Não, as feministas atuais não respondem por todas as mulheres. Não mesmo...
Por Cris Corrêa
31/03/2017
Uma pessoa que abraça o feminismo como verdade absoluta é incapaz de entender que não é preciso ser feminista para ser a favor de justiça, é como se só o feminismo fosse contra a violência doméstica por exemplo, quando na verdade, QUALQUER SER HUMANO com o mínimo de sanidade é completamente contra qualquer tipo de violência, principalmente se as vítimas forem mulheres ou crianças.
Quando alguém abraça um conjunto de idéias e dá a ele status de absoluto, está assumindo que se trata de um princípio último, ou seja, se tudo começa e termina com a narrativa feminista, então, o feminismo é uma verdade absoluta. Levando em conta que há inúmeros pontos questionáveis dentro da narrativa feminista, a conclusão é de que sem fé é impossível aceitar o feminismo como verdade absoluta, isso identifica que aqueles que aceitam o conceito feminista como absoluto e não conseguem ler a realidade sem ser pela narrativa do movimento, fazem dele sua religião.
Para entender melhor como o conceito de verdade absoluta atua na cabeça das feministas, basta observar como elas discutem os problemas da humanidade. Quando alguém livre do pensamento feminista fala sobre a violência doméstica por exemplo, aborda o quadro geral, não apenas a problemática de gênero, já as feministas não conseguem discutir violência doméstica sem ser do ponto de vista feminino, mesmo que estatisticamente homens e mulheres apareçam como vítima e agressor praticamente na mesma proporção. Isso ocorre porque na concepção de uma pessoa que acredita na narrativa feminista como princípio último, é impossível existir uma realidade diferente daquela defendida no discurso do movimento, ou seja, só há uma verdade e ela é pregada pelo movimento feminista, portanto, só o feminismo tem a solução para os problemas da humanidade. Sem ele, as mulheres do planeta não têm salvação: Mulher = vítima | Homem = opressor | Feminismo = salvação.
Há um conceito chamado ”viés da confirmação”, é o método de ver o mundo como um filtro. É um bloqueio mental ao qual todos estamos sujeitos, nosso cérebro busca o tempo todo informações que confirmem nossas crenças. No livro ”Você Não é Tão Esperto Quanto Pensa”, o autor chama atenção para algo primordial nesse sentido. Ele diz que ‘‘na ciência, você se aproxima mais da verdade ao procurar evidências contrárias. O mesmo método talvez devesse ser usado também para formar suas opiniões”. — No Brasil e em boa parte do ocidente, a ideologia feminista domina as universidades, consequentemente as pesquisas que ganham mídia e atingem as massas são esmagadoramente voltadas a reforçar essa ideologia. A população em geral é direcionada para consumir informações filtradas, o que acaba distanciando a atenção do cidadão da própria realidade, criando assim, crenças com perspectiva feminista sem fundamento verdadeiro. Porém, quando você lê a realidade desprovido da ideologia feminista, aquela que diz que tudo se resume a uma questão de gênero, você passa a levar em conta que existem outros fatores que propiciam um ambiente violento nos lares, como alcoolismo, infidelidade, problemas psíquicos, personalidade, desequilíbrio familiar, etc. Para discutir soluções efetivas é preciso trabalhar com a realidade, não com as suposições.
Enquanto as feministas insistem apenas em falar sobre gênero e potencializar as vítimas mulheres, por exemplo, há especialista que se preocupam em identificar os reais problemas. Em 2010 uma série de estudos denominados de “Mapa da Violência”, publicada pelo Instituto Sangari, com apoio do Ministério da Saúde e do Ministério da Justiça, revela em pesquisa o número de homicídios oriundos de violência doméstica cometidos aqui no país, foram no total 8.770 mortes no ano, sendo 1.836 mulheres e 6.934 homens assassinados. Um homem a cada 1 h 15 minutos morre vítima de violência doméstica no Brasil, enquanto morre uma mulher a cada 4 h 46 min, pelo mesmo motivo. Em relação ao total de homicídios causados por violência doméstica, estima-se que são 79,1% de homens e 20,9% de mulheres mortos. Um estudo realizado por Fernanda Bhona, na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) em Minas Gerais (2013), apontou que homens são os que mais sofrem violência doméstica praticada por suas parcerias. Com um total de 480 participantes, a pesquisa apontou que 77% de um grupo de 292 mulheres com relação conjugal afirmam ter xingado, humilhado ou intimidado o parceiro. A agressão física do companheiro – tapas, socos ou chutes – foi assumida por 24% das mulheres. E, segundo as próprias mulheres, apenas 20% dos parceiros cometeram o mesmo tipo de agressão contra elas. Há dez anos, outra pesquisa realizada em 16 capitais brasileiras apresentou resultados semelhantes a essa pesquisa. O nível de agressão psicológica entre os casais ficou em 78,3% e o de abuso físico, 21,5%, apresentando um cenário contrário ao que se atribui normalmente ao homem, o de agressor. — Ou seja, a violência doméstica não se trata de uma questão de gênero e, se o objetivo é trazer soluções, a discussão deve ser feita honestamente levando em conta as reais causas.
Em quase todos os países do mundo a maioria dos órgãos sérios, científicos e realmente comprometidos com a violência doméstica, trazem evidências de que mulheres agridem tanto quanto, ou mais do que, os homens. Vários estudos pelo mundo ratificam isso. A extensa e renomada bibliografia compilada por Martin S. Fiebert, do Departamento de Psicologia da Universidade Estadual da Califórnia aponta em resumo o seguinte:
Esta bibliografia examina 286 investigações acadêmicas: 221 estudos empíricos e 65 resenhas e/ou análises, que demonstram que as mulheres são tão fisicamente agressivas ou mais agressivas do que os homens em suas relações com os seus cônjuges ou parceiros do sexo masculino. A dimensão da amostra global nos estudos criticamente analisados ultrapassa os 371.600.
Erin Pizzey, é uma importante voz no assunto, ela teve que se exilar nos EUA devido seus estudos que apontaram para essa realidade que difere da narrativa feminista. A humanista foi ameaçada de morte, sua família recebeu bombas pelo correio, seu cachorro foi morto pelo movimento feminista na Inglaterra, tudo porque seus estudos afirmam que no contexto da violência doméstica tanto homens como mulheres são igualmente propensos a violência e a solução para a diminuição desse tipo de conflito está em uma leitura honesta da realidade dos lares, onde homens são agressores e agredidos igualmente como mulheres. Essa mesma afirmação também foi feita aqui no Brasil pela psicologa Simone Alvim, mestranda, autora do livro “Homens, Mulheres e Violência”, porém, também ignorada por coletivos feministas.
O fato das feministas controlarem a discussão na mídia e usarem a violência doméstica como trunfo político, não muda o fato de que para o movimento feminista potencializar a mulher como vítima não está relacionado a resolver problemas, mas, a usá-la como força de militância. Na prática, não existe uma luta feminista por justiça e muito menos por igualdade, o discurso que destaca a mulher como única vítima, serve apenas para exaltar as bandeiras ideológicas da política das esquerdas, que estão em contraste com a própria realidade. Bandeiras essas que não correspondem com o posicionamento de todas as mulheres, pois, nem todas as mulheres defendem aborto como direito, nem entendem ”liberação sexual” como carta de alforria, ou mesmo acreditam que existe um complô dos machos contra elas. No fim, ao falar sobre violência doméstica, o movimento busca mesmo é legitimar suas causas, não encontrar soluções para as vítimas, que existem sim, mulheres, homens e também crianças que geralmente sofrem com violência sexual dentro de seus lares (sobre como as feministas fazem vistas grossas para crimes de pedofilia cometidos por mulheres, eu recomendo o depoimento de Michelle Elliott, que fez um estudo sério sobre isso e teve seu livro e pesquisa atacados duramente por coletivos feministas). — Portanto, não preciso ser feminista para fingir que sou a favor de justiça, basta eu ser honesta e realista para defender verdadeiramente o que é correto e justo para todos, afinal, é isso que significa lutar por igualdade.|
*|É certo que não é preciso ser cristã para ser antifeminista, basta ler a realidade desprovida da narrativa do movimento e se engajar politicamente nisso, mas, também é certo que o fato da mulher ser cristã não significa que ela não esteja bem consciente do que são as falácias e incoerências do feminismo, pois, sua fé em Cristo não a impede em nada de se aprofundar em questões que lhes são apresentadas como verdades alternativas, pelo contrário, justamente por nutrir a fé firmada Nele, é que a mulher cristã se vê ainda mais motivada a encarar de frente a lorota feminista.
No imaginário comum impera o preconceito em relação aos cristãos, principalmente entre os jovens não cristãos, há uma falsa idéia de que os cristãos não estudam, ou não pensam direito sobre nada que não seja a própria fé, porém, uma das características do ”homem espiritual” é julgar bem todas as coisas (I Corintios 2:15), tanto as questões da própria fé, como as questões que os cercam no cotidiano. Os cristãos de Beréia (Atos 17:11) eram conhecidos por examinarem a fundo tudo o que lhes era ensinado, o Apostolo Paulo aconselha os tessalonicenses a examinar também as profecias (I Tessalonicenses 5:1), colocando-as a prova. A Reforma Protestante reafirmou o caráter investigador do cristão, e isso desenvolve uma motivação quase que instintiva de investigar a fundo tudo o que lhe é apresentado, é por isso que o cristão não encontra barreiras no contraditório, e se dedica a investigar a fundo tudo o que o cerca, o conceito de ”viés da confirmação” não faz parte do pensamento cristão. Ler a realidade sem filtros é essencial para o exercício de fé e aprendizado daqueles que compreendem que Deus se revela também na Natureza e, acreditam que para encontrar soluções é preciso entender os problemas.
Não devemos ter como lema “Seja boa, doce menina, e deixe a inteligencia para quem a possui”, mas sim, “Seja boa, doce menina, e não se esqueça de ser o mais inteligente que puder”. Deus não detesta menos os intelectualmente preguiçosos do que qualquer outro tipo de preguiçoso. Se você está pensando em se tornar cristão, eu lhe aviso que você esta embarcando em algo que vai ocupar toda a sua pessoa, inclusive seu cérebro. – C.S. Lewis: Cristianismo Puro e Simples
Rachel Sheherazade recebeu o Troféu Imprensa de Sílvio Santos, no último domingo, dia 9 ao que teria sido repreendida quando este disse tê-la contratada por sua beleza, para passar as notícias e não para dar opinião. Claro que visto desta forma, o assédio moral parece flagrante, mas as peças não se encaixam. Vejamos:
Em primeiro lugar, para ter mais efetividade na sua ordem, a chamada teria que ser em privado, pois ali em público não angariaria muito sucesso ao criar uma oposição mais cristalizada pela apresentadora – se ela ceder futuramente, seu maior capital que é a posição moral ficaria seriamente abalada.
Em segundo, que se critique Sílvio Santos pelo que quiserem, mas uma coisa ele não é: burro. Se Rachel lhe traz uma enorme audiência (e traz), ele não a dispensaria, ainda mais desta forma alguém que, com absoluta certeza, será assediada por vários canais de comunicação para ser contratada.
Outro dado importante que não devemos esquecer, até a entrega do prêmio em questão é um show a parte. E nele, os passos e falas não são gratuitos. Isto quer dizer que Sílvio utilizou Rachel para sinalizar para alguém (quem é a questão), mas não pretende efetivar sua suposta ameaça (porque nem sequer houve), mas sim mera reclamação, totalmente fake a meu ver.
Lembram-se no final do mês passado, quando o Estadão publicou uma matéria chamada “A ‘máquina’ barulhenta da direita na internet”? Pois bem, quem figurava entre os primeiros colocados com mais seguidores dentre os apresentadores? Se pensou em Danilo Gentili e Rachel Sheherazade, ambos com 14,9 milhões e 2,4 milhões de seguidores, respectivamente, acertou em cheio. E não por acaso, os dois foram citados por Sílvio Santos quando entregou o prêmio à Sheherazade. Alguém ainda crê na bobagem de que o proprietário do SBT esteja pensando em demitir os dois bem sucedidos polêmicos funcionários da rede de TV que são bem sucedidos justamente graças à polêmica por um preciosismo político? Seria muita ingenuidade e mais ingênuo ainda pensar que o esperto empresário não veja nos dois, capital a se defender e incentivar a serem o que são, polêmicos.
Veja os gráficos abaixo:
O que aconteceu foi simples, alguém leu a matéria e se apavorou com os dados revelados, milhões de seguidores. Obviamente não deve ter gostado e reclamou com Sílvio Santos. Este empresário matuto há décadas nos círculos do poder não bateu de frente, mas fez o que chamamos de “média”. Como eu disse de burro, ele não tem absolutamente nada.
As feministas, por sua vez, se dividiram entre as que viram aí prova de “machismo” e as que gozaram o fato da apresentadora ter sua atenção chamada (sem falar nos operadores do direito que viram “assédio moral”). Mas, às que não apoiaram Sheherazade e, inclusive, terem-na criticado e torcido por sua demissão, nada me surpreende. Afinal, as novas feministas não estão preocupadas com a mulher enquanto indivíduo, mas apenas em utilizá-las como massa de manobra para suas causas, muitas das quais totalmente alheias desde que haja uma clara dicotomia que substitua a luta de classes, tal como a luta das mulheres (contra os homens), a luta das exploradas (contra os exploradores) e assim vai. Choveram declarações como estas em blogs feministas:
Ou seriam salivas com veneno?
A luta verdadeira é uma luta pela liberdade
O foco da luta feminista tem que retroceder a sua origem pura. Por mais que as mulheres avancem (e eu desejo que elas sempre tenham mais espaço e conquistem o que têm competência para conquistar), eu não gosto de movimentos que levam um grupo a pensar de uma mesma forma (e isto se inclui até para o liberalismo). Aliás, o que eu gosto na ideia de liberdade é de estarmos num mesmo ambiente com gente que pensa diferente desde que, claro, não haja entre nós aqueles que sejam adeptos de ideologias que incentivem autoritarismos (comunismo, nazismo, jihadismo etc.). Agora, as primeiras feministas queriam (e mereciam) direitos civis como os homens tinham (voto, trabalho fora de casa, estudo etc.). Várias mulheres sofreram muito por causa disto, com a proibição de trabalhar fora e vidas profissionais atoradas no nascedouro por suas próprias mães, que endossavam a visão de suas épocas e sociedades. Note aí que o “machismo” em questão partia, muitas vezes, de uma própria mulher que aceitavam (porque acreditavam) no papel secundário da mulher. E é esta questão que confunde muito as pessoas... Não se trata de uma luta de mulheres contra homens (assim como não seria noutro caso de negros contra brancos, homossexuais contra heterossexuais etc.), mas de quem é oprimido, quem tem sua liberdade tolhida contra quem a lhe tira. Este é o ponto. Por isso, quando defendemos a mulher, não é o sexo, não é o gênero, não é um coletivo, mas pessoas que por qualquer razão tem sua liberdade inviabilizada. Daí me pergunto, não seria certo defender a Liberdade? Um movimento que apontasse toda e qualquer forma de opressão e supressão de direitos civis, da liberdade de ir e vir e deixasse esta sanha coletivista para os coletivistas? Pergunto porque quando defendemos esta liberdade de produzir, de competir não estamos vendo, aliás não estamos nem aí se o indivíduo tem determinado sexo, cor, orientação sexual ou religiosa, mas simplesmente se ele, ela, seja o que for, é competente. Só isto que nos importa. Sei que para muitas mulheres isto parece uma boa desculpa de um velho machista que não quer fazer nada, mas não é o que vejo... O que vi como professor há 25 anos é que no final do Ensino Médio predominam as mulheres, em cursos superiores outrora dominados por homens, elas conquistam cada vez mais espaços. Vejo-as em cargos de policiamento e como lutadoras em esportes com os quais eu não tenho nenhuma afinidade (porque não tenho um milésimo da competência destas). Sinceramente, o que as fez chegar onde chegaram? Um movimento coletivista ou sua liberdade para mostrar o que são? O que são? Competentes.
