua e, mais angustiante de minhas investigações e considerações. Por ser um pesquisador independente, movido pelo amor a verdade, não disponho de nenhuma forma de patrocínio; portanto, grandes são minhas limitações; não podendo ir a lugares entrevistar pessoas ou ter acesso a documentos que julgava necessários a elucidação desta, que me era, a mais inquietante questão a ser elucidada.

Passo a expor minhas razões, o porquê de minha angústia. O autor do livro" Comando Vermelho ", Carlos Amorim opina:

"Os revolucionários nunca pretenderam ensinar criminosos a fazer guerrilhas. Em mais de uma década de pesquisas, nunca encontrei o menor indício de que houvesse uma intenção - menos ainda uma estratégia - para envolver o crime na luta de classes"

Essa afirmação me fez parar, tinha de levá-la em consideração, uma vez que ela me pareceu extremamente contraditória, porque, se por um lado Carlos Amorim opinou desta maneira, tanto ele, como William da Silva, demonstram que os criminosos comuns foram ensinados (por nove anos) pela esquerda revolucionária com relação à luta de classes e, até mesmo, com relação à luta armada de guerrilhas. Isso me inquietou. Como é possível uma pessoa ensinar outra" sem que houvesse uma intenção ", ou até mesmo, sem que se previsse as consequências de seus ensinos.

Uso minha experiência universitária para demonstrar a contradição. Meus professores, ao lecionarem Direito, o fizeram deliberadamente e, sabiam quais as possíveis consequências que seus ensinamentos produziriam; ou seja, surgirem" operadores "do Direito como, por exemplo, advogados, juízes, promotores de justiça e etc. Assim como quando um pai ensina seu filho a ser honesto, ele o faz deliberadamente, aspirando que seu ensino surta efeito na vida de seu filho; que por sua vez, ao crescer, se torne um homem honesto.

Outro fator que deve ser notado é que, estavam ensinado guerrilhas para homens que tinham sido condenados pelos mais graves crimes; à época, o presídio de Ilha Grande era, como consideraríamos hoje, um presídio de" segurança máxima ", para onde eram enviados os mais perigosos criminosos de então. Não é a toa que ficou conhecido como" Caldeirão do Diabo. "

Assim, ao ensinar indivíduos da mais alta periculosidade a, por exemplo, fazer bombas, no mínimo que se pode admitir, é que seu" professor "assumiu o risco de produzir o resultado. No Direito chamamos isso de dolo eventual.

Mesmo que se possa argumentar que os revolucionários queriam transformar os presos comuns também em revolucionários; ainda sim, o risco que assumiram foi muitíssimo grande; risco de esses criminosos usarem do que aprenderam para, simplesmente, cometerem crimes ainda mais violentos. Foi o que deu.

Dessarte, ninguém coagiu os revolucionários a ensinarem o que ensinaram aos presos comuns. Então como era possível que Carlos Amorim falasse que, ao ensinarem o que ensinaram, os revolucionários esquerdistas não tivessem nenhuma intenção de envolver os presos comuns na luta armada. Carlos Amorim chega ao ponto de dizer que havia um" trabalho de conscientização ". Como é possível se fazer um trabalho de conscientização sem que se tenha a intenção de que a pessoa conscientizada mude sua maneira de pensar e agir, ou seja, de produzir um resultado na vida do conscientizado. Com certeza há uma contradição aqui. Digamos que se promova uma campanha de conscientização" lixo no lixo "; por óbvio, que tanto seus idealizadores, como seus agentes, tem a intenção que as pessoas atingidas pela campanha parem de jogar lixo em vias públicas e comecem a jogar lixo em lugares próprios para isso. Todo trabalho de conscientização tem uma intenção. Toda ação humana que não decorre do fortuito ou força maior é direcionada a um objetivo. Isso é o lógico. Então, como poderia não haver uma intenção. Perdi a conta de quantas vezes pensei nisso.

