Artigo publicado na Gazeta do Povo de Curitiba, seção Opinião, coluna Flavio Quintela, em 24 de março de 2016.
No Brasil de hoje, cada alvorada é o prenúncio de algum novo escândalo do governo. Um novo indiciamento aqui, uma nova prisão ali, e vai ficando cada vez mais difícil encontrar alguém ligado ao PT que não esteja envolvido em algum tipo de crime. São dias terríveis para os militantes petistas e para os defensores do partido; se já era difícil justificar sua ideologia retrógrada e tacanha numa situação mais “normal”, diante de tantas quebras de recordes de corrupção a única opção tem sido abrir mão de todo raciocínio lógico e passar a acreditar em mentiras que confortam o coração e permitem uma noite de sono sem culpa.
Para momentos desesperadores, medidas desesperadas. Vale até abrir mão do relativismo moral, um conceito odioso que fundamenta muitos dos absurdos defendidos pela esquerda moderna, para tentar minimizar os crimes do governo atual. O discurso que tem sido usado nas redes sociais por aqueles que ainda insistem em ficar ao lado do PT é o de que ninguém tem moral para condenar os petistas, porque todos são desonestos. É mais ou menos assim: se você colou numa prova na quinta série, é tão corrupto quanto o ex-presidente que recebeu milhões de dólares em esquemas criminosos com empreiteiras; se furou a fila do cinema, é tão desprezível quanto a presidente que demorou mais de uma semana para visitar as vítimas de Mariana, mas que correu para estar com um criminoso.
Assim, aqueles que sempre disseram que “não existe o certo e o errado” e que “a moral é relativa e cada um tem a sua” repentinamente apelam para a mais absoluta das morais, e invocam um ensinamento bíblico, o de que todos pecaram e não há um justo sequer neste mundo. É claro que este comportamento é seletivo, pois em qualquer outra situação em que os crimes dessa patota não estivessem expostos e escancarados ao público seus defensores voltariam a exaltar suas “virtudes” e a condenar os seus opositores. Mas, como a coisa ficou feia e já não há mais como esconder a sujeira debaixo do tapete, melhor mesmo é dizer que todo mundo é farinha do mesmo saco.
Ocorre que nosso sistema de leis é baseado na proporcionalidade dos atos. É fato que todos cometemos erros e deslizes, mas também é fato que a grande maioria das pessoas não sai por aí cometendo assassinatos, roubos a bancos, estupros ou chacinas, e muito menos assaltando os cofres públicos e montando esquemas bilionários de corrupção e compra de parlamentares. É por isso que as penalidades variam de crime para crime, e o menino que colou na prova não vai parar na cadeia junto com o sujeito que matou o amante da esposa. As consequências devem necessariamente ser proporcionais à gravidade dos atos. Esta é uma lei natural.
Apesar desta nova modalidade em voga atualmente, rebaixar todas as pessoas a um mesmo patamar é algo da essência de toda doutrina de esquerda. O socialismo e o comunismo são basicamente isso: a igualdade do pior. A igualdade da pobreza, da mediocridade e da ignorância sempre pautaram a realidade material de todos os regimes de esquerda. Transportar essa igualdade para o domínio moral é, portanto, apenas um detalhe para o pensamento predominante no partido governista e em seus apoiadores. Assim, não é de espantar que esse tipo de discurso tenha surgido agora, diante de uma situação não explicável através da realidade e da verdade. A mentira é como uma bola de neve, que nunca se perpetua sem aumentar de tamanho.
Quando cada um de nós, cidadãos de bem, comete um pequeno erro como passar um sinal vermelho, colar numa prova, aceitar um troco errado ou sonegar um imposto, a consequência vem na forma de uma abordagem policial, uma reprimenda da diretora, uma consciência pesada ou uma multa. As penalidades ajudam a reprimir atos falhos futuros e a construir nosso caráter. Quando Dilma, Lula e seus companheiros assaltam o país, vencem eleições com o uso de dinheiro ilícito e cometem toda sorte de crimes, não se espera outra consequência que… (clique aqui para acessar o restante do artigo na página do jornal).
Flavio Quintela é escritor, jornalista e tradutor. É autor dos livros “Mentiram (e muito) para mim” e “Mentiram para mim sobre o desarmamento”.