Ajuste o foco na defesa de quem precisa
Acho que já disse tudo, mas não, não disse... Há vários lugares do mundo onde elas não têm este espaço, não têm como se manifestar e são brutalmente violentadas, agredidas e tratadas como animais. Aliás, até animais em boa parte do mundo recebem melhor tratamento. Acho que vocês já sabem de quem falo... Lugares onde são estupradas coletivamente e punidas com chibatadas porque saíram desacompanhadas de um parente do sexo masculino, países em que centenas de mulheres – eu disse centenas – são desfiguradas com ácido anualmente por serem acusadas de namorar e “desonrar” suas famílias, onde suas vulvas são costuradas e cada laço é desatado com o passar dos anos até que estejam prontas para casar, onde meninas são agarradas por mães, tias e avós para terem seus hímens cortados com lâminas de barbear, onde são apedrejadas (na cabeça que fica de fora do buraco onde são enterradas) após serem acusadas de infidelidade e terem que provar o contrário (lá não é o acusador que tem que provar) e uma lista maior ainda de insanidades. ISTO é que me tira do sério e se quiserem que eu marche com mulheres, gays, aborígines, eu marcho, mas para acabar com esta opressão. Isto é que me dá nojo e contra isto não vejo nenhum movimento. Triste.
É por isso que a coragem de Rachel Sheherazade e o que ela representa diz muito a nós, muito mais do que se submetesse aos ditames de um movimento feminista. Ela sozinha consegue ir além de toda pregação ideológica, pois sua luta se concretiza com o que nos inspira.
As primeiras manifestações feministas no século XX foram justas e atingiram seu objetivo, que é o de igualar homens e mulheres em seus direitos, mas atualmente, as feministas sabem armar manifestações em países onde a lei as protege, mas são inócuas contra homens que esquartejam dissidentes e matam quem difamar o nome de seu profeta.
Por Flavio Quintela
colunagp@flavioquintela.com
[09/02/2017]
O ser humano tem uma capacidade ímpar de exagerar a dose de seus remédios – na ânsia de consertar o que acredita estar errado, acaba criando uma situação igualmente ruim em termos quantitativos, mudando apenas a qualidade do problema. De uma perspectiva histórica, as aplicações exageradas de tais remédios assemelham-se a um movimento pendular: parte-se de uma situação inicial, com o pêndulo em sua posição mais alta de um dos lados; o pêndulo começa a perder altura e a ganhar energia cinética, acelerando para a posição mais baixa; ao passar pelo ponto mais baixo, que seria o de equilíbrio, o pêndulo está com tanta velocidade que não consegue parar; finalmente, ele termina o movimento no lado oposto, quase na mesma altura de onde iniciou.
O feminismo é um exemplo claro da ocorrência de um pêndulo histórico. Quando o movimento teve início, as pautas eram genuínas e as reivindicações eram justas e necessárias. As mulheres queriam respeito e direitos equivalentes aos dos homens, e assim o pêndulo começou a descer. Na virada do século, já não havia praticamente nenhuma restrição de liberdades ou direitos que se aplicasse às mulheres na maioria das nações ocidentais democráticas. O pêndulo chegara ao ponto mais baixo, o ponto de equilíbrio. Coloque-se um pêndulo estaticamente nesse ponto, e ele não se moverá para nenhum lado sem a aplicação de uma força externa. Não foi o caso, no entanto. O feminismo não só vinha com uma energia prévia, como também recebeu impulso adicional de uma situação política até então inédita: governos de esquerda espalhados pela grande maioria dessas mesmas nações onde o feminismo já havia atingido seus objetivos. O pêndulo passou reto e voltou a subir, e nessa subida ele trouxe ao mundo o feminismo radical.
O feminismo radical não é apenas o contrário do machismo radical (se é que isso existe). O feminismo radical é a elevação do machismo à décima potência. Se os machistas queriam suas mulheres “com a barriga no fogão”, as feministas radicais querem todos os homens sete palmos abaixo da superfície. O mundo que elas idealizam é um mundo sem homens, onde a ciência tenha resolvido a questão da reprodução e elas possam viver livres para sempre da opressão dos terríveis e maldosos machos de sua espécie. Ao leitor que nunca se aprofundou no assunto, pode parecer que estou contando uma piada ou que estou citando um trecho de alguma ficção distópica, mas essas pessoas realmente existem. Não são incomuns os relatos de feministas radicais que abortam seus filhos quando descobrem que são meninos ou que declaram ódio incondicional a todo e qualquer homem do planeta.
Se queremos algum futuro civilizado, machismo e feminismo devem morrer juntos, de braços dados
Mas – e sempre há um mas – o feminismo contemporâneo não sabe fazer contas e tem uma péssima capacidade de análise factual. Embriagadas com direitos e liberdades garantidos por leis que somente os países ocidentais e de tradição judaico-cristã conseguiram desenvolver, essas feministas não conseguem nem sequer olhar ao seu redor e realizar a mais simples das operações matemáticas: quando somamos as populações dos países onde as mulheres têm menos direitos hoje que a mulher ocidental média da década de 1950, chegamos à conclusão de que o feminismo existe em menos da metade do mundo: somente na parte que não inclui os países muçulmanos, a China e a Índia.
Aliás, a menção aos muçulmanos é uma ótima deixa para explicar o título deste artigo. O mundo de hoje assiste à expansão rápida do islamismo no mundo ocidental, e o islamismo é intrinsecamente antifeminista. Ouso afirmar que o islamismo é a nêmesis do feminismo, tamanha é sua oposição a tudo o que as feministas têm como mais precioso. Sendo assim, tomemos dois possíveis desfechos históricos para comprovar esse óbito hipotético.
Desfecho 1: o feminismo radical avança em todo o mundo ocidental, vencendo sua “luta contra o patriarcado”. Mesmo não eliminando os homens por completo, consegue emasculá-los e transformá-los em meros acessórios sociais. Uma sociedade dessas, quando atacada e confrontada pela força do radicalismo islâmico, desaparecerá quase sem luta. Feministas são muito competentes quando o assunto é armar manifestações públicas em países onde a lei as protege e em fazer discursos inflamados para plateias cheias de artistas corroídos pelas culpas do mundo politicamente correto, mas são praticamente inócuas contra homens capazes de queimar crianças vivas, explodir aviões, esquartejar dissidentes e matar qualquer um que ouse difamar o nome de seu profeta. Resumindo, esse desfecho leva ao fim do feminismo e, portanto, o feminismo está morto.
Desfecho 2: o feminismo radical desaparece e o feminismo “original” desvanesce em meio à situação atual de igualdade de respeito e direitos, impedindo a deterioração da virilidade masculina na sociedade como um todo, condição extremamente necessária em tempos de guerra. Uma sociedade dessas, quando atacada e confrontada pela força do radicalismo islâmico, terá como se defender e contra-atacar, podendo até mesmo levar as conquistas feministas a lugares onde hoje elas não existem. Resumindo, esse desfecho só acontece com o fim do feminismo e, portanto, o feminismo está morto.
A síntese disso tudo é simples: o feminismo já fez o que precisava ter feito. As nações ocidentais atingiram um nível de civilidade e igualdade irreversíveis, desde que mantidas as bases legais e morais mesmas que permitiram às mulheres lutar por essa igualdade. Solapar a base judaico-cristã do ocidente, destruir a estrutura familiar tradicional e subverter os valores que nos trouxeram aonde estamos hoje resultará tão somente no enfraquecimento das únicas defesas que temos contra os radicalismos políticos e religiosos que atentam contra nossas liberdades. Se queremos algum futuro civilizado, machismo e feminismo devem morrer juntos, de braços dados. A alternativa é preencher uma ficha de membresia na mesquita mais próxima.
No ano passado, 74% dos venezuelanos perderam em média 8,7kg. Assim como seus cidadãos, a economia também “emagreceu” 10% e, segundo o FMI, se projeta um encolhimento de 23% ao final do ano em relação a 2013. Só neste ano, a inflação poderá ultrapassar os 1.600% e, claro, isto reflete na fome aguda que fez com que venezuelanos, literalmente definhassem. Como disse a The Economist em recente artigo, meio século atrás a Venezuela não era muito mais pobre do que o Reino Unido, mas o que a levou a esta catástrofe?
Como 90% do valor das exportações corresponde ao petróleo, a economia gira em torno dele e quase todos os bens de consumo são importados, daí que variações no preço do barril no mercado mundial podem sim impactar severamente a economia venezuelana, mas não explicar e justificar sua completa falência. O que beneficiou o governo de Hugo Chávez presenteando-o com uma década e meia a partir dos anos 2000 com um bom retorno acabou no período de sucessão de Nicolás Maduro. Se este ao menos obedecesse às leis de mercado permitindo a desvalorização a moeda nacional, o Bolívar não seria um problema, pois a alta dos preços restringiria o consumo. No entanto surgiria um problema político, já que a inflação revelaria uma desigualdade no acesso aos produtos que na contramão do igualitarismo proposto pela propaganda governamental do bolivarianismo. Para evitar a impopularidade certa, Maduro acreditou que a intervenção governamental pura e simples fosse suficiente para manter o clima de estabilidade artificial, o erro de todo socialista. Ao invés de permitir as importações livres com auto-regulação de mercado, Maduro manteve a moeda sobrevalorizada e racionou as importações. Agora imagine que as importações diminuíram, as reservas monetárias idem e os preços dos produtos importados subiram. Maduro tentou controlar os preços e um afluente mercado negro surgiu, o que, consequentemente diminui a base de arrecadação do governo. Para evitar uma recessão deveria se tomar medidas impopulares, como corte de gastos e aumento de arrecadação, ou seja, tudo que Maduro não fez para não ser amaldiçoado no curto prazo. No curto prazo, pois no médio prazo como se está se vendo, ele já é impopular.
Daqui a seis dias, a aliança oposicionista Mesa de Unidade Democrática (MUD) realizará um grande ato, a “mãe de todas as manifestações”. O que esperar? Bem, a tirar pelo que recentemente se viu quando Nicolás Maduro apareceu no Estado de Bolívar, no sul do país e antigo reduto eleitoral do chavismo nos dá uma ideia do sentimento popular:
Se ficar apenas em ovos sairá barato...
Se alguém pensa que esta escalada de violência não é uma bomba relógio prestes a uma guerra civil está enganado. Três dias atrás, manifestantes contra o governo venezuelano eram duramente reprimidos nas ruas de Caracas:
Mas quando inocentes são atingidos por atos de desespero de um regime moribundo só se pode esperar o pior:
E não esqueçam, caros brasileiros, que boa parte da sustentação financeira do regime em vigor na Venezuela veio da corrupção petista. Não esqueçam e não baixem a guarda.
No ano passado, 74% dos venezuelanos perderam em média 8,7kg. Assim como seus cidadãos, a economia também “emagreceu” 10% e, segundo o FMI, se projeta um encolhimento de 23% ao final do ano em relação a 2013. Só neste ano, a inflação poderá ultrapassar os 1.600% e, claro, isto reflete na fome aguda que fez com que venezuelanos, literalmente definhassem. Como disse a The Economist em recente artigo, meio século atrás a Venezuela não era muito mais pobre do que o Reino Unido, mas o que a levou a esta catástrofe?
Como 90% do valor das exportações corresponde ao petróleo, a economia gira em torno dele e quase todos os bens de consumo são importados, daí que variações no preço do barril no mercado mundial podem sim impactar severamente a economia venezuelana, mas não explicar e justificar sua completa falência. O que beneficiou o governo de Hugo Chávez presenteando-o com uma década e meia a partir dos anos 2000 com um bom retorno acabou no período de sucessão de Nicolás Maduro. Se este ao menos obedecesse às leis de mercado permitindo a desvalorização a moeda nacional, o Bolívar não seria um problema, pois a alta dos preços restringiria o consumo. No entanto surgiria um problema político, já que a inflação revelaria uma desigualdade no acesso aos produtos que na contramão do igualitarismo proposto pela propaganda governamental do bolivarianismo. Para evitar a impopularidade certa, Maduro acreditou que a intervenção governamental pura e simples fosse suficiente para manter o clima de estabilidade artificial, o erro de todo socialista. Ao invés de permitir as importações livres com auto-regulação de mercado, Maduro manteve a moeda sobrevalorizada e racionou as importações. Agora imagine que as importações diminuíram, as reservas monetárias idem e os preços dos produtos importados subiram. Maduro tentou controlar os preços e um afluente mercado negro surgiu, o que, consequentemente diminui a base de arrecadação do governo. Para evitar uma recessão deveria se tomar medidas impopulares, como corte de gastos e aumento de arrecadação, ou seja, tudo que Maduro não fez para não ser amaldiçoado no curto prazo. No curto prazo, pois no médio prazo como se está se vendo, ele já é impopular.
Daqui a seis dias, a aliança oposicionista Mesa de Unidade Democrática (MUD) realizará um grande ato, a “mãe de todas as manifestações”. O que esperar? Bem, a tirar pelo que recentemente se viu quando Nicolás Maduro apareceu no Estado de Bolívar, no sul do país e antigo reduto eleitoral do chavismo nos dá uma ideia do sentimento popular:
Se ficar apenas em ovos sairá barato...
Se alguém pensa que esta escalada de violência não é uma bomba relógio prestes a uma guerra civil está enganado. Três dias atrás, manifestantes contra o governo venezuelano eram duramente reprimidos nas ruas de Caracas:
Mas quando inocentes são atingidos por atos de desespero de um regime moribundo só se pode esperar o pior:
E não esqueçam, caros brasileiros, que boa parte da sustentação financeira do regime em vigor na Venezuela veio da corrupção petista. Não esqueçam e não baixem a guarda.
Que a ciência experimental trabalha com recortes da realidade e, por isso, não pode fazer afirmações gerais sem muitas ressalvas, qualquer pessoa que pare para refletir a respeito por alguns segundos pode concluir. Trata-se de uma necessidade operacional da coisa, e o verdadeiro cientista sabe lidar com isso. O problema é que boa parte dos cientistas não apenas não atua com correção como extrapolou o conceito de Bacon, de que é necessário "espremer" os dados até que provem aquilo que se quer provar, como faria um torturador na necessidade de extrair uma confissão – seja ela verdadeira, seja ela falsa, proferida para acabar com a tortura.
Poucas áreas são tão férteis à manipulação dos dados experimentais quanto a Sociologia. É possível que sejam os cientistas sociais os maiores torturadores na ciência. Aproveitam-se desse trabalho sujo os políticos demagogos e populistas (ávidos por apoio e simpatia popular e necessitados de justificar suas ações e seus gastos) e os jornalistas militantes (ansiosos para que a realidade se encaixe em suas teses, de modo que possam veicular suas opiniões, em vez de notícias).
