No excelente texto abaixo, de autoria do empresário e descendente da família real brasileira, Luiz Philippe de Orleans e Bragança, a confusão que se seguiu por ocasião das eleições francesas é devidamente esclarecida. Não houve, como se sugeriu por alguns analistas brasileiros, uma clara divergência entre conservadores e progressistas, ou “direita” e “esquerda” na França, mas sim um fractal de posições antagônicas em diferentes temáticas que tornavam possível apoiar um e outro concomitantemente dependendo do ponto de vista adotado. E creiam, é muito mais complexo do que aparenta ser. Realmente difícil saber quem era o melhor, Marine Le Pen ou Emmanuel Macron. Ou talvez, o “menos pior”...
Enfim, melhor do que esta explanação é a própria leitura deste excelente e didático texto.
V.D.
Por Luiz Philippe de Orleans e Bragança
Renovação para alguns, continuação para outros: Para entender o que as eleições na França representam é necessário esclarecer algumas confusões. A primeira confusão é de associar Marine Le Pen como sendo "a renovação".
Do ponto de vista de política externa sim, isso procede. Marine Le Pen tem uma agenda anti-imigração que destoa do discurso político da União Europeia, dominada pelas políticas de porteiras abertas desde os anos 90. Nesse quesito Marine Le Pen seria uma renovação. Mas termina por aí. E é aí que começa a confusão.
Do ponto de vista de plano econômico, os planos de Marine Le Pen são mais para o agrado de socialistas e sindicalistas que para os liberais. Os planos de Le Pen tem viés dirigista, centralizadores e reguladores da economia. Uma faca no peito da livre iniciativa e pequenas e médias empresas e em linha com a atual política do socialista Hollande.
Do ponto de vista de carreira política, Le Pen também não simboliza a renovação. Ela é figura política com o mesmo discurso há mais década e tem alguns posicionamentos sobre a sociedade e moralidade mais em linha com a ala progressista.
O posicionamento de Macron também gera confusão. Por muitos é considerado a continuação da política externa do governo Hollande e da União Europeia. Macron não nega, mas declara que a União Europeia e a França têm de fazer mais contra a imigração desenfreada. Até aí nada de novo.
Portanto, sim, Macron pode ser considerado a continuação no quesito política externa. O que gera confusão sobre ele então? Do ponto de vista econômico, Macron é nitidamente liberal. Seu plano será uma renovação importante para a economia francesa que se encontra estagnada após décadas de políticas socialistas.
Do ponto de vista carreira política, Macron também é novidade. Apesar de ter trabalhado com o atual presidente socialista Hollande e de ser considerado um fruto do estamento burocrático francês, Macron é de fato novo no sistema eleitoral.
Seria Macron fruto do pânico da União Europeia em fazer surgir um candidato que somente simbolize "a renovação" sem que de fato a represente? Possível, mas isso foge do tema desse artigo.
Em resumo, sugiro a seguinte redução dos posicionamentos:
1- Le Pen segue um posicionamento nacionalista na política externa, socialista na economia e progressista na sociedade.
2- Macron segue um posicionamento globalista na política externa, liberal na economia e, arrisco a dizer que, também progressista em questões morais.
Como esses posicionamentos se comparam ao Trump dos EUA? Trump segue um posicionamento nacionalista na política externa, liberal na economia e conservador em questões morais. Essa combinação somente Francois Fillion, candidato excluído da corrida presidencial do partido conservador francês detinha.
Esclarecer esses posicionamentos se tornou contumaz hoje em dia quando a confusão e desinformação imperam. Por isso espero ter esclarecido e não causado mais confusão