Cresci em um mundo que o que se chamava Ensino Público incluía pagar pelo próprio uniforme. As escolas não eram exatamente o padrão das escolas militares de hoje em dia, onde até a continência é obrigatória, mas havia um conjunto mínimo de regras e isto é o que me chama atenção. Já, hoje em dia, há um grande número de regramentos, de procedimentos necessários, de normas a serem seguidas, mas não há um conjunto mínimo de regras de conduta necessário para se conviver minimamente bem com os demais colegas, professores e consigo próprio.
Isto não é diferente do mundo do trabalho, no qual jovens sequer podem começar porque lhes impõem a pecha de serem ‘explorados’. Daí a alternativa é criar um programa – como o do Menor Aprendiz – que não passa de uma adaptação, já que há um bloqueio ao caminho formal dos menores de idade ao mercado de trabalho sob a desculpa de que não podem ser ‘explorados’. Ou seja, nossa lei hipocritamente subentende que trabalhar é “ser explorado”.
Aqueles com menos de 18 anos são protegidos por uma Constituição Federal que, na verdade, os mima. A proliferação de direitos em detrimento de deveres fez o que a nossa sociedade? Criou uma falsa impressão de que podemos prescindir da economia, que esta não tem leis reais e não lida com recursos escassos. É como se a demonização do capitalismo fosse uma demonização da ambição humana. E nisto tudo perdemos a noção de civilidade, pois já não mais sabemos o que é ser civil.
Não é a toa que as escolas militares crescem no país, pois elas propõem um caminho, um método educacional, ao passo que nós ficamos presos e cegos em uma névoa de direitos em que não há lugar para deveres, obrigações, produção e emprego.
O Brasil mudou muito rápido, há décadas atrás havia assistência aos mais pobres, mas como as relações eram diretas entre instituições de caridade, igrejas, pessoa-pessoa não era fácil enganar e ficar na eterna dependência que hoje vemos. Uma sociedade que vê em bolsas de auxílio como o Bolsa-Família programas permanentes, quase um modelo de vida não há salvação individual porque a própria noção de indivíduo que luta, que produz e que evolui se tornou um contrassenso. Nesta visão estatista da esquerda, a sociedade é dividida em grandes grupos – que alguns resumem em classes sociais – nos quais uns devem aos primeiros por uma espécie de divida histórica e social esquecendo-se que esta história deve ser continuamente refeita e que a sociedade evolui. Na verdade, a noção deles é que somos estagnados e assim permaneceremos graças à transferência compulsória de recursos.
Trabalhar é se inserir no mercado e este é o pecado capital para as esquerdas, estar no mercado. Se fosse outro trabalho sem remuneração, ou com ganhos decididos por uma comissão, alguma ONG, renda definida por votação, como se faz em câmaras de deputados etc. não seria algo maldito para as esquerdas, por quê? Porque não é meritocrático. Entenda que atribuir renda por mérito significa valorizar o que todo pensamento de esquerda, essencialmente coletivista tenta negar: o indivíduo. Este é o ponto. Por isto, o melhor programa social é o trabalho que prova que o social, a sociedade não existiria sem o esforço próprio, o esforço e luta de indivíduos. É nele, neste rei que reside a fonte de toda criação humana porque só os indivíduos, só nós temos uma coisa que nunca nos será tirada: a vontade.