Pois um vídeo que “viralizou” esta semana foi todo construído em cima de uma sessão de tortura de dados, de amostras e da realidade. Assista ao vídeo, divulgado na página do Governo do Estado do Paraná: https://www.facebook.com/governopr/videos/890716684362421/. O negócio é repleto de equívocos científicos, da exposição de diferentes materiais a diferentes grupos ao tamanho da amostra em relação às conclusões. Mas o que assusta mesmo é a manipulação criminosa na condução da experiência.
Trata-se de um teste com grupos que são expostos a imagens de brancos e negros e que devem dizer o que essas pessoas estão fazendo. Primeiramente, o mediador mostra ao “Grupo 1” fotografias de pessoas brancas em situações comuns – correndo, limpando, jardinando etc. Depois, segundo o vídeo, mostra para o “Grupo 2” “AS MESMAS FOTOS, mas com pessoas negras”. De fato, as situações são as mesmas: corrida, limpeza, jardinagem etc.; de modo que o olho desatento não percebe a manipulação que se processa.
Acontece que, na realidade, os protagonistas das imagens mostradas ao segundo grupo se apresentam de forma muito diferente, o que induz a opinião dos entrevistados. O resultado é que o grupo 1 enquadra as pessoas brancas em atividades, digamos, mais nobres, enquanto o grupo 2 entende que os negros estão em situações depreciativas. Ou seja, o resultado obtido é precisamente aquele pretendido por quem queria divulgá-lo. Como todo experimento científico concebido não para verificar hipóteses, mas para ser um suporte ideológico, amoldando a realidade à opinião de quem o encomendou, esse experimento em questão não foi concebido como deveria, não partiu de uma pergunta: “Há racismo?” Não. Como em toda canalhice científica, partiu-se de uma afirmação; mais do que isso, de um desejo: “Queremos provar que há racismo.”
O experimento não foi conduzido para provar uma hipótese, mas para endossar um sentimento, uma opinião; e para reforçar uma impressão geral (que, aliás, até pode ser verdadeira). Da mesma forma, a edição do vídeo também foi calculada para induzir conclusões no espectador. As imagens mostradas ao segundo grupo aparecem muito mais rapidamente na tela, de modo que você não consegue captar mais do que o quadro geral. Por exemplo, você vê duas pessoas diferentes procedendo com uma limpeza, mas a mulher negra fica menos de um segundo na tela, tempo insuficiente para que se repare nas nuances (mas mais do que suficiente para o apressado usuário de internet chegar à conclusão desejada pelo manipulador).
Com base na observação cotidiana, podemos afirmar que há, sim, racismo. Manifestado de diferentes formas, o racismo é um erro individual, não uma política institucional, de um ente abstrato público ou privado (daí a nova bandeira, “racismo institucional”). Mas, como toda demagogia, o negócio soa bem, causa boa impressão – e não soluciona nada. Entretanto, para dar a impressão de que a coisa é como postulam os justiceiros sociais, os politiqueiros que encomendaram e os supostos cientistas que executaram o experimento apresentam-no como se as opiniões colhidas fossem representativas de uma totalidade. Ou há flagrante estupidez científica (porque sustentam conclusão geral a partir de uma amostra muito pequena e não-representativa do todo), ou há mau-caratismo criminoso (porque apresentam apenas as amostras que confirmam a tese).
O que o Governo do Estado do Paraná fez foi utilizar-se de uma estratégia de quinta categoria, apelando a um suposto embasamento científico para comprovar uma tese e, principalmente, “viralizar” um conteúdo, ganhar likes e compartilhamentos de pessoas ávidas por sacolejar uma bela bandeira na qual se lê: “OLHEM PARA MIM, SOU UMA BOA PESSOA, TENHO BONS SENTIMENTOS” Produziram um material sob medida para que opinadores apressados, que formam suas opiniões com o Jornal Nacional e o Fantástico, pudessem postá-lo no Facebook, com frases de efeito do tipo "Para refletir", "Isso a Globo não mostra" e "Hipocrisia agente vê por aki... Há corda Brasil!".
ANÁLISE DETALHADA
O negócio foi todo engendrado de maneira muito inteligente, para fisgar o público dinâmico e acelerado do Facebook, que, enquanto assiste à novela e fica de olho nas crianças, aterroriza-se com uma “prova” de “racismo institucional” e, segundos depois, compartilha uma receita de bolo, uma frase motivacional ou um vídeo de gatos fofinhos. Essas pessoas estão mal-acostumadas, após anos de manipulação e empulhação; mas, graças à mesma internet que reforça a confusão manicomial em que vivemos, podem fazer esclarecimentos como este.
Graças à internet, canalhices como a dos governantes paranaenses não passam mais incólumes. Canalhices, aliás, que só fazem atrapalhar quem realmente sofre com problemas como o racismo.
A seguir, detalho as comparações feitas pelos “estudiosos” contratados pelo Governo do Paraná e outras questões do tal “viral”. Comecemos com as imagens apresentadas.
HOMENS CORRENDO. Grupo 1 diz que o branco está correndo; grupo 2 diz que o negro está fugindo. Imagens muito parecidas (inclusive, os modelos estão com roupas iguais); contudo, o homem branco tem um olhar distraído, apalermado, olhando para “o nada”, enquanto o negro parece assustado, mirando reto. Há, portanto, uma leve indução.
MULHERES MEXENDO COM ROUPA. Grupo 1 diz que a branca é designer de moda ou consumidora; grupo 2 diz que negra é vendedora ou costureira. Realmente, as fotos são iguais; ambas as protagonistas estão bem vestidas e com a mesma expressão. Sem indução.
HOMENS DE TERNO. Grupo 1 diz que branco é executivo ou profissional de RH; grupo 2 diz que negro é segurança de shopping ou motorista. Os modelos estão vestidos igualmente, mas se postam de maneiras muito distintas. O homem branco transmite arrogância e displicência: ombros caídos, postura relaxada; seu olhar, de baixo para cima, é de enfado; realmente, pode bem ser um executivo prepotente e estressado. Já o negro tem atitude de força e confiança: ombros erguidos, postura ereta; seu olhar, de cima para baixo, é de superioridade; tudo muito típico em um agente de segurança, de alguém que cuida dos outros; meu primeiro palpite seria que é um agente do FBI. Portanto, temos aqui uma comparação indutiva.
HOMENS TRABALHANDO NO JARDIM. Grupo 1 diz que o branco está cuidando do jardim de sua casa; grupo 2 diz que o negro é um jardineiro. Não é preciso argumentar muito; aqui, a indução é constrangedoramente flagrante. Está claro, pela fotografia, que o homem branco, que sorri e olha confiante, está em um momento de lazer, fazendo algo de seu agrado – como o é o ato de cuidar de seu próprio jardim. Já o homem negro está claramente desagradado, carrancudo, com os olhos semi-cerrados, contrariado – como estaria alguém que não faz mais do que cumprir uma obrigação que lhe desagrada. Em tempo: o negro segura uma pesada tesoura de jardim, enquanto o branco trabalha com uma ferramenta mais delicada; elementos que reforçam a diferenciação entre lazer e obrigação.
MULHERES LIMPANDO. Grupo 1 diz que a branca está limpando sua casa; grupo 2 diz que a negra é diarista ou empregada. Novamente, a indução é clara e evidente. Chega a ser patético, pois a mulher branca está limpando com uma felicidade e uma serenidade jamais verificada em nenhum ser humano enquanto tem de dar-se ao dever de limpar a casa, mesmo que seja a sua. Mas, a atitude da branca cumpre seu papel e induz a opinião dos entrevistados. A mulher negra, por sua vez, está séria, concentrada; suas mangas estão arregaçadas e ela usa luvas de borracha, o que indica trabalho pesado, situação diversa à da branca.
MULHERES PICHANDO. Grupo 1 diz que a branca é “grafiteira”; grupo 2 diz que a negra é “pichadora”. As fotos são muito semelhantes. Não há indução.
Outras questões:
AMOSTRA INSUFICIENTE. Como já disse, as opiniões de oito pessoas não podem ser representativas do comportamento institucional geral. Além disso, temos pessoas diferentes opinando a respeito de materiais distintos.
CONDUÇÃO DAS RESPOSTAS. Em dois momentos fica claro que os entrevistados deram respostas induzidas pelas perguntas. A questão central era algo como: “Olhe para a imagem e diga o que a pessoa está fazendo.” Todavia, quando aparece o homem branco jardinando, um dos entrevistados diz: “Não parece ser empregado...”; depois, quando a mulher branca está “grafitando”, uma entrevistada diz: “Grafite é arte, não é ‘vândalo’” (sic). São comentários que extrapolam a questão central e indicam que a manipulação pode não ter se dado apenas com as imagens apresentadas, mas com as perguntas que conduziram as respostas supostamente racistas.
QUEM SÃO OS “ESPECIALISTAS”?
Na página do Governo do Paraná, muitas pessoas apontaram elementos de manipulação do teste. A resposta padrão da assessoria é esta: << O Teste de Imagem é um experimento real, que aconteceu na noite do dia 10/11 em uma sala de Focus Group, em Curitiba. Participaram do teste profissionais RH reais, que foram divididos em dois grupos distintos e emitiram opiniões espontâneas às imagens apresentadas pelo mediador do experimento. >>
Contudo, pesquisando na internet, não encontrei nenhum FOCUS GROUP de Curitiba. Agradeço se alguém tiver a informação de que eles existem de fato. Mas louco é quem duvida de que o Governo do Paraná tomou o nome de um método (“focus group”, grupo focal) para batizar a empresa dos supostos especialistas e dar às pessoas a confortável sensação de que o teste que embasa seus preconceitos do bem é confiabilíssimo. Considerando tudo que analisamos até aqui, é uma perversidade tão absurda quanto possível.
PRECONCEITO VELADO. Que existe preconceito entre as pessoas não se pode negar; inclusive, pode-se verificá-lo em quem se enfureceu com o vídeo porque acha que é depreciativo ganhar a vida limpando casas ou cuidando de jardins.
INVALIDEZ. No Grupo 1 há uma mulher que diz que “grafite é uma arte, não é ‘vândalo’” (sic). Só por essa manifestação o negócio todo já deveria ser invalidado, por contaminação das amostras e incapacidade intelectiva dos entrevistados.
– MAIS MANIPULAÇÃO. O vídeo é encerrado com mais desinformações e fraudes, com apelo a números para reforçar ainda mais o discurso.
– Opiniões pessoais tomadas como evidências científicas: “82,6% dos negros afirmam que a cor da pele influencia na vida profissional.”
– Falsa imputação de crime: “Negros ganham 37% menos que os brancos” / “São a maioria entre os desempregados: 60,6%”. Como se isso fosse resultado de decisões de malvados e racistas empregadores. É mais provável que isso seja conseqüência de uma possível falta de preparo e capacitação, ocasionada – vejam só! – justamente por políticos demagogos que preferem capitalizar em cima de uma “raça”, em vez de fazer algo por seu desenvolvimento.
– Recorte dos dados: “[Negros] Ocupam apenas 18% dos cargos de liderança.” Estamos falando de negros como os das imagens do teste ou de “negros e pardos”? Pois, se forem como os das imagens, segundo o IBGE apenas 5,9% dos brasileiros consideram-se negros, o que revelaria que 18% de negros em cargos de liderança é um índice pra lá de positivo.
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EM RESUMO
Estupidez, demagogia e manipulação institucional – chega de fingir que é normal! Canalhice com o dinheiro público é crime.
Na excelente entrevista abaixo, Jordan Peterson, professor do Dept. de Psicologia da Universidade de Toronto revela como a inoculação da cultura do Politicamente Correto está afetando a percepção das pessoas, estudantes no caso e os afastando da realidade. Trata-se de uma longa e instrutiva entrevista. Imperdível sua leitura.
V.D.
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Jordan B. Peterson é um experiente psicólogo, pesquisador e terapeuta canadense. Nesta entrevista, conta como veio a se rebelar contra o que vê como autoritarismo politicamente correto de ativistas de sua universidade (U. de Toronto) e de seu país, e contra um projeto de lei que torna obrigatório o uso de pronomes inventados para pessoas “transexuais não-binárias”.
Você pode nos dar uma breve contextualização da sua carreira acadêmica e dos seus interesses?
Nos dois primeiros anos da minha graduação estudei ciência política e literatura inglesa. Eu era muito interessado em política, mas o que eu estava aprendendo em economia e ciência política simplesmente não estava certo. Havia ênfase demais colocada na ideia de que os interesses econômicos eram o motivador primário para seres humanos, e isso não era nem um pouco óbvio para mim. Eu estava gastando muito tempo pensando na Guerra Fria, e a Guerra Fria não foi primariamente uma questão econômica. Então comecei a cursar aulas de psicologia, e estava interessado em psicologia clínica. Fiz meu PhD orientado pelo Dr. Robert Pihl, e trabalhei com abuso de drogas, alcoolismo e agressão – havia uma ênfase biológica pesada. Fiz meu pós-doutorado com o Dr. Pihl e Maurice Dongier. Então lecionei em Harvard por seis anos, e estou na Universidade de Toronto desde então.
Meu interesse primário sempre foi a psicologia da crença. Parcialmente crença religiosa, e ideologia como uma subcategoria da crença religiosa. Uma das proposições de Jung era que qualquer coisa que uma pessoa dá o mais alto valor é seu deus. Se as pessoas acham que são ateias, isso significa que elas estão inconscientes de seus deuses. Em um sistema religioso sofisticado, há uma polaridade positiva e negativa. Ideologias simplificam essa polaridade e, fazendo isso, demonizam e simplificam demasiadamente. Fiquei interessado em ideologia, em grande parte, porque fiquei interessado no que houve na Alemanha nazista, na União Soviética, e na Revolução Cultural na China, e ocorrências equivalentes em outras partes do mundo. Eu me concentrei mais na Alemanha nazista e na União Soviética. Eu estava particularmente interessado no que levou pessoas a cometerem atrocidades a serviço de suas crenças. O lema do Museu do Holocausto em Washington é “não devemos esquecer nunca”. Aprendi que você não pode se recordar do que você não entende. Pessoas não entendem o Holocausto, e elas não entendem o que aconteceu na Rússia. Tenho esse curso chamado “Maps of Meaning” [NT: Mapas de Sentido], que é baseado em um livro que escrevi com o mesmo nome, e ele descreve essas ideias. Uma das coisas de que estou tentando convencer meus alunos é que se eles tivessem vivido na Alemanha na década de 1930, eles teriam sido nazistas. Todo mundo pensa “eu não”, e isso não está correto. Foram em grande parte pessoas comuns que cometeram as atrocidades que caracterizaram a Alemanha nazista e a União Soviética.
Parte da razão pela qual eu me vi envolvido com essa controvérsia [sobre identidade de gênero] foi devido ao que eu sei sobre como as coisas deram errado na União Soviética. Muitas das doutrinas que fundamentam a legislação à qual eu me oponho compartilham estruturas similares com as ideias marxistas que dirigiram o comunismo soviético. A coisa à qual eu mais me oponho era a insistência para que as pessoas usassem essas palavras inventadas como ‘xe’ e ‘xer’ [NT: pronomes ditos neutros, equivalentes a “elx”/”delx” em português] que são construções de autoritários. Não existe a menor esperança de que eu use a linguagem deles, porque eu sei a onde isso leva.