Teria de continuar minhas pesquisas para além da pessoa do autor desta obra fantástica.

Neste ponto, mais uma vez, e a contragosto, tive de" mergulhar "no pensamento revolucionário; procurando conhecer, por meio de livros de seus mais proeminentes ideólogos, o que eles pensavam sobre o banditismo. Encontrei algumas coisas interessantes. Outras, para meu desgosto, sinto que jamais saberei ou, pelo menos, vou demorar muito tempo até chegar à alguma conclusão.

Durante esse tempo que tenho estudado socialismo, percebi que, como forma de pensamento, ele não é estático e, muito menos, uniforme. Há como que um desenvolvimento (se é que essa palavra pode ser usada), uma amálgama, uma constante mudança, " mutatis mutandis ", um quê de camaleônico, a ponto de, por sua amplitude, se tornar quase que inabarcável. Nessa questão do banditismo vim a perceber que, mais uma vez, isso ocorria. Para Karl Marx, os criminosos (lupemproletariado) estavam descartados do processo revolucionário, caberia somente ao proletário a missão subversiva.

" O lumpemproletariado, esse produto passivo da putrefação das camadas mais baixas da velha sociedade pode, às vezes, ser arrastado ao movimento por uma revolução proletária; todavia, suas condições de vida o predispõem mais a vender-se à reação para servir às suas manobras. "(O Manifesto Comunista)

"Sob o pretexto de criar uma sociedade de beneficência, organizou-se o lumpemproletariado de Paris em seções secretas, cada uma delas dirigida por um agente bonapartista, ficando um general bonapartista na chefia de todas elas. Junto a roués [libertinos] arruinados, com duvidosos meios de vida e de duvidosa procedência, junto a descendentes degenerados e aventureiros da burguesia, vagabundos, licenciados de tropa, ex-presidiários, fugitivos da prisão, escroques, saltimbancos, delinquentes, batedores de carteira e pequenos ladrões, jogadores, alcaguetes, donos de bordéis, carregadores, escrevinhadores, tocadores de realejo, trapeiros, afiadores, caldeireiros, mendigos - em uma palavra, toda essa massa informe, difusa e errante que os franceses chamam la bohème: com esses elementos, tão afins a ele, formou Bonaparte a soleira da Sociedade 10 de dezembro. (18º Brumário)

A concepção que Marx tinha do Lumpemproletariado era bastante pejorativa. Suas esperanças recaíam completamente no proletariado industrial.

Contudo, para a decepção do ideal socialista, a história demonstrou que em uma estrutura capitalista a classe proletária (a qual consideravam ser de natureza revolucionária) dispunha de maior qualidade de vida e, acabava por se amoldar às essas estruturas econômicas, a ponto de não querer revolução alguma. Essas não são minhas conclusões, o economista Ludwig Von Mises demonstra isso brilhantemente, exposição esta que jamais foi refutada.

Isso também foi observado pelos próprios pensadores socialistas, a ponto, de sentirem-se obrigados a repensar sobre à quem, qual classe, estava dirigido o ideal revolucionário; procurando uma nova classe que satisfizesse seus ideais subversivos.

Nas palavras de Bakunin:

"Para mim, (…) a flor do proletariado não significa, como querem os marxistas, a camada superior, a mais civilizada e a mais confortavelmente estabelecida do mundo operário, essa camada de trabalhadores semiburgueses que é precisamente a classe da qual eles querem utilizar-se para constituir a sua quarta classe governamental, e que é realmente capaz de formar uma se as coisas não se endireitarem a serviço dos interesses da grande massa do proletariado; pois, com o seu relativo conforto e a sua posição semiburguesa, essa camada superior dos trabalhadores tem sido muito penetrada por todos os preconceitos políticos e sociais e por todas as estreitas aspirações e ambições da burguesia. Pode-se verdadeiramente dizer que essa camada é a menos socialista e a mais individualista de todo o proletariado."

