Vejam este contundente relato de Gisleine Caron, sobre as recentes ações da prefeitura de São Paula na área conhecida como “Cracolândia” onde traficantes e usuários de drogas, principalmente o crack dominam. A autora é coordenadora de comunicação e assessora de imprensa na Secretaria da Habitação do Governo do Estado de São Paulo.
V.D.
Explicando a ação na Cracolândia
Por Gisleine Caron
Eu trabalhei lá, juntamente com o Amauri Pastorello, que era subprefeito da Sé na época e, eu, assessora de imprensa da Habitação, a pedido do prefeito Kassab, escrevendo e estabelecendo protocolos com o Dr. Luiz Alberto C. Oliveira - dr. Laco, em todas as frentes (o Prefeito Dória seguiu esses protocolos) para atuar com os dependentes químicos, traficantes, moradores/comércio.
Esses protocolos foram discutidos com várias frentes: judiciário, MP, secretarias municipais diversas como saúde, assistência social, trabalho, habitação, educação e até finanças, secretaria de governo e, inclusive, secretarias estaduais e especialistas de cada área: saúde, psiquiátrica, assistência social, locais de atendimento e encaminhamento dos dependentes etc, etc. E também de atendimento para seus familiares porque a droga destrói também a família do dependente em todos os níveis possíveis e, ainda, na reinserção social do dependente com a criação de repúblicas onde ele poderia morar depois do tratamento de desintoxicação que levava de 4 a 6 meses. Tudo pago pela prefeitura (valor mensal de cada leito - com tratamento completo, alimentação, psiquiatra, psicólogo etc - na época: 4 mil reais).
Traficantes: a PM, a Civil e a GCM fizeram um trabalho monumental de inteligência para identificar os traficantes e prende-los no flagrante sem direito a fiança. Não se enganem. Aquela ação lá na Cracolândia foi a conclusão de um imenso trabalho das forças policiais.
Locais demolidos: desde aquela época (2007/08 e 09) a Secretaria de Habitação identificou e fez desapropriações de imóveis que eram usados para o aluguel de tráfico e consumo de drogas. A situação precária daqueles imóveis só permite sua demolição e mais nada. A demolição é necessária porque você tem de eliminar o local do tráfico e onde o dependente se abriga para exercer sua dependência.
O tráfico e o consumo de drogas estão diretamente relacionados com o local/território onde são feitos. Para eliminá-los é preciso acabar com seu território.
A recuperação da região: foi estabelecido na época que no centro antigo, Luz e adjacências seria investido em criação de escolas de música, dança, artes em geral - como um Lincon Center -, universidades e repúblicas para estudantes, além de se concentrar toda a prefeitura ali no centro. Projeto lindo demais! Não prosperou. Só as drogas e o tráfico.
A atuação da polícia é essa mesmo: quando a PM entra num território, os bandidos correm - e os usuários de drogas também, claro -, tem bomba de gás lacrimogêneo etc. Ali, a Saúde e SMADS entraram antes, cadastraram os usuários etc. Aliás, atuam ali sempre. Correr da polícia não significa desrespeito com o dependente.
A mulher que apareceu chorando dizendo que "tiraram o negócio dela" (jura querida? Devia ir presa f**) era invasora de prédio já desocupado anteriormente e alugava os quartos para usuários e traficantes.
A parede demolida e que caiu em cima de três pessoas havia sido construída irregularmente para criar um local escondido para que o estacionamento (de onde partiu a demolição) permitisse o consumo de drogas. O responsável pelo local foi perguntado várias vezes se havia pessoas ali e respondeu que não. Apenas quando começou a demolição ele falou que tinha pessoas ali porque ficou com medo, já que estava sendo filmado e era o próprio secretário de obras que estava acompanhando a ação. Ou seja, uma ação cercada de todos os cuidados e atenção porque muito tensa e perigosa mesmo.
Esse tipo de ação não se comunica antes ao traficante que você vai fazer, né? Me parece óbvio.
Novas Cracolândias: quem as crias são os traficantes, não a polícia nem a ação da Prefeitura. O bandido identifica outros locais onde não há a atuação do Poder Público e muda para lá fornecendo droga para os dependentes, criando novo círculo de crimes e vícios. Essas mini-cracolândias (como estão chamando) favorecem a atuação da polícia e das assistências sociais.
O ruim e inaceitável disso tudo é tratar um problema tão sério e complexo com um viés político e ideológico que não existe.
Essa é uma ação do Poder Público, não importa sua cor política. E eu rechaço com todas as minhas forças quem critica (seja de esquerda ou de direita) porque eu trabalhei lá naquela época. Acompanhei a abordagem de SMADS, conheci a fundo a realidade daquilo ali. Aquilo é um horror! A degradação mais completa e absoluta que se pode haver do ser humano. Se existe um inferno nesse plano de vida ou em outro é aquilo ali.
Até os profissionais de saúde e assistência social que trabalham lá passam por tratamento psicológico depois para "desintoxicar" daquela situação. Eu mesma fiquei profundamente traumatizada com aquilo.