Há vários casos onde a expressão livre tem sido atacada, por que você escolheu esse assunto particular?
Esse é um discurso muito coercitivo. A Suprema Corte nos Estados Unidos considerou que discurso coercitivo é inaceitável por duas razões. Uma é para proteger os direitos de quem fala, outro é para proteger os direitos do ouvinte. O ouvinte tem o direito de ser informado e instruído sem ser indevidamente influenciado por fontes ocultas. Se seu discurso é coercitivo, não é você quem está falando, é uma outra entidade que está compelindo seu discurso. Então eu atualmente acho que o Projeto de Lei C-16 é inconstitucional. Estou usando um caso legal americano, mas os princípios se aplicam. Isso só não chegou à nossa Suprema Corte ainda.
Para mim isso se tornou um problema porque não existe a menor chance de que eu vá usar linguagem radical, autoritária. Eu estudei isso psicologicamente, e sei o que isso faz.
Eu também fui profundamente influenciado pelo livro de [Aleksandr] Solzhenitsyn Arquipélago Gulag. As pessoas dizem que o marxismo real nunca foi tentado – não na União Soviética, nem na China, em Camboja, na Coreia, aquilo não era o marxismo real. Eu acho esse argumento especioso, chocante, ignorante, e talvez também malévolo ao mesmo tempo. Especioso porque Solzhenitsyn demonstrou sem uma sombra de dúvidas que os horrores [do sistema soviético] eram uma consequência lógica das doutrinas embrenhadas no pensamento marxista. Eu acho que Dostoyevsky viu o que estava a caminho e Nietzsche escreveu sobre isso extensivamente na década de 1880, expondo as proposições que são encapsuladas na doutrina marxista, e alertando que milhões de pessoas iriam morrer no século XX por causa dela.
Você pintou um quadro bem sombrio para o futuro.
Há coisas sombrias acontecendo. Para começar, o Projeto de Lei C-16 codifica construtivismo social no tecido da lei. O construtivismo social é a doutrina de que todos os papeis humanos são socialmente construídos. Eles são desvencilhados da biologia subjacente e da realidade objetiva subjacente. Então o projeto C-16 contém um ataque à biologia e um ataque implícito à ideia da realidade objetiva. Isso também é flagrante nas políticas da Comissão dos Direitos Humanos de Ontário e na Declaração dos Direitos Humanos de Ontário. Ele diz que a identidade é puramente subjetiva. Então uma pessoa pode ser homem em um dia e mulher no próximo, ou homem em uma hora e mulher na próxima.
Como você vê o futuro do discurso público nesse país se nós não revertermos o curso em coisas como o C-16?
Eu não tenho ideia. Acho que estamos num tempo de caos e nada pode acontecer em um tempo de caos. Eu não sei o que vai acontecer na universidade na próxima semana. Tem um debate no sábado às 9:30 da manhã. Ele será exibido ao vivo no meu canal do YouTube. Eu não tenho ideia de quais serão as consequências do debate, não tenho ideia se estarei lecionando em janeiro. A universidade me disse que cada vez que eu insistir que não irei usar aqueles pronomes [de gênero neutro], a probabilidade de que estarei lecionando em janeiro diminui.
Você acredita que você ou outros poderiam ser presos por se recusarem a obedecer àquelas leis?
Não há dúvida sobre isso. Os tribunais de direitos humanos ganharam o direito de manter pessoas em custódia. Bem, você será mantido em custódia se não pagar a multa. Meus oponentes dizem ‘você está apenas fomentando o medo. Nós não temos de verdade tanto poder assim’. Então por que mudar o código criminal? Por que colocar os corretivos de discurso de ódio lá? A palavra final na lei é o encarceramento. Não há dúvida sobre isso. Quando eu fiz o vídeo em 27 de setembro, disse ‘provavelmente fazer esse vídeo por si é ilegal’. Não só isso, a universidade é tão responsável quanto eu por fazê-lo, porque isso está no código dos direitos humanos. A universidade leu as malditas políticas e seus advogados as escrutinaram, e concluíram exatamente o que eu concluí. É por isso que eles me enviaram duas cartas de aviso. Eles estão no cabide para qualquer coisa que seus empregados disserem, se ou não as consequências do que eles disserem forem intencionais ou não, independente se houve ou não uma reclamação.
Isso inclui coisas que meus empregados dizem em seu tempo privado?
Isso inclui tudo que eles dizem. Não importa se pessoas reclamam ou não. Mesmo se ninguém reclamar, ou mesmo se o efeito não for intencional. A outra coisa que está inclusa nessa lei e nas políticas relacionadas – e isso também é cada vez mais o caso em tribunais de assédio sexual em campi universitários nos quais o governo da [Premiê de Ontário Kathleen] Wynne está fazendo pressão como louco – eles mudaram dois princípios legais. Não é ‘inocente até que se prove culpado’, é ‘preponderância de evidência,’ e não é intenção, é resultado. Essas transformações são tão amplas, é quase inimaginável.
Você está sugerindo que eles alteraram a regra da lei como nós tradicionalmente a conhecemos?
Eles alteraram. Eles dizem ‘o que você diz machuca meus sentimentos’ – e isso é parte do ataque sobre o mundo objetivo – sua intenção é irrelevante. Minha resposta subjetiva é o fator determinante. A ideia de que eles ousariam implodir a doutrina da intenção é inacreditável.
Você está surpreso que quase metade do cáucus do Partido Conservador do Canadávotou a favor do C-16?
Não só isso, não há uma convenção de liderança acontecendo agora? Algum dos candidatos comentou qualquer coisa sobre isso? Não. Por quê? Porque eles estão com medo. Eu acho que o fato de que ninguém comentou sobre isso é uma indicação de como até para conservadores, especialmente no Canadá, a demanda por ortodoxia foi tão longe que mesmo conservadores estão com medo de serem conservadores. Essas coisas não são fáceis de entender. Você pode perguntar, ‘por que você não pode simplesmente perguntar às pessoas do que elas querem ser chamadas?’ Bem, quando alguém questiona seu uso de pronomes, isso coloca você no holofote. Você não sabe por que usa os pronomes que usa. Você os usa porque todos os outros os usam – isso é uma convenção social. Então outra pessoa diz ‘é um sinal de respeito usar um pronome, e é um sinal de respeito usar o pronome de escolha de alguém.’ Esses são assaltos filosóficos de ampla escala. Se você não está preparado para eles, tudo que você pode fazer é ficar desnorteado, e seu padrão vai ser ‘bem, talvez nós devêssemos ser legais’.
Então talvez alguns deles votaram a favor porque eles não entendem os problemas filosóficos e apenas não quiseram ofender ninguém?
É por isso que eu estou tentando separar esses argumentos. Primeiro, “ele” e “ela” não são sinais de respeito. Eles são os termos mais casuais possíveis. Se eu me refiro a alguém como “ele” ou se eu me refiro a alguém como “ela”, isso não é um sinal de respeito, é só categorização do tipo mais simples e óbvio. Não há nada sobre isso que seja individual, ou característico de respeito. Segundo, você não tem o direito de exigir de mim que eu fale qualquer coisa com relação a você que seja respeitoso. O melhor que você pode esperar de mim é neutralidade cética e confiança corajosa. É isso. Isso é o que você consegue de mim.
Você poderia definir esses dois termos?
Neutralidade cética é ‘você é um balde de cobras, assim como eu. Entretanto, se você estiver disposto a manter sua palavra, e se eu estiver disposto a manter minha palavra, então nós somos capazes de nos envolver em interações mutualmente benéficas, logo é isso que nós vamos fazer’. A razão pela qual eu disse confiança corajosa é para distingui-la de inocência. Pessoas inocentes pensam que todo mundo é bom. Isso é falso, todo mundo não é bom. Mas agir de uma forma que seja hostil e cética e antissocial é completamente contraproducente. Então o que você faz se você é uma pessoa madura é você diz ‘bem, beleza, você tem um lado sombrio, eu também. Isso não quer dizer que nós não podemos nos envolver em interações produtivas’. Nós fazemos isso mantendo nossas malditas palavras. A honestidade nos simplifica ao ponto onde nós podemos nos envolver em interações mutuamente benéficas. Mas você certamente não consegue meu respeito exigindo-o. Você não tem qualquer direito de me pedir para marcá-lo como especial de qualquer maneira.
Então nós não deveríamos chamar alguém de ‘sua majestade’ só porque eles pediram isso?
Bem, esse é outro problema que está se escondendo sob o argumento da subjetividade, uma vez que você divorcia a identidade de uma base objetiva. Essas pessoas [defensoras de múltiplas identidades de gênero e leis para protegê-las] afirmam que identidade é uma construção social, mas mesmo que essa seja sua afirmação filosófica fundamental, e que eles a tenham inserido na lei, eles não agem de acordo com aqueles princípios. Ao invés disso, eles vão direto à subjetividade. Eles dizem que sua identidade nada mais é do que seu sentimento subjetivo daquilo que você é. Bem, isso também é uma ideia exageradamente empobrecida do que é que constitui identidade. É como a alegação de uma criança egocêntrica de dois anos, e eu quero dizer isso tecnicamente. Sua identidade não é só como você sente sobre você mesmo. É também como você pensa sobre você mesmo, é o que você sabe sobre você mesmo, é seu julgamento informado sobre você mesmo. Ela é negociada com outras pessoas mesmo se você for vagamente civilizado porque de outra forma ninguém lhe suporta. Se sua identidade não for um híbrido daquilo que você é e daquilo que as outras pessoas esperam, então você é como a criança no parque com quem ninguém pode brincar.
Além do mais, sua identidade é um veículo prático que você usa para manobrar a você mesmo durante a vida. Em sua identidade real, você é um advogado, você é um médico, você é uma mãe, você é um pai, você tem um papel que tem valor para você e outros. Nada disso é subjetivamente definido. Então isso é completamente absurdo, e filosoficamente primitivo, e psicologicamente errado. Ainda assim, está inserido na lei. Eu acho que a lei faz das discussões de biologia e gênero ilegais. Acho que nós tivemos um gostinho disso na entrevista da TVO Agenda que eu tive onde [o professor de estudos transgêneros da U de T] Nicholas Mack disse ‘bem, o consenso científico das últimas quatro décadas é que não há diferença biológica entre homens e mulheres’. Isso é uma proposição absurda. Há diferenças entre os sexos em todos os níveis de análise. Há escalas de masculinidade/feminidade que foram derivadas; elas são basicamente derivações secundárias de descritores de personalidade. Há diferenças enormes de personalidade entre homens e mulheres. Há literatura explorando diferenças entre homens e mulheres em personalidade em muitas, muitas sociedades no mundo todo. Eu acho que a maior publicação examinou 55 sociedades diferentes. E eles ranqueiam as sociedades por igualdade sociológica e política. A hipótese era que se você equaliza o ambiente entre homens e mulheres, você erradica as diferenças entre eles. Em outras palavras, se você trata meninos e meninas igual, as diferenças entre eles desaparecerão. Mas não é isso que os estudos mostraram. Na realidade, elas se tornam maiores. Aqueles são estudos de dezenas de milhares de pessoas. A teoria do construtivismo social foi testada. Ela falhou. A identidade de gênero é muito determinada biologicamente.
Você vê algum paralelo entre esse assunto e outras das causas da ‘justiça social’ que têm surgido nos últimos poucos anos, como Black Lives Matter [Vidas Negras Importam] ou IdleNoMore [OciosoNãoMais]?
É tudo parte e parcela da mesma coisa. Há uma guerra acontecendo no coração da nossa cultura. Muitas pessoas têm falado sobre politicamente correto, e o fato do quanto isso é pernicioso. Frequentemente, isso apenas desaparece no éter. Eu acho que o que eu fiz foi diferente porque havia algo que eu disse que não faria. Isso pegou o geral e o tornou específico.
No cristianismo, há a ideia do Cristo geral, que é a “Palavra” que Deus usou para transformar o caos em ordem. Por outro lado há o Cristo específico, um carpinteiro no Oriente Médio 2000 anos atrás. Então há essa noção estranha no cristianismo entre esse princípio geral, que é o logos aproximadamente falando; o logos é a coisa que media entre a ordem e o caos e é princípio bastante abstrato; e o ser humano específico que teve uma identidade específica ligada a um tempo e local específico, fazendo o indivíduo arquétipo, e isso faz uma história inacreditavelmente atraente. O arquétipo é muito abstrato. É como falar ‘os caras bons ganharam’ – não há história ali. Eu acho que o que eu fiz foi tornar o geral concreto e específico, e tracei uma linha. Agora o preço que você paga por traçar uma linha – especialmente com o material politicamente correto – é que você vai ser difamado como um fanático. As pessoas da justiça social estão sempre do lado da compaixão e dos ‘direitos das vítimas’, então objetar a qualquer coisa que eles façam lhe torna instantaneamente um perpetrador. Não há lugar onde você possa permanecer sem ser vilificado, e é por isso que isso continua rastejando adiante.
Esse não é o resultado lógico da aplicação tática de Saul Alinsky?
Exatamente certo. A coisa é que se você substitui compaixão por ressentimento, então você entende a esquerda autoritária. Eles não têm compaixão, não há compaixão ali. Não há compaixão alguma. Há ressentimento, fundamentalmente.
Em um editorial opinativo do National Post você escreveu que ‘palavras como zhe/zher [NT: equivalentes a elx/delx] são as vanguardas de uma ideologia de esquerda radical que é assustadoramente similar ao marxismo’. Você pode elaborar?
Identidade atribuída é opressão. Identidade atribuída é a identidade que é atribuída a você pela estrutura de poder – o patriarcado. A única razão pela qual o patriarcado lhe designa um status é para lhe oprimir. E assim a linguagem que lhe liberta do status é linguagem revolucionária. Então, como um exemplo de linguagem revolucionária, nós vamos explodir as categorias de identidade de gênero, porque o conceito de mulher é opressivo. A filosofia antipatriarcado é predicada na ideia de que todas as estruturas sociais são opressivas, e não muito mais que isso. Então atacar a estrutura é questionar seus esquemas categóricos em todo nível possível de análise. E o nível mais fundamental que os radicais antipatriarcado elencaram é gênero. Ele é uma peça de identidade que crianças geralmente assimilam por volta dos dois anos – ele é bastante fundamental. Você poderia argumentar que não há nada mais fundamental. Entretanto, eu não sei de nada que seja mais fundamental, mais básico, e que teria sido considerado como mais inquestionável, mesmo há cinco anos atrás.
Você acredita que a sociedade deveria traçar uma linha no que se refere a limitações para discurso de ódio?