Nesse ponto da pesquisa me deparei com Mikhail Bakunin e Herbert Marcuse, bem como a concepção que tinham, diferentemente de Marx, do lupemproletariado:

Por flor do proletariado eu entendo aquela eterna “carne” para os governos, aquela grande escória do povo comumente designada pelos senhores Marx e Engels pela expressão ao mesmo tempo pitoresca e pejorativa “Lumpenproletariat”, a canalha, a malta que, estando quase não poluída pela civilização burguesa, traz no seu coração, nas suas aspirações, em todas as necessidades e misérias da sua posição coletiva, todos os germes do Socialismo futuro, sendo apenas ela, atualmente, suficientemente forte para inaugurar e para fazer triunfar a Revolução Social. (BAKUNIN, 2010, sem números de página, grifos na versão em inglês)

“Só a partir da associação entre marginais e estudantes se chegará à revolução. Creia, meu bom amigo, sem a decisiva participação da ‘canaille’ não teria havido a queda da Bastilha nem a revolução de fevereiro de 1848, em Paris, com seus milhares de manifestantes incendiando as ruas, num quebra-quebra que terminou por forçar Luís Filipe à abdicação do trono”. (Carta de Mikhail Bakunin a Alexander Herzen - 1866).

Aqui vale citar Herbert Marcuse em seu "Homem Unidimensional", para o qual o lupemproletariado é, por natureza, a classe revolucionária. Devendo ser utilizada para tal fim.

Entenda a problemática: eu queria saber se houve, ou não, intenção por parte da esquerda revolucionária em envolver criminosos na luta armada. Pois bem, a opinião de Carlos Amorim era em sentido negativo, contudo contraditória. Fui à ideologia revolucionária que, a princípio, por meio de Marx, pareceu confirmar a tese de que os revolucionários não queriam incluir bandidos em sua luta de classes. Foi aí que as coisas começaram a mudar: primeiro por meio de Bakunin que demonstrou ser indispensável a participação destes como meio de enfraquecer o poder existente estabelecido; depois por meio de Marcuse que, pós-decepção com o proletariado, eleva o lumpemproletariado à verdadeira classe revolucionária. Até aqui, tudo me parecia equilibrado, podia ser que sim como, podia ser que não.

Foi então que o cenário começou a mudar... Aqui as coisas começam a ficar interessantes. Além de todo o dito acima, houve um ponto, que no decorrer de minha pesquisa, muito me chamou a atenção: na publicação do livro "Quatrocentos contra Um" encontrei a associação do nome de um certo Cesar Benjamin. Nas palavras de Carlos Amorin:

"(...) O livro de William da Silva Lima foi lançado no auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no dia 05 de abril de 1991, durante seminário sobre criminalidade dirigido pelo Instituto de Estudos de Religião, de orientação católica. O texto final foi copidescado por César Queiroz Benjamim, um ex-militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), que trabalhou sobre um original de mais de quatrocentas páginas."

Mas, quem era esse tal de César Queiroz Benjamim. Fui pesquisar: além de ter pertencido ao grupo revolucionário terrorista MR-8, foi, também, nada menos que um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, o PT, e integrante dos principais quadros do partido até 1995. Aqui me fiz a pergunta: por que um dos fundadores e líder do PT estaria diretamente envolvido na publicação e lançamento do livro do, até então, maior criminoso do Brasil, líder máximo do Comando Vermelho? Isso pareceu-me, no mínimo, estranho.

Será que havia mais indícios de uma ligação entre as esquerdas e organizações criminosas. Encontrei um reportagem publicada pela jornal Folha de São Paulo em 24/08/2003, sob a denominação "As Farcs Tem Todo o Tempo do Mundo". Nessa, o enviado especial da Folha, Fabiano Maisonnave, entrevista o falecido Raul Reyes, à época, segundo maior líder organização narcoterrorista, em algum lugar da Amazônia Colombiana. Veja o que ele diz, é impressionante:

"Folha de S. Paulo - Qual é a sua avaliação do governo Lula?