Não. As leis sobre discurso de ódio estão erradas. A questão – não uma questão, mas A questão – é ‘quem define o que é ódio?’ Isso não é o mesmo que dizer que não existe discurso de ódio – claramente existe. Leis contra discurso de ódio reprimem, e eu quero dizer no sentido psicoanalítico. Elas fazem [o discurso de ódio] clandestino. Isso não é uma boa ideia, porque as coisas ficam feias quando você as transforma em clandestinas. Elas não desaparecem, apenas apodrecem, e não são sujeitas à correção. Eu fiz esses vídeos, e eles têm sido sujeitos a uma quantidade tremenda de correção nas últimas seis semanas. Eu não quero dizer apenas por parte da resposta do meu público, mas também parcialmente da resposta da universidade, parcialmente de um grupo de amigos que têm estado revisando meus vídeos e os criticando até a morte. É por isso que a liberdade de expressão é tão importante. Você pode se esforçar para formular algum argumento, mas quando você o lança para o público, há uma tentativa coletiva de modificá-lo e melhorá-lo. Então, sobre o assunto discordo de ódio – digamos que alguém seja um negacionista do Holocausto, porque essa é a rotina padrão – nós queremos essas pessoas lá fora, em público, de forma que você possa lhes dizer que elas são historicamente ignorantes, e porque suas visões são infundadas e perigosas. Se você as torna clandestinas, não é como se elas parassem de conversar umas com as outras, elas apenas não conversam com qualquer outro que discorde delas. Essa é uma ideia muito ruim e é isso que está acontecendo nos Estados Unidos agora. Metade do país não conversa com a outra metade. Você sabe do que você chama pessoas com as quais não fala? Inimigos.
Se você tem inimigos, você tem guerra.
Se você para de falar com pessoas, ou você se submete a elas, ou vai à guerra com elas. Essas são suas opções e não são boas opções. É melhor ter uma conversa. Se você coloca restrições na expressão, então você não pode de fato falar sobre as coisas difíceis sobre as quais se precisa falar. Eu tenho aproximadamente 20000 horas de prática clínica e tudo que eu faço por 20 horas semanais é conversar com pessoas sobre coisas difíceis – as piores coisas que estão acontecendo em suas vidas. Essas são sempre conversas difíceis. As conversas que são mais curativas são simultaneamente as que são mais difíceis e mais perigosas. Muitas pessoas normais não terão essas conversas. É por isso que tantos casamentos se dissolvem. As pessoas não gostam de ter essas conversas. Parte disso também é devido – digamos que você tenha tido uma pequena discussão com sua esposa, e você sabe que tem algo mais ali do que a coisa pequena que lhe está incomodando, e você pergunta ‘sobre o que é que REALMENTE você está chateada?’ Tente voltar atrás. Você pode descobrir que ela está chateada com algo que o seu avô fez à sua avó duas gerações atrás que ainda não foi resolvido na sua família, e esse é o elemento determinante de sua atitude no momento presente. Se você desembalar isso, entretanto, então você não precisa vivê-lo de novo e de novo.
Também há essa ideia de que você não deveria dizer coisas que machucam os sentimentos das pessoas – essa é a filosofia da esquerda compassiva. Isso é tão infantil que está além da compreensão. O que disse Nietzsche: ‘você pode julgar o espírito de um homem pela quantidade de verdade que ele pode tolerar’. Eu também falo isso aos meus alunos, você pode dizer quando está recebendo educação porque você está horrorizado. Então, se for agradável e seguro, é como se você não estivesse aprendendo nada. As pessoas aprendem as coisas do jeito difícil.
O que acontece quando aquela verdade de fato contribui para a violência contra grupos?
Você escolhe seu veneno, e a liberdade de expressão é o veneno certo. Há grupos que defendem o ódio, mas essa não é a questão. A questão é se reprimi-los faz as coisas melhores ou piores. Eu diria que [os reprimir] apenas as faz piores. Existem muitas horas em que você não tem uma boa opção. As pessoas acham que se não deixarmos eles falarem, isso vai sumir. Não funciona assim de forma nenhuma. Na verdade, se eles são paranoicos, você apenas justifica sua paranoia. Por fazer deles clandestinos, você não os enfraquece. Você apenas lhes fornece algo atraente contra o que lutar. Você os transforma em heróis aos seus próprios olhos.
Você pode comentar sobre a resposta específica da Universidade de Toronto, a carta que você recebeu do reitor da Faculdade de Artes, David Cameron?
Eles conversaram com seus advogados, e eles estão fazendo exatamente o que pessoas de RH sempre fazem. Se você quer se livrar de alguém, você lhe escreve uma carta. Fale para eles o que estão fazendo errado, fale para eles pararem, e fale gentilmente. Então você escreve uma segunda carta, e lhes diz as mesmas coisas, só que não tão gentilmente. Então você lhes dá uma terceira carta, e depois de lhes dar uma terceira carta, se eles não acatarem, então você pode fazer o que quiser, você deixou sua trilha de papeis. Os advogados checaram as políticas no website da OHRC [NT: Ontario Human Rights Commission, Comissão de Direitos Humanos de Ontário], e concluíram que minha interpretação da lei está absolutamente correta. É pior que isso, entretanto. É tipo ‘tudo bem, isso é contra a lei, supõe-se que a universidade deve seguir a lei, e eu não estou fazendo isso, pelo menos em princípio.’ Então eles têm uma obrigação legal e ética de fazer o que fizeram, mas eles fizeram de uma forma traiçoeira. Na primeira carta, eles me citaram errado. Então eu lhes disse ‘vocês deveriam pegar essa carta de volta e reescrevê-la porque ela não está precisa, e se vocês querem me dar uma carta de aviso, é do seu melhor interesse fazê-lo certo.’ A segunda carta foi ainda pior. Ela dizia que eu contribuí para esse clima de medo e perigo no campus, o que eu pensei ser uma afirmação especiosa e infundada pra início de conversa, mas quando eles mencionaram que tinham recebido muitas cartas de grupos no campus da universidade, eles não mencionaram as 500 cartas que receberam de pessoas me apoiando, sobre as quais eu sei porque fui copiado nelas. Eles não mencionaram a petição com 10000 assinaturas, que eu também recebi. Essa é a mentira. Eles não precisavam omitir isso. Eles podiam ter dito ‘nós entendemos que há uma variedade de opiniões sobre isso, e você tem apoio público substancial. Mas a verdade é que, até onde podemos dizer, isso é ilegal, e é nossa obrigação lhe dizer, você deve se adequar às políticas da universidade e à lei.’ Eles podiam ter feito isso, mas não fizeram.
Então, quando nós começamos a conversar sobre o debate depois da segunda carta, eu fui falar com David Cameron. Eu achei que já que esse é um assunto de grande interesse público aqui, talvez nós devêssemos ter um debate sobre isso. Isso é o que uma universidade faria, se fosse um lugar civilizado, então foi isso que eu recomendei ao Cameron. Ele levou o assunto para a administração da universidade, e eles concordaram. Mas eles me colocaram uma restrição: no debate, não tenho permissão para repetir a declaração de que não vou usar esses pronomes preferidos. É um pouco absurdo que nós vamos continuar com um debate sobre liberdade de expressão, e eu não posso repetir a afirmação central que iniciou o debate. Então eu lhes escrevi e disse ‘olha, vocês estão fazendo isso errado. Ao invés de me dizer “olha, você não pode dizer isso”, o que vocês DEVERIAM estar fazendo é dizendo “você pode estar errado, mas você deve ter permissão para dizê-lo, e nós vamos apoiá-lo por todo o caminho até a Suprema Corte. Nós usaremos nossos recursos legais e lhes colocaremos à sua disposição, e nós vamos combatê-los através dos tribunais.” Cameron disse categoricamente que eles não iriam fazer aquilo. Eles tiveram que escolher entre justiça social e liberdade de expressão. Eles escolheram justiça social – o que é equidade, ou igualdade de resultado – porque é isso que eles estão ensinando. Eu decidi que iria adiante com o debate de qualquer maneira porque, considerando todas as coisas, você nem sempre tem uma boa opção. Eu decidi escolher entre o pior de dois males e prosseguir com o debate.
Então, só pra clarificar suas ideias sobre o projeto de lei C-16. Você acha que seu vídeo do YouTube definitivamente o viola?
A universidade pensa que sim. Eu pensei que sim. Eu li as malditas políticas. Eu chequei as políticas no website dos Direitos Humanos de Ontário porque eu acho que aquelas são as pessoas que estão por trás de tudo isso. A escrita naquele website é pavorosa de uma perspectiva técnica – ela é incoerente. Eles são a pequena confraria semiletrada, filosoficamente ignorante, malévola que está por trás disso. Você esperaria mais do que aquilo de quase-judiciários.
O que você espera alcançar com tudo isso?
Espero que eu possa continuar a educar pessoas, tanto na universidade quanto, se não na universidade, então no YouTube. Pela primeira vez na história humana, a palavra falada tem o mesmo alcance e longevidade que a palavra escrita. Não só isso, o tempo entre a enunciação e a publicação é zero. Há três meses, tive alguns assistentes de pesquisa escrevendo as transcrições de minhas palestras para que pessoas pudessem assistir minhas palestras com legendas porque é mais fácil para as pessoas seguirem, e eu estava checando meu crescimento em termos de assinantes, e meio que brincando pensei que logo poderia ter mais assinantes no meu canal de YouTube que a U de T tem de alunos. Eu não sei qual a significância disso. Pode ser que a universidade já esteja morrendo. Isso não me surpreenderia. Quero dizer, eu acho que grandes partes da universidade estão irrevogavelmente corruptas: sociologia, perdida; antropologia, perdida; história, grandes partes dela estão perdidas, os clássicos, literatura, trabalho social, ciência política em muitos lugares, e isso não cobre estudos femininos, estudos étnicos. Eles provavelmente começaram perdidos, e as coisas ficaram muito piores. Eu acredito que agora, com a exceção do ramo das ciências, tecnologia, engenharia e matemática (STEM [NT: sigla em inglês]), universidades fazem mais mal do que bem. Acho que elas produzem servos nos Estados Unidos porque as taxas de ensino aumentaram tanto e você não pode declarar falência sobre seus empréstimos estudantis. Nós estamos ensinando mentiras a estudantes universitários, e passando a mão em sua cabeça, e eu vejo isso como contraproducente.
Há inclusive um programa antipsicológico no OISE [Ontario Institute for Studies in Education, Instituto de Ontário para Estudos em Educação]. Ele começou quando eles se livraram de [Ken] Zucker, e você não para em uma pessoa. Zucker era um psicólogo mais que credível. Ele mantinha um programa muito bom para pessoas que tinham disforia de gênero, e ele era conservador. A atitude de Zucker era que se você tivesse um filho que está reclamando de seu gênero, você os acompanha, e vê o que acontece, e você deriva suas conclusões de sua pesquisa. Oitenta por cento deles se declaram homossexuais, noventa por cento se resolvem com sua identidade biológica quando adultos. Sua conclusão lógica é para manter a maldita faca cirúrgica embainhada, e não trazer os hormônios à cena tão cedo. Bem, tudo isso acabou – é ilegal agora para médicos questionar a decisão de uma criança de três anos de que ele é ela. E se os pais quiserem começar a transformação biológica, é ilegal para os médicos rejeitar isso.
Você viu que Lauren Southern conseguiu identidade de homem do governo de Ontário? Isso lhe mostra o que a lei fez com os médicos. Aquele médico não pôde questioná-la porque isso é ilegal. Então agora Lauren Southern tem identificação governamental como um homem. Ela foi ao quiosque do Serviço de Ontário de salto alto e maquiagem. Ela não esperava conseguir o maldito documento de identificação. Isso também significa que o governo está tão emaranhado nessa bagunça que eles vão de fato sacrificar sua própria identificação. Pense sobre isso – pense sobre o que vai acontecer com nossa sociedade se a identificação das pessoas se tornar instável.
Você disse na sua entrevista com Gad Saad que liberdade de expressão é – “O direito e talvez a obrigação de conduzir discursos que são direcionados à solução de problemas sérios.” O que acontece quando o próprio discurso se transforma em arma?
Erros se acumulam, e o caos toma conta. Eu estudei mitologia por um longo período. A história do dilúvio significa que se você deturpa as coisas suficientemente, tudo desmorona. Se você interfere com o mecanismo pelo qual as pessoas formulam problemas, os resolvem, e negociam sua implementação, então problemas acumulam e se multiplicam. É isso que é uma hidra – corte fora uma cabeça, sete crescem novamente. Essas coisas podem se multiplicar até sair do controle muito mais rápido do que as pessoas imaginam.
Isso é parte do que explica os resultados da eleição dos Estados Unidos?
Os democratas decidiram na década de 1970 que eles iriam abandonar a classe trabalhadora e fazer política identitária, e a classe trabalhadora lhes tratou com descaso. [Hillary Clinton] perdeu todos os estados do “rust belt”. Você realmente tem que trabalhar muito para perder os estados do “rust belt” se você for um democrata. Então, eles conseguiram exatamente o que se esperava. E todos os esquerdistas estão preocupados que Trump é um demagogo de direita. Isso é insano – ele é um liberal. Ele foi um apoiador de Clinton. Digo, você poderia dizer que ele é um oportunista, ele é narcisista, mas ele não é um demagogo de direita. Eu não acho que ele é nem um pouco mais narcisista ou oportunista que Newt Gingrich, eu não acho que ele é nem um pouco mais narcisista ou oportunista que Hillary Clinton. Eu não acho que o que aconteceu nos Estados Unidos é de fato uma surpresa. Acho que a esquerda está dizendo “Meu deus, isso é uma catástrofe”. Não é uma catástrofe maior do que Margaret Thatcher ou Ronald Reagan no que se refere a até onde a demagogia de direita vai. Eu não acho que isso é nem um pouco diferente da revolução de Reagan, ou o que aconteceu com Thatcher, em termos de seriedade. Trump é um moderado. Ele é um moderado barulhento, e ele é um pouco populista, mas fundamentalmente ele ainda é um moderado – e as pessoas estão reagindo como se ele fosse Hitler. Você poderia pegar um Hitler – e ele certamente não é Trump. Ele era um candidato qualificado? Não, eu não acho era, mas ele fez várias coisas certo, e uma delas foi que ele não deu o mesmo discurso enlatado o tempo todo, e ele não foi manipulado até à morte. As pessoas viram isso e pensaram “ele não está fabricando cada declaração. Ele é meio que um idiota, mas pelo menos nós sabemos o que ele pensa”. Então as pessoas foram à cabine de votação, e elas pensaram “que se foda, vou votar no Trump” e foi isso que elas fizeram. Foi igual ao Brexit. A esquerda forçou a barra, esculhambou demais, e as pessoas pensaram “nós não vamos mais aguentar isso”, e então os democratas abandonaram a classe trabalhadora. Eu não sou um admirador do [Bernie] Sanders porque eu não acho que o tipo de socialismo que ele promove é uma solução defensável, mas eu certamente entendo que a classe trabalhadora nos Estados Unidos tem sido avacalhada desde 1975. Suas instituições sociais estão desmoronando, seus salários têm sido aplainados, os avanços da Índia e da China têm todos sido colocados nas costas da classe trabalhadora americana. Daí os intelectuais pensam ‘oh, esses caipiras, eles são estúpidos’. Pessoas de negócios NÃO são estúpidas. De fato, elas tendem a ter muito mais senso do que muitos dos intelectuais que eu conheço, ainda que não sejam tão boas em articular seus argumentos.
Como você define justiceiros sociais?
Eles são aqueles que transformam a compaixão em arma.
Você vê a cultura da justiça social como uma ameaça à democracia, e por quê?
Absolutamente. Não há nada sobre os tipos autoritários do PC [NT: politicamente correto] que tenha qualquer gratidão para com qualquer instituição. Eles têm um termo – patriarcado. Isso engloba tudo. Isso significa que tudo que nossa sociedade é está corrupto. Não há linha, eles querem dizer tudo. Vá online, vá checar dez websites de estudos femininos. Escolha-os aleatoriamente. Leia-os. Eles dizem ‘a civilização ocidental é um patriarcado corrupto até seu maldito núcleo. Nós temos que derrubá-la’.
O que significa democracia, o que significa liberalismo, o que significa direitos humanos.
Significa a coisa toda. O edifício inteiro. E ao que eles a comparam? À utopia. Por que você acha que feministas iriam atrás de Ayaan Hirsi Ali? Ela é uma heroína, aquela mulher. Ela é da Somália. Ela cresceu em um patriarcado muito opressor – um real. Ela escapou de um casamento arranjado, e se mudou para a Holanda e se apaixonou pela Holanda. Duas coisas realmente lhe chocaram inicialmente antes de ela ir à universidade e se tornar uma estudante do Iluminismo. Número um – ela esperava em um ponto de transporte público, e uma placa digital diria quando o transporte público iria chegar, e ele chegava exatamente quando o placar disse que iria. Isso era inacreditável para ela. E outra coisa que ela não conseguia acreditar era que a polícia lhe ajudaria. Você sabe que está num país civilizado quando a polícia não lhe estupra e rouba tudo que você tem. As pessoas radicais de esquerda não dão a mínima para nada disso.
Há algo mais que você gostaria de adicionar?
Você perguntou o que as pessoas podem fazer. Elas podem se recusar. Elas podem se recusar a serem empurradas mais nessa direção. Tudo que é predicado sobre identidade de grupo, nós temos que nos livrar disso. Os habitantes de Alberta eram muitos céticos sobre Pierre Trudeau e todas as suas mudanças, especialmente com a introdução da Carta [Estatuto de Direitos Humanos], e eles estavam certos sobre isso também. Nós nunca devíamos ter tido um projeto de lei de direitos humanos no Canadá. Isso foi uma importação da Lei Civil Francesa colocada sobre a Lei Comum Inglesa, e isso foi um erro. Na Lei Comum Inglesa, você tem todos os direitos que existem exceto aqueles que são expressamente proibidos na lei. No sistema francês, você enumera os direitos das pessoas – isso faz parecer que direitos são concedidos para você pelo governo, e isso não é verdade. Então nós começamos a falar mais sobre identidade no Canadá, e isso foi um desvio da tradição do individualismo iluminista.
Você está negando a existência de discriminação baseada em sexualidade ou raça?
Não acho que as mulheres tenham sido discriminadas, eu acho esse argumento chocante. Antes de tudo, você sabe quanto dinheiro as pessoas tinham pra viver em 1885, em dólares de 2010? Um dólar por dia. A primeira coisa que nós vamos estabelecer é que a vida era uma droga para todo mundo. Você não vivia muito. Se você fosse mulher, você estava grávida quase o tempo todo, e você estava cansada e meio morta quando estivesse com 45. Homens trabalhavam sob condições abismais que nós não podemos nem imaginar. Quando George Orwell escreveu O Caminho para Wigan Pier, os mineiros de carvão que ele estudou andavam para trabalhar duas milhas debruçados em um túnel antes que começassem seu turno. Então eles andavam de novo. [Orwell] disse que ele não poderia caminhar 200 jardas em um daqueles túneis sem ter cólicas tão fortes que ele não podia nem se levantar. Aqueles caras não tinham os dentes por volta dos 25, e estavam acabados aos 45. A vida antes do século XX para muitas pessoas era brutal além de comparação. A ideia de que mulheres eram uma minoria oprimida sob aquelas condições é insana. As pessoas trabalhavam 16 horas por dia ganhando apenas para sobreviver. Minha avó era esposa de um fazendeiro em Saskatchewan. Ela me mostrou uma foto da lenha que ela cortava antes do inverno. Eles viviam numa cabana que não era maior do que o primeiro andar desta casa. E a pilha de lenha que ela cortava era três vezes tão longa, e da mesma altura. E isso era o que ela fazia em seu tempo livre porque ela também estava cozinhando para uma turma de debulhadores, tomando conta de seus quatro filhos, trabalhando nas fazendas de outras pessoas como empregada doméstica, e tomando conta dos animais. Então, no século XX, as pessoas ficaram ricas o suficiente para que algumas mulheres pudessem trabalhar fora de casa. Isso começou na década de 1920, e acelerou de verdade durante a Segunda Guerra Mundial porque as mulheres eram puxadas para fábricas enquanto os homens partiam para a guerra. Os homens lutaram, e morreram, e isso é basicamente a história da humanidade. E então na década de 50, quando Betty Friedan começou a reclamar sobre a situação das mulheres, era assim, os soldados voltaram para casa da guerra, todo mundo começou uma família, as mulheres saíram das fábricas porque queriam ter filhos, e foi então que elas ficaram todas oprimidas. Não havia igualdade paras as mulheres antes da pílula anticoncepcional. É completamente insano assumir que qualquer coisa assim pudesse ter possivelmente acontecido. E as feministas acham que produziram uma revolução na década de 1960 que liberou as mulheres. O que liberou as mulheres foi a pílula, e nós vamos ver onde isso vai dar. Há alguma evidência que mulheres que usam pílula não gostam de homens masculinos por causa das mudanças no balanço hormonal. Você pode testar a preferência de uma mulher por homens. Você pode lhe mostrar fotos de homens e mudar a largura da mandíbula, e o que você encontra é que mulheres que não usam pílula gostam de homens de mandíbula larga quando estão ovulando, e gostam de homens de mandíbula estreita quando não estão, e os homens de mandíbula estreita são menos agressivos. Bem, todas as mulheres usando pílula agem como se não estivessem ovulando, então é possível que muito da antipatia que hoje existe entre mulheres e homens exista por causa da pílula anticoncepcional. A ideia de que as mulheres foram discriminadas através do curso da história é chocante.
Agora, grupos que foram discriminados. O que você vai fazer sobre isso? As únicas sociedades que não são sociedades escravagistas são democracias ocidentais iluministas. É isso. Comparadas à utopia, são uma droga. Mas comparadas a qualquer outra coisa – as pessoas não imigram para o Oriente Médio para morar lá, e há boas razões para isso.
A outra coisa a fazer é uma análise multivariada. Por exemplo, se nós quiséssemos predizer o sucesso na vida de longo prazo em países ocidentais, os dois melhores preditores são inteligência e conscienciosidade. As pessoas inteligentes chegam lá antes, e as pessoas conscienciosas trabalham duro. Isso é responsável por cerca de 30 por cento da variância em sucesso de longo prazo na vida. Não há discriminação aí, só competência. E sobre mulheres e o teto de vidro [NT: metáfora que sugere que há barreiras invisíveis ao sucesso das mulheres]? Isso é muito mais complicado do que parece. Por exemplo, eu tenho lidado com muitas empresas grandes de advocacia por anos. Eles não conseguem manter suas mulheres. Todas as grandes empresas de advocacia perdem todas suas mulheres quando elas estão em seus trinta. Você sabe por quê? É fácil. As mulheres se relacionam com pessoas através e acima na hierarquia de domínio, logo mulheres em grandes empresas de advocacia que já passaram dos 30 e que são casadas, talvez elas estejam ganhando $300000 por ano. Seus parceiros também. Eles não precisam ganhar $600000 por ano. Se você quer ganhar $300000 por ano como advogado, essa é sua vida: você trabalha 60-80 horas por semana sem parar, e você está de sobreaviso. Se o seu cliente japonês lhe liga às 3:00 em uma manhã de domingo, sua resposta é ‘sim, eu farei isso imediatamente’ porque eles estão lhe pagando $750 por hora. Essas mulheres têm alta conscienciosidade, são ótimas estudantes, brilhantes na escola de direito, e estelares em seu período de treinamento. Então elas encontram um parceiro, e elas pensam ‘por que diabos eu estou trabalhando 80 horas por semana?’, porque é isso que pessoas sãs pensam. Então só há homens no pináculo absoluto das profissões. Mas não são todos os homens, são essa pequena proporção de homens estranhos. Eles têm QIs de 145 ou mais, e eles são insanamente competitivos e trabalhadores. Não interessa onde você vai colocar uma pessoa assim, ela vai trabalhar 80 horas por semana. A razão pela qual homens fazem isso mais do que mulheres é que o status faz dos homens sexualmente atraentes. Homens são direcionados por status – tanto biológica quanto culturalmente – de uma forma que mulheres não são. Então a questão real, quando você olha essas posições e pensa ‘oh, essas são posições luxuosas, maravilhosas, de plenitude e relaxamento’. Isso é bobagem. Essas pessoas trabalham tanto que é quase inimaginável. Muitas pessoas não só não podem fazer isso, mas não há nem uma chance de que elas gostariam de fazê-lo. Muitas mulheres firmam um relacionamento por volta dos 30. A parte engraçada é que quando você está nos seus trinta é que só então você realmente começa a ter sua própria vida. Quando você tem 18, você é igual a qualquer outro cabeça-dura de dezoito anos, vocês são todos iguais. Pela época em que você tem trinta, você tem experiência idiossincrática suficiente pra meio que moldar sua própria vida, e muitas pessoas se dão conta de que ‘bem, eu não quero trabalhar 80 horas por semana’. Elas querem ter uma família, e não têm tempo. E então quando têm uma família, descobrem que ter um filho – não é um bebê genérico, é uma nova pessoa na sua família. Aquela nova pessoa é A coisa mais importante para você. Ponto. Então as mulheres chegam aí, elas têm dois filhos e pensam ‘eu só vou ter filhos pequenos por cinco anos, você acha que eu vou trabalhar por oitenta horas por semana? Para ganhar um dinheiro de que não preciso? Fazendo algo de que não gosto? Ou eu vou passar tempo com meus filhos?’ Eles não conseguem manter mulheres na advocacia – não há um maldito teto de vidro. As profissões do direito estão desesperadas para manter pessoas qualificadas porque elas não têm o suficiente. Elas as buscam de qualquer lugar – especialmente as mulheres que não só são boas advogadas, mas que também podem gerar negócio. Esse é apenas um pequeno segredo feio sobre a diferença nas estruturas de poder entre homens e mulheres. Os homens fazem quase todos os trabalhos perigosos, os homens trabalham na rua, os homens são muito mais propensos a se mudar do que as mulheres são. Então, se você olha, se você desmonta as estatísticas em termos de salário diferencial, se você equaliza para os outros fatores, mulheres jovens ganham mais dinheiro do que homens jovens. A ideia de que “mulheres ganham $0,70 para cada dólar que um homem ganha” é uma mentira. Pequenos negócios mantidos por homens ganham muito mais dinheiro do que pequenos negócios mantidos por mulheres. Por quê? Porque mulheres começam pequenos negócios quando elas têm filhos, quando elas estão em casa, então os negócios são apenas de meio período. Então é por isso que elas não fazem tanto dinheiro. Não tem nada a ver com preconceito, tem tudo a ver com opções. Então esses argumentos que as pessoas fazem sobre preconceito não estão nem fora da psicologia tribal ainda.
Nós fizemos avanços inacreditáveis em termos de nivelar o campo de jogo, e muito disso foi devido à pura cobiça capitalista. Em sociedades capitalistas, as pessoas são desesperadas por talento. Se elas tiverem que trabalhar com mulheres e minorias, elas geralmente vão. Transformações estão ocorrendo tão rápido que não há nada que você possa fazer para fazê-las ir mais rápido. Todo mundo está gritando ‘preconceito’ – é o pau-para-toda-obra das explicações. Por que a sociedade é assim? Preconceito. Por que ela é assado? Preconceito. Não há nenhum raciocínio envolvido, nenhuma análise multivariada. Isso é repreensível. Warren Farrell escreveu o livro Why Men Earn More [NT: Por que os Homens Ganham Mais]. Ele trabalhava na Organização Nacional das Mulheres em Nova York antes de ter escrito o livro. Ele de fato escreveu o livro, pelo menos em princípio, para suas filhas, porque ele queria ajudar a guiá-las para um status superior. Ele fez uma análise multivariada. Ele foi e viu, e aprendeu mais. Ele descobriu que homens fazem os trabalhos comerciais que pagam mais, são empregos perigosos, são na rua, fazendo trabalho físico duro. Então essas são as outras razões também. Há discriminação com certeza, mas ela conta por talvez dez por cento da variância no sucesso.
Por Jason Tucker e Jason VandenBeukel, em C2C Journal, 1º de dezembro de 2016.
Por Bene Barbosa (com a colaboração de Carlos H. Correia)
Grandes jornais e portais de notícias brasileiros passaram a divulgar a seguinte notícia: “EUA tiveram mais de 350 ataques em massa só este ano”. Vejamos o trecho inicial: “O tiroteio na Califórnia está longe de ser um caso isolado. Somente este ano, segundo levantamento do jornal “Washington Post”, foram 355 ataques com ao menos quatro vítimas entre mortos e feridos, numa média de mais de um por dia.”
Terrível! Quase um tiroteio em massa por dia! Malditas armas e esses americanos malucos! Quanta violência! Temos que desarmar! Isso só acontece porque os americanos possuem muitas armas! Essas e outras expressões pipocam nos comentários das ditas matérias. Mas será verdade? Quais os critérios e a fonte do Washington Post? FBI, CDC? Não! Trata-se de uma ferramenta colaborativa, ao estilo Wikipédia, feita por pessoas favoráveis à maiores restrições chamada “Mass Shootings Tracker”.
Qual a fonte e os critérios para essa mórbida contagem? Well, well... A fonte é.. A própria imprensa! São notícias publicadas em jornais e sites americanos enviadas pelos seus colaboradores! Imaginem a precisão e a confiabilidade de tais dados. Para termos uma pequena ideia do disparate numérico existente entre a realidade e o que vem sendo publicado, peguemos os dados levantados pela ONG Mother Jones, também favorável ao desarmamento, mas que usa os critérios e os dados oficiais do FBI que apontam que houve 73 ataques desde 1982, causando 581 mortes em 33 anos.
Quais os critérios adotados? Para esse pessoal qualquer evento que envolva disparos de armas de fogo que tenha feito 4 ou mais vítimas (entre mortos e feridos) é um “mass shooting, incluindo nesse cômputo o assassino, as vítimas e os agentes da lei. Outro ponto crucial é que a motivação do ataque também é descartada e, assim, um ataque terrorista como desta semana na Califórnia passa a ser mais um evento de “massacre com armas de fogo” enquanto os mesmos jornais continuem afirmando que os ataques em Paris sejam “apenas” atos terroristas. Dois pesos e uma medida em grau máximo.
Não acreditam em mim? Não precisam! Vejamos um exemplo que pesquei no tal levantamento. Caso de “mass shooting” número 66 ocorrido na cidade de Albuquerque no Novo México. O saldo da ocorrência é de um morto e seis feridos e foi noticiada pelo Albuquerque Jornal de 23 de março que inicia a notícia com o seguinte parágrafo:
“Uma briga entre dois grupos que celebravam um aniversário em Los Altos Skate Park no Northeast de Albuquerque explodiu em tiroteio na noite de domingo, deixando um estudante de 17 anos morto no estacionamento e outros seis baleados e feridos”.