Reyes - Tenho muita esperança em que o governo Lula se transforme num governo que tire o povo brasileiro da crise. Lula é um homem que vem do povo, nos alegramos muito quando ele ganhou. As Farc enviaram uma carta de felicitações. Até agora não recebemos resposta.

Folha de S. Paulo - Vocês têm buscado contato com o governo Lula?

Reyes - Estamos tentando estabelecer - ou restabelecer - as mesmas relações que tínhamos antes, quando ele era apenas o candidato do PT à Presidência.

Folha de S. Paulo - O sr. Conheceu Lula?

Reyes - Sim, não me recordo exatamente em que ano, foi em San Salvador, em um dos Foros de São Paulo.

Folha de S. Paulo - Houve uma conversa?

Reyes - Sim, ficamos encarregados de presidir o encontro. Desde então, nos encontramos em locais diferentes e mantivemos contato até recentemente. Quando ele se tornou presidente, não pudemos mais falar com ele.

Folha de S. Paulo - Qual foi a última vez que o sr. Falou com ele?

Reyes - Não me lembro exatamente. Faz uns três anos" (Folha de São Paulo - 24/08/2003).

Aqui me permiti à dúvida: poderia ser que Reyes estivesse mentindo. O que me garantia que suas palavras fossem expressão da verdade; mas me lembrei de algo que eu mesmo já tinha escrito sobre um vídeo, onde o ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez, diz ter conhecido Raúl Reyes e o ex-presidente Luis Inácio da Silva na mesma ocasião, ou seja, no Foro de São Paulo, que ocorreu em San Salvador. As palavras de Hugo Chávez se coadunam exatamente com a entrevista que próprio líder narcoterrorista, Raúl Reyes, concedeu a Folha de São Paulo. Segue:

“Recebi o convite para assistir, em 1995, ao Foro de São Paulo, que se instalou naquele ano em San Salvador. (…) Naquela ocasião conheci Lula, entre outros. E chegou alguém ao meu posto na reunião, a uma mesa de trabalho onde estávamos em grupo conversando, e lembro que colocou sua mão aqui [no ombro esquerdo] e disse: ‘Cara, quero conversar com você.’ E eu lhe disse: ‘Quem é você?’ ‘Raúl Reyes, um dos comandantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.’ Nós nos reunimos nesta noite, em algum bairro humilde lá de El Salvador. (…) E então se abriu um canal de comunicação e ele veio aqui (…) e conversamos horas e horas. Depois, em uma terceira e última ocasião, passou por aqui também.” (Hugo Chávez - em rede nacional - lamentando a morte de Raúl Reyes).

Ao longo de minha vida já li muita coisa; apesar disso, nunca tive conhecimento de que o nome de um presidente, de uma grande democracia como o Brasil, tivesse sido diretamente associado a um narcoterrorista, pela própria pessoa do criminoso. Isso é estarrecedor! Na verdade, isso é uma tragédia diplomática.

Pior! O narcoterrorista alude a felicidade que a subida do ex-presidente brasileiro ao poder causou a sua organização criminosa. "Peraí, como assim?" Uma organização criminoso felicita a subida de Lula ao poder... Algum interesse há nisso! Nenhuma organização criminoso parabenizaria um presidente que soubessem traria dano aos seus negócios, como o do México que desferiu duros golpes ao tráfico de drogas e até hoje é "jurado de morte." Organizações criminosos só mandam felicitações a seus aliados. Daí só posso extrair uma conclusão lógica: "eles são aliados!"

O que mais impressiona e que, o ex-presidente Lula nunca desmentiu essas afirmações; uma feita pelo segundo maior líder da maior organização narcoguerrilheira da America Latina; e a outra, pasmem, feita por um presidente! Lula nunca contestou!