Entendeu? Para esse pessoal, uma guerra de gangues, um acerto de contas entre quadrilhas, homicídios encomendados, guerra entre traficantes ou terrorismo, desde que como número de vítima adequados, é um ataque em massa com armas de fogo!
Agora, terríveis casos como o dos dois irmãos que mataram o pai, a mãe e outros três irmãos em Oklahoma em julho deste ano não importam, afinal, usaram facas...
E os problemas não param por aí. Temos ainda a inacreditável ocorrência de triplicidade de eventos – um pecado mortal em qualquer levantamento sério – onde uma mesma ocorrência foi contabilizada três vezes. É o caso dos registros de números 316, 340 e 341 onde 5 pessoas foram feridas em um apartamento no sul de Fort Wort,Texas.
Não bastasse isso ainda encontramos a denúncia da contabilização de casos envolvendo armas de pressão, um dos casos ocorreu em St. Petersburg, Florida, e envolveu alguns feridos por disparos de “chumbinho”. Após a denúncia tais casos parecem ter sido retirados, mas em determina momento estiveram lá, o que joga mais sombras ainda sobre a seriedade de tal levantamento.
Já imaginaram se o Brasil adotasse esse mesmo critério para classificar como “mass shooting” qualquer ocorrência com 4 ou mais baleados? Não tenham dúvidas seriamos os campeões mundiais! Ah! Esqueçam essa bobagem que escrevi. Esqueci, por um momento, que o Estatuto do Desarmamento está aqui para impedir que isso aconteça.
Em resumo, o Washington Post é fonte da imprensa brasileira e a fonte do Washington Post é uma ferramenta colaborativa com critérios para lá de suspeitos, onde há duplicidade de casos e até ocorrência envolvendo armas de pressão. O maior massacre é da credibilidade e a vítima é o leitor.
Bene Barbosa
Presidente do Movimento Viva Brasil e coautor do livro Mentiram Para Mim Sobre o Desarmamento
Hoje quero falar de um herói brasileiro: o professor de História que não é de esquerda. É verdade que todo ofício tem os seus ossos, mas o ofício do professor de História não esquerdista é um ossuário do Khmer Vermelho. Nada se compara às dificuldades deste mártir da educação. Perto dele, nossos problemas são idílicos.
Quando um petista fica sem argumento, costuma encerrar a discussão bradando: “Vá ler um livro de História!” Pois é. Esse professor leu. O problema é que leu não apenas um, mas vários livros. Não se limitou às obras recomendadas pelo MEC e abençoadas pelos discípulos de Paulo Freire; foi muito além. Tanto leu que acabou por descobrir as grandes farsas criadas pela esquerda para reescrever a história segundo a cartilha socialista.
Todos os dias ele arrisca sua reputação e o seu salário nas salas de aula – apenas por amor à verdade
O professor de História que não é de esquerda tem uma característica: ele sempre é muito bom. Só assim, sendo o melhor no que faz e tornando-se indispensável para as escolas sérias, ele consegue sobreviver ao bombardeio maciço dos colegas esquerdistas. O mestre não esquerdista precisa ter um conhecimento vasto, profundo e entusiasmante da matéria que leciona. Se ele é muito bom, sobrevive. Os companheiros dizem: “Ele é direitista, mas...” Ao menor vacilo, no entanto, o tapete lhe será puxado.
E notem bem: o professor de história que não é de esquerda não precisa obrigatoriamente ser de direita, conservador ou coisa que o valha. Basta que ele não comungue das teses da esquerda. O simples fato de ter uma religião ou acreditar que Idade Média e trevas não são sinônimos já faz dele um perigoso inimigo. Citar os 100 milhões de mortos do comunismo ou dizer, candidamente, que nenhuma experiência socialista deu certo na história, ah, isso já é praticamente um atestado de fascismo. Se ainda por cima disser que Che Guevara fuzilou mais que o pior inquisidor queimou ou lembrar que as pessoas fogem de Cuba e não para Cuba, aí já é um delegado Fleury consumado.
Por isso, eu rendo aqui a minha homenagem a esse discreto herói brasileiro que todos os dias arrisca sua reputação e o seu salário nas salas de aula – apenas por amor à verdade. Comparável a ele só existe um: o estudante universitário não esquerdista. Sobre ele falaremos em outra oportunidade.
Que a ciência experimental trabalha com recortes da realidade e, por isso, não pode fazer afirmações gerais sem muitas ressalvas, qualquer pessoa que pare para refletir a respeito por alguns segundos pode concluir. Trata-se de uma necessidade operacional da coisa, e o verdadeiro cientista sabe lidar com isso. O problema é que boa parte dos cientistas não apenas não atua com correção como extrapolou o conceito de Bacon, de que é necessário "espremer" os dados até que provem aquilo que se quer provar, como faria um torturador na necessidade de extrair uma confissão – seja ela verdadeira, seja ela falsa, proferida para acabar com a tortura.
Poucas áreas são tão férteis à manipulação dos dados experimentais quanto a Sociologia. É possível que sejam os cientistas sociais os maiores torturadores na ciência. Aproveitam-se desse trabalho sujo os políticos demagogos e populistas (ávidos por apoio e simpatia popular e necessitados de justificar suas ações e seus gastos) e os jornalistas militantes (ansiosos para que a realidade se encaixe em suas teses, de modo que possam veicular suas opiniões, em vez de notícias).
Pois um vídeo que “viralizou” esta semana foi todo construído em cima de uma sessão de tortura de dados, de amostras e da realidade. Assista ao vídeo, divulgado na página do Governo do Estado do Paraná: https://www.facebook.com/governopr/videos/890716684362421/. O negócio é repleto de equívocos científicos, da exposição de diferentes materiais a diferentes grupos ao tamanho da amostra em relação às conclusões. Mas o que assusta mesmo é a manipulação criminosa na condução da experiência.
Trata-se de um teste com grupos que são expostos a imagens de brancos e negros e que devem dizer o que essas pessoas estão fazendo. Primeiramente, o mediador mostra ao “Grupo 1” fotografias de pessoas brancas em situações comuns – correndo, limpando, jardinando etc. Depois, segundo o vídeo, mostra para o “Grupo 2” “AS MESMAS FOTOS, mas com pessoas negras”. De fato, as situações são as mesmas: corrida, limpeza, jardinagem etc.; de modo que o olho desatento não percebe a manipulação que se processa.
Acontece que, na realidade, os protagonistas das imagens mostradas ao segundo grupo se apresentam de forma muito diferente, o que induz a opinião dos entrevistados. O resultado é que o grupo 1 enquadra as pessoas brancas em atividades, digamos, mais nobres, enquanto o grupo 2 entende que os negros estão em situações depreciativas. Ou seja, o resultado obtido é precisamente aquele pretendido por quem queria divulgá-lo. Como todo experimento científico concebido não para verificar hipóteses, mas para ser um suporte ideológico, amoldando a realidade à opinião de quem o encomendou, esse experimento em questão não foi concebido como deveria, não partiu de uma pergunta: “Há racismo?” Não. Como em toda canalhice científica, partiu-se de uma afirmação; mais do que isso, de um desejo: “Queremos provar que há racismo.”
O experimento não foi conduzido para provar uma hipótese, mas para endossar um sentimento, uma opinião; e para reforçar uma impressão geral (que, aliás, até pode ser verdadeira). Da mesma forma, a edição do vídeo também foi calculada para induzir conclusões no espectador. As imagens mostradas ao segundo grupo aparecem muito mais rapidamente na tela, de modo que você não consegue captar mais do que o quadro geral. Por exemplo, você vê duas pessoas diferentes procedendo com uma limpeza, mas a mulher negra fica menos de um segundo na tela, tempo insuficiente para que se repare nas nuances (mas mais do que suficiente para o apressado usuário de internet chegar à conclusão desejada pelo manipulador).
Com base na observação cotidiana, podemos afirmar que há, sim, racismo. Manifestado de diferentes formas, o racismo é um erro individual, não uma política institucional, de um ente abstrato público ou privado (daí a nova bandeira, “racismo institucional”). Mas, como toda demagogia, o negócio soa bem, causa boa impressão – e não soluciona nada. Entretanto, para dar a impressão de que a coisa é como postulam os justiceiros sociais, os politiqueiros que encomendaram e os supostos cientistas que executaram o experimento apresentam-no como se as opiniões colhidas fossem representativas de uma totalidade. Ou há flagrante estupidez científica (porque sustentam conclusão geral a partir de uma amostra muito pequena e não-representativa do todo), ou há mau-caratismo criminoso (porque apresentam apenas as amostras que confirmam a tese).
O que o Governo do Estado do Paraná fez foi utilizar-se de uma estratégia de quinta categoria, apelando a um suposto embasamento científico para comprovar uma tese e, principalmente, “viralizar” um conteúdo, ganhar likes e compartilhamentos de pessoas ávidas por sacolejar uma bela bandeira na qual se lê: “OLHEM PARA MIM, SOU UMA BOA PESSOA, TENHO BONS SENTIMENTOS” Produziram um material sob medida para que opinadores apressados, que formam suas opiniões com o Jornal Nacional e o Fantástico, pudessem postá-lo no Facebook, com frases de efeito do tipo "Para refletir", "Isso a Globo não mostra" e "Hipocrisia agente vê por aki... Há corda Brasil!".
ANÁLISE DETALHADA
O negócio foi todo engendrado de maneira muito inteligente, para fisgar o público dinâmico e acelerado do Facebook, que, enquanto assiste à novela e fica de olho nas crianças, aterroriza-se com uma “prova” de “racismo institucional” e, segundos depois, compartilha uma receita de bolo, uma frase motivacional ou um vídeo de gatos fofinhos. Essas pessoas estão mal-acostumadas, após anos de manipulação e empulhação; mas, graças à mesma internet que reforça a confusão manicomial em que vivemos, podem fazer esclarecimentos como este.
Graças à internet, canalhices como a dos governantes paranaenses não passam mais incólumes. Canalhices, aliás, que só fazem atrapalhar quem realmente sofre com problemas como o racismo.
A seguir, detalho as comparações feitas pelos “estudiosos” contratados pelo Governo do Paraná e outras questões do tal “viral”. Comecemos com as imagens apresentadas.
HOMENS CORRENDO. Grupo 1 diz que o branco está correndo; grupo 2 diz que o negro está fugindo. Imagens muito parecidas (inclusive, os modelos estão com roupas iguais); contudo, o homem branco tem um olhar distraído, apalermado, olhando para “o nada”, enquanto o negro parece assustado, mirando reto. Há, portanto, uma leve indução.
MULHERES MEXENDO COM ROUPA. Grupo 1 diz que a branca é designer de moda ou consumidora; grupo 2 diz que negra é vendedora ou costureira. Realmente, as fotos são iguais; ambas as protagonistas estão bem vestidas e com a mesma expressão. Sem indução.
HOMENS DE TERNO. Grupo 1 diz que branco é executivo ou profissional de RH; grupo 2 diz que negro é segurança de shopping ou motorista. Os modelos estão vestidos igualmente, mas se postam de maneiras muito distintas. O homem branco transmite arrogância e displicência: ombros caídos, postura relaxada; seu olhar, de baixo para cima, é de enfado; realmente, pode bem ser um executivo prepotente e estressado. Já o negro tem atitude de força e confiança: ombros erguidos, postura ereta; seu olhar, de cima para baixo, é de superioridade; tudo muito típico em um agente de segurança, de alguém que cuida dos outros; meu primeiro palpite seria que é um agente do FBI. Portanto, temos aqui uma comparação indutiva.
HOMENS TRABALHANDO NO JARDIM. Grupo 1 diz que o branco está cuidando do jardim de sua casa; grupo 2 diz que o negro é um jardineiro. Não é preciso argumentar muito; aqui, a indução é constrangedoramente flagrante. Está claro, pela fotografia, que o homem branco, que sorri e olha confiante, está em um momento de lazer, fazendo algo de seu agrado – como o é o ato de cuidar de seu próprio jardim. Já o homem negro está claramente desagradado, carrancudo, com os olhos semi-cerrados, contrariado – como estaria alguém que não faz mais do que cumprir uma obrigação que lhe desagrada. Em tempo: o negro segura uma pesada tesoura de jardim, enquanto o branco trabalha com uma ferramenta mais delicada; elementos que reforçam a diferenciação entre lazer e obrigação.
MULHERES LIMPANDO. Grupo 1 diz que a branca está limpando sua casa; grupo 2 diz que a negra é diarista ou empregada. Novamente, a indução é clara e evidente. Chega a ser patético, pois a mulher branca está limpando com uma felicidade e uma serenidade jamais verificada em nenhum ser humano enquanto tem de dar-se ao dever de limpar a casa, mesmo que seja a sua. Mas, a atitude da branca cumpre seu papel e induz a opinião dos entrevistados. A mulher negra, por sua vez, está séria, concentrada; suas mangas estão arregaçadas e ela usa luvas de borracha, o que indica trabalho pesado, situação diversa à da branca.
MULHERES PICHANDO. Grupo 1 diz que a branca é “grafiteira”; grupo 2 diz que a negra é “pichadora”. As fotos são muito semelhantes. Não há indução.
Outras questões:
AMOSTRA INSUFICIENTE. Como já disse, as opiniões de oito pessoas não podem ser representativas do comportamento institucional geral. Além disso, temos pessoas diferentes opinando a respeito de materiais distintos.
CONDUÇÃO DAS RESPOSTAS. Em dois momentos fica claro que os entrevistados deram respostas induzidas pelas perguntas. A questão central era algo como: “Olhe para a imagem e diga o que a pessoa está fazendo.” Todavia, quando aparece o homem branco jardinando, um dos entrevistados diz: “Não parece ser empregado...”; depois, quando a mulher branca está “grafitando”, uma entrevistada diz: “Grafite é arte, não é ‘vândalo’” (sic). São comentários que extrapolam a questão central e indicam que a manipulação pode não ter se dado apenas com as imagens apresentadas, mas com as perguntas que conduziram as respostas supostamente racistas.
QUEM SÃO OS “ESPECIALISTAS”?
Na página do Governo do Paraná, muitas pessoas apontaram elementos de manipulação do teste. A resposta padrão da assessoria é esta: << O Teste de Imagem é um experimento real, que aconteceu na noite do dia 10/11 em uma sala de Focus Group, em Curitiba. Participaram do teste profissionais RH reais, que foram divididos em dois grupos distintos e emitiram opiniões espontâneas às imagens apresentadas pelo mediador do experimento. >>
Contudo, pesquisando na internet, não encontrei nenhum FOCUS GROUP de Curitiba. Agradeço se alguém tiver a informação de que eles existem de fato. Mas louco é quem duvida de que o Governo do Paraná tomou o nome de um método (“focus group”, grupo focal) para batizar a empresa dos supostos especialistas e dar às pessoas a confortável sensação de que o teste que embasa seus preconceitos do bem é confiabilíssimo. Considerando tudo que analisamos até aqui, é uma perversidade tão absurda quanto possível.
PRECONCEITO VELADO. Que existe preconceito entre as pessoas não se pode negar; inclusive, pode-se verificá-lo em quem se enfureceu com o vídeo porque acha que é depreciativo ganhar a vida limpando casas ou cuidando de jardins.