Aqui, infelizmente sou obrigado a usar de lugares-comuns: QUEM CALA CONSENTE!

Por que o ex-presidente nunca contestou? Porquê ele se recusa a reconhecer uma organização que sequestra, trafica, mata e tortura como criminosa. Para ele, são simplesmente revolucionários.

Não me admira que façam (o PT e as Farcs) parte de uma mesma organização internacional (o Foro de São Paulo), fundada pelo ex-presidente Luis Inácio e que, nas atas dessa organização, manifeste apoio incondicional as atividades das Farcs na América Latina como um verdadeira atividade esquerdista revolucionária... Só se as atividades esquerdistas revolucionárias se resumirem a assassinar, traficar, sequestrar e torturar...

De se notar, a entrevista coletiva dada pelo ex-presidente em 28/04/2009, publicada no Estadão sob o título "Lula sugere às Farc criar partido para chegar ao poder":

"Se, em um continente como o nosso, um índio e um metalúrgico podem chegar à Presidência, por que alguém das Farc, disputando eleições, não pode?", disse Lula em Rio Branco (AC), na entrevista coletiva após se reunir com o presidente peruano, Alan García.

O absurdo dessa afirmação é descomunal às raias da loucura!

"Trocando em miúdos": uma organização criminosa, a maior da América Latina, que trafica internacionalmente, mata, tortura, sequestra, escraviza, aterroriza, deve criar um partido político para chegar ao poder. Pensemos dentro dos paradigmas nacionais: O Primeiro Comando da Capital ou o Comando Vermelho, se levarmos em conta as afirmações de Lula, podem criar um partido político para disputar as eleições à presidência da República. Pensem em Marcos Camacho, o "Marcola" ou, talvez, Luiz Fernando, o "Fernandinho Beira-Mar" como presidentes do Brasil.

Isso é de uma absurdidade tamanha, que não posso, diante da pesquisa pretérita, atribui-la à ignorância. No Brasil chamamos isso de "rabo preso".

Nesse ponto de minha pesquisa as informações começaram a se avolumar, mas como o tempo e o espaço, a que me propus neste, não me permitem continuar, vou simplesmente citá-las de passagem: a revista VEJA, publicou uma reportagem em março de 2005, sob a denominação "Laços Explosivos: Documentos secretos guardados nos arquivos da ABIn informam que a narcoguerrilha colombiana Farc deu 5 milhões de dólares a candidatos petistas em 2002"; ou como o Governador Olívio Dutra, do PT, recebeu, no próprio Palácio do Governador, um membro das Farcs com todas as honrarias diplomáticas; mas infelizmente esses são assuntos para um outro artigo.

Começando o término deste artigo, quero utilizar as palavras de Ignazio Silone: "na verdade, as revoluções são como árvores, elas são conhecidas através de seus frutos."

Nas palavras de William da Silva Lima, líder máximo do Comando Vermelho, a previsão do resultado:

"Conseguimos aquilo que a guerrilha não conseguiu: o apoio da população carente. Vou aos morros e vejo crianças com disposição, fumando e vendendo baseado. Futuramente, elas serão três milhões de adolescentes, que matarão vocês nas esquinas. Já pensou o que serão três milhões de adolescentes e dez milhões de desempregados em armas?" (Quatrocentos contra Um)

Você acha que isso é a mera expressão de um delírio megalômano? No ano passado as pesquisas apontaram para os índices de violência brasileiros, um total de 56.337 mil homicídios por ano. Não há país no mundo, mesmo nos que se encontram no mais cruento conflito armado, que ostente tais números de violência. Pergunte aos servidores da Fundação Casa (antiga FEBEM) ou de outros centros socioeducativos estaduais para adolescentes em conflito com a lei, se o dito acima é mero delírio."Três milhões de adolescentes que matarão vocês!"