INVALIDEZ. No Grupo 1 há uma mulher que diz que “grafite é uma arte, não é ‘vândalo’” (sic). Só por essa manifestação o negócio todo já deveria ser invalidado, por contaminação das amostras e incapacidade intelectiva dos entrevistados.
– MAIS MANIPULAÇÃO. O vídeo é encerrado com mais desinformações e fraudes, com apelo a números para reforçar ainda mais o discurso.
– Opiniões pessoais tomadas como evidências científicas: “82,6% dos negros afirmam que a cor da pele influencia na vida profissional.”
– Falsa imputação de crime: “Negros ganham 37% menos que os brancos” / “São a maioria entre os desempregados: 60,6%”. Como se isso fosse resultado de decisões de malvados e racistas empregadores. É mais provável que isso seja conseqüência de uma possível falta de preparo e capacitação, ocasionada – vejam só! – justamente por políticos demagogos que preferem capitalizar em cima de uma “raça”, em vez de fazer algo por seu desenvolvimento.
– Recorte dos dados: “[Negros] Ocupam apenas 18% dos cargos de liderança.” Estamos falando de negros como os das imagens do teste ou de “negros e pardos”? Pois, se forem como os das imagens, segundo o IBGE apenas 5,9% dos brasileiros consideram-se negros, o que revelaria que 18% de negros em cargos de liderança é um índice pra lá de positivo.
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EM RESUMO
Estupidez, demagogia e manipulação institucional – chega de fingir que é normal! Canalhice com o dinheiro público é crime.
Na excelente entrevista abaixo, Jordan Peterson, professor do Dept. de Psicologia da Universidade de Toronto revela como a inoculação da cultura do Politicamente Correto está afetando a percepção das pessoas, estudantes no caso e os afastando da realidade. Trata-se de uma longa e instrutiva entrevista. Imperdível sua leitura.
V.D.
Jordan B. Peterson é um experiente psicólogo, pesquisador e terapeuta canadense. Nesta entrevista, conta como veio a se rebelar contra o que vê como autoritarismo politicamente correto de ativistas de sua universidade (U. de Toronto) e de seu país, e contra um projeto de lei que torna obrigatório o uso de pronomes inventados para pessoas “transexuais não-binárias”.
Você pode nos dar uma breve contextualização da sua carreira acadêmica e dos seus interesses?
Nos dois primeiros anos da minha graduação estudei ciência política e literatura inglesa. Eu era muito interessado em política, mas o que eu estava aprendendo em economia e ciência política simplesmente não estava certo. Havia ênfase demais colocada na ideia de que os interesses econômicos eram o motivador primário para seres humanos, e isso não era nem um pouco óbvio para mim. Eu estava gastando muito tempo pensando na Guerra Fria, e a Guerra Fria não foi primariamente uma questão econômica. Então comecei a cursar aulas de psicologia, e estava interessado em psicologia clínica. Fiz meu PhD orientado pelo Dr. Robert Pihl, e trabalhei com abuso de drogas, alcoolismo e agressão – havia uma ênfase biológica pesada. Fiz meu pós-doutorado com o Dr. Pihl e Maurice Dongier. Então lecionei em Harvard por seis anos, e estou na Universidade de Toronto desde então.
Meu interesse primário sempre foi a psicologia da crença. Parcialmente crença religiosa, e ideologia como uma subcategoria da crença religiosa. Uma das proposições de Jung era que qualquer coisa que uma pessoa dá o mais alto valor é seu deus. Se as pessoas acham que são ateias, isso significa que elas estão inconscientes de seus deuses. Em um sistema religioso sofisticado, há uma polaridade positiva e negativa. Ideologias simplificam essa polaridade e, fazendo isso, demonizam e simplificam demasiadamente. Fiquei interessado em ideologia, em grande parte, porque fiquei interessado no que houve na Alemanha nazista, na União Soviética, e na Revolução Cultural na China, e ocorrências equivalentes em outras partes do mundo. Eu me concentrei mais na Alemanha nazista e na União Soviética. Eu estava particularmente interessado no que levou pessoas a cometerem atrocidades a serviço de suas crenças. O lema do Museu do Holocausto em Washington é “não devemos esquecer nunca”. Aprendi que você não pode se recordar do que você não entende. Pessoas não entendem o Holocausto, e elas não entendem o que aconteceu na Rússia. Tenho esse curso chamado “Maps of Meaning” [NT: Mapas de Sentido], que é baseado em um livro que escrevi com o mesmo nome, e ele descreve essas ideias. Uma das coisas de que estou tentando convencer meus alunos é que se eles tivessem vivido na Alemanha na década de 1930, eles teriam sido nazistas. Todo mundo pensa “eu não”, e isso não está correto. Foram em grande parte pessoas comuns que cometeram as atrocidades que caracterizaram a Alemanha nazista e a União Soviética.
Parte da razão pela qual eu me vi envolvido com essa controvérsia [sobre identidade de gênero] foi devido ao que eu sei sobre como as coisas deram errado na União Soviética. Muitas das doutrinas que fundamentam a legislação à qual eu me oponho compartilham estruturas similares com as ideias marxistas que dirigiram o comunismo soviético. A coisa à qual eu mais me oponho era a insistência para que as pessoas usassem essas palavras inventadas como ‘xe’ e ‘xer’ [NT: pronomes ditos neutros, equivalentes a “elx”/”delx” em português] que são construções de autoritários. Não existe a menor esperança de que eu use a linguagem deles, porque eu sei a onde isso leva.
Há vários casos onde a expressão livre tem sido atacada, por que você escolheu esse assunto particular?
Esse é um discurso muito coercitivo. A Suprema Corte nos Estados Unidos considerou que discurso coercitivo é inaceitável por duas razões. Uma é para proteger os direitos de quem fala, outro é para proteger os direitos do ouvinte. O ouvinte tem o direito de ser informado e instruído sem ser indevidamente influenciado por fontes ocultas. Se seu discurso é coercitivo, não é você quem está falando, é uma outra entidade que está compelindo seu discurso. Então eu atualmente acho que o Projeto de Lei C-16 é inconstitucional. Estou usando um caso legal americano, mas os princípios se aplicam. Isso só não chegou à nossa Suprema Corte ainda.
Para mim isso se tornou um problema porque não existe a menor chance de que eu vá usar linguagem radical, autoritária. Eu estudei isso psicologicamente, e sei o que isso faz.
Eu também fui profundamente influenciado pelo livro de [Aleksandr] Solzhenitsyn Arquipélago Gulag. As pessoas dizem que o marxismo real nunca foi tentado – não na União Soviética, nem na China, em Camboja, na Coreia, aquilo não era o marxismo real. Eu acho esse argumento especioso, chocante, ignorante, e talvez também malévolo ao mesmo tempo. Especioso porque Solzhenitsyn demonstrou sem uma sombra de dúvidas que os horrores [do sistema soviético] eram uma consequência lógica das doutrinas embrenhadas no pensamento marxista. Eu acho que Dostoyevsky viu o que estava a caminho e Nietzsche escreveu sobre isso extensivamente na década de 1880, expondo as proposições que são encapsuladas na doutrina marxista, e alertando que milhões de pessoas iriam morrer no século XX por causa dela.
Você pintou um quadro bem sombrio para o futuro.
Há coisas sombrias acontecendo. Para começar, o Projeto de Lei C-16 codifica construtivismo social no tecido da lei. O construtivismo social é a doutrina de que todos os papeis humanos são socialmente construídos. Eles são desvencilhados da biologia subjacente e da realidade objetiva subjacente. Então o projeto C-16 contém um ataque à biologia e um ataque implícito à ideia da realidade objetiva. Isso também é flagrante nas políticas da Comissão dos Direitos Humanos de Ontário e na Declaração dos Direitos Humanos de Ontário. Ele diz que a identidade é puramente subjetiva. Então uma pessoa pode ser homem em um dia e mulher no próximo, ou homem em uma hora e mulher na próxima.
Como você vê o futuro do discurso público nesse país se nós não revertermos o curso em coisas como o C-16?
Eu não tenho ideia. Acho que estamos num tempo de caos e nada pode acontecer em um tempo de caos. Eu não sei o que vai acontecer na universidade na próxima semana. Tem um debate no sábado às 9:30 da manhã. Ele será exibido ao vivo no meu canal do YouTube. Eu não tenho ideia de quais serão as consequências do debate, não tenho ideia se estarei lecionando em janeiro. A universidade me disse que cada vez que eu insistir que não irei usar aqueles pronomes [de gênero neutro], a probabilidade de que estarei lecionando em janeiro diminui.
Você acredita que você ou outros poderiam ser presos por se recusarem a obedecer àquelas leis?
Não há dúvida sobre isso. Os tribunais de direitos humanos ganharam o direito de manter pessoas em custódia. Bem, você será mantido em custódia se não pagar a multa. Meus oponentes dizem ‘você está apenas fomentando o medo. Nós não temos de verdade tanto poder assim’. Então por que mudar o código criminal? Por que colocar os corretivos de discurso de ódio lá? A palavra final na lei é o encarceramento. Não há dúvida sobre isso. Quando eu fiz o vídeo em 27 de setembro, disse ‘provavelmente fazer esse vídeo por si é ilegal’. Não só isso, a universidade é tão responsável quanto eu por fazê-lo, porque isso está no código dos direitos humanos. A universidade leu as malditas políticas e seus advogados as escrutinaram, e concluíram exatamente o que eu concluí. É por isso que eles me enviaram duas cartas de aviso. Eles estão no cabide para qualquer coisa que seus empregados disserem, se ou não as consequências do que eles disserem forem intencionais ou não, independente se houve ou não uma reclamação.
Isso inclui coisas que meus empregados dizem em seu tempo privado?
Isso inclui tudo que eles dizem. Não importa se pessoas reclamam ou não. Mesmo se ninguém reclamar, ou mesmo se o efeito não for intencional. A outra coisa que está inclusa nessa lei e nas políticas relacionadas – e isso também é cada vez mais o caso em tribunais de assédio sexual em campi universitários nos quais o governo da [Premiê de Ontário Kathleen] Wynne está fazendo pressão como louco – eles mudaram dois princípios legais. Não é ‘inocente até que se prove culpado’, é ‘preponderância de evidência,’ e não é intenção, é resultado. Essas transformações são tão amplas, é quase inimaginável.
Você está sugerindo que eles alteraram a regra da lei como nós tradicionalmente a conhecemos?
Eles alteraram. Eles dizem ‘o que você diz machuca meus sentimentos’ – e isso é parte do ataque sobre o mundo objetivo – sua intenção é irrelevante. Minha resposta subjetiva é o fator determinante. A ideia de que eles ousariam implodir a doutrina da intenção é inacreditável.
Você está surpreso que quase metade do cáucus do Partido Conservador do Canadávotou a favor do C-16?
Não só isso, não há uma convenção de liderança acontecendo agora? Algum dos candidatos comentou qualquer coisa sobre isso? Não. Por quê? Porque eles estão com medo. Eu acho que o fato de que ninguém comentou sobre isso é uma indicação de como até para conservadores, especialmente no Canadá, a demanda por ortodoxia foi tão longe que mesmo conservadores estão com medo de serem conservadores. Essas coisas não são fáceis de entender. Você pode perguntar, ‘por que você não pode simplesmente perguntar às pessoas do que elas querem ser chamadas?’ Bem, quando alguém questiona seu uso de pronomes, isso coloca você no holofote. Você não sabe por que usa os pronomes que usa. Você os usa porque todos os outros os usam – isso é uma convenção social. Então outra pessoa diz ‘é um sinal de respeito usar um pronome, e é um sinal de respeito usar o pronome de escolha de alguém.’ Esses são assaltos filosóficos de ampla escala. Se você não está preparado para eles, tudo que você pode fazer é ficar desnorteado, e seu padrão vai ser ‘bem, talvez nós devêssemos ser legais’.
Então talvez alguns deles votaram a favor porque eles não entendem os problemas filosóficos e apenas não quiseram ofender ninguém?
É por isso que eu estou tentando separar esses argumentos. Primeiro, “ele” e “ela” não são sinais de respeito. Eles são os termos mais casuais possíveis. Se eu me refiro a alguém como “ele” ou se eu me refiro a alguém como “ela”, isso não é um sinal de respeito, é só categorização do tipo mais simples e óbvio. Não há nada sobre isso que seja individual, ou característico de respeito. Segundo, você não tem o direito de exigir de mim que eu fale qualquer coisa com relação a você que seja respeitoso. O melhor que você pode esperar de mim é neutralidade cética e confiança corajosa. É isso. Isso é o que você consegue de mim.
Você poderia definir esses dois termos?
Neutralidade cética é ‘você é um balde de cobras, assim como eu. Entretanto, se você estiver disposto a manter sua palavra, e se eu estiver disposto a manter minha palavra, então nós somos capazes de nos envolver em interações mutualmente benéficas, logo é isso que nós vamos fazer’. A razão pela qual eu disse confiança corajosa é para distingui-la de inocência. Pessoas inocentes pensam que todo mundo é bom. Isso é falso, todo mundo não é bom. Mas agir de uma forma que seja hostil e cética e antissocial é completamente contraproducente. Então o que você faz se você é uma pessoa madura é você diz ‘bem, beleza, você tem um lado sombrio, eu também. Isso não quer dizer que nós não podemos nos envolver em interações produtivas’. Nós fazemos isso mantendo nossas malditas palavras. A honestidade nos simplifica ao ponto onde nós podemos nos envolver em interações mutuamente benéficas. Mas você certamente não consegue meu respeito exigindo-o. Você não tem qualquer direito de me pedir para marcá-lo como especial de qualquer maneira.
Então nós não deveríamos chamar alguém de ‘sua majestade’ só porque eles pediram isso?
Bem, esse é outro problema que está se escondendo sob o argumento da subjetividade, uma vez que você divorcia a identidade de uma base objetiva. Essas pessoas [defensoras de múltiplas identidades de gênero e leis para protegê-las] afirmam que identidade é uma construção social, mas mesmo que essa seja sua afirmação filosófica fundamental, e que eles a tenham inserido na lei, eles não agem de acordo com aqueles princípios. Ao invés disso, eles vão direto à subjetividade. Eles dizem que sua identidade nada mais é do que seu sentimento subjetivo daquilo que você é. Bem, isso também é uma ideia exageradamente empobrecida do que é que constitui identidade. É como a alegação de uma criança egocêntrica de dois anos, e eu quero dizer isso tecnicamente. Sua identidade não é só como você sente sobre você mesmo. É também como você pensa sobre você mesmo, é o que você sabe sobre você mesmo, é seu julgamento informado sobre você mesmo. Ela é negociada com outras pessoas mesmo se você for vagamente civilizado porque de outra forma ninguém lhe suporta. Se sua identidade não for um híbrido daquilo que você é e daquilo que as outras pessoas esperam, então você é como a criança no parque com quem ninguém pode brincar.
Além do mais, sua identidade é um veículo prático que você usa para manobrar a você mesmo durante a vida. Em sua identidade real, você é um advogado, você é um médico, você é uma mãe, você é um pai, você tem um papel que tem valor para você e outros. Nada disso é subjetivamente definido. Então isso é completamente absurdo, e filosoficamente primitivo, e psicologicamente errado. Ainda