Ou talvez, devêssemos nos perguntar porque, enquanto, o consumo de drogas diminui em toda a América Latina, somente no Brasil ele está a crescer. Será que há alguma correlação? Será que tendo o ex-líder de nossa nação ligações intimas com a maior organização terrorista e narcoguerrilheira da América Latina isso pode facilitar as coisas, para esse organização, em nosso país? Não sei; isso está além de minhas parcas possibilidades. Digam vocês...

Não conheço Carlos Amorim e, não tenho a intenção de julgá-lo. Seria muita pretensão de minha parte, não tendo ele deixado nada escrito ou documentado sobre suas próprias razões (que o levaram a dizer que nunca encontrou nenhum indício de haver intenção de a esquerda revolucionária querer envolver criminosos comuns na luta classes), querer eu sondar as profundezas de seu coração - ou de qualquer coração humano. Contudo, dentre as explicações que poderia haver, uma coisa sei: os revolucionários da ditadura militar, na década de 90 eram, e mesmo hoje continuam a ser, pessoas que ascenderam ao poder; se tornaram políticos, chefes de redação, professores universitários, homens de muita influência; e, caso fosse o escritor deste livro, com certeza, eu temeria tê-los como inimigos.

Dessa forma, sendo repórter tarimbado em meio ao regime ditatorial militar, Carlos Amorim fez o que aprendeu a fazer durante aquela época; falou uma coisa, deixando que sua obra desse a entender outra; assim como os cantores Gilberto Gil, Caetano Veloso e outros deixaram registrados em suas músicas. Tudo me leva a crer que minhas conclusões sejam verdadeiras, tanto porque, sendo interpelado da mesma forma, na época da publicação de seu livro, segundo os mesmos questionamentos, Carlos Amorim nunca ofereceu contestação, simplesmente calou-se.

Por fim, encontrei o que considero a "cereja do bolo": em um livro intitulado "Camaradas - nos Arquivos Secretos de Moscou", o jornalista William Waack, demonstra como o regime comunista se imiscuiu intimamente na revolução de 1935. Dentre as intromissões, uma me chamou atenção: segundo Waack, em 1933 o Comintern transmitiu uma instrução ao Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro para que, este último, procurasse assumir a liderança de quadrilhas de bandidos, dando ares de "conflito de classes" ao seu conflito com a polícia, a sociedade e a lei. (pg. 55-56)

Realmente, a transmissão de conhecimento aos presos comuns durante a ditadura militar pode ter sido uma questão premeditada.

Apresento minhas conclusões: por tudo o que li e pesquisei, percebo que há uma profunda e perene ligação entre as esquerdas, sejam elas revolucionárias ou politico-partidárias, com o crime organizado. Não posso afirmar, como meu interlocutor, que elas sejam, somente e únicas responsáveis (se é que foi isso que ele quis dizer) pela escalada crescente da criminalidade no Brasil; posso dizer somente que as esquerdas, na pessoa de seus prisioneiros políticos, criaram um "monstro" chamado Comando Vermelho e que, até hoje, mantem relações com organizações criminosos.

Findo. Esses dias atrás, terminei de ler uma das obras de Georges Bernanos, fiquei maravilhado com a profundidade do autor. A profunda análise da natureza humana, da pessoa de um religioso, falou comigo. A cada linha, sentia que segredos de meu próprio coração e de minha vida eram desvelados. Bernanos realmente foi um grande intelectual francês, a seu modo, e a meu ver, incomparável. Posteriormente, vim a saber que ele tinha morado no Brasil durante alguns anos; gostaria de usar suas palavras, que expressam a percepção dele sobre a nação brasileira, para findar esse artigo:

"O Brasil é um país maravilhoso, mas infelizmente destinado a ser palco da mais sangrenta das revoluções".

Se ele está certo, não sei. Mas que conseguiu perceber a profunda mentalidade socialista que, já naquela época, permeava a sociedade brasileira, com certeza.

01/04/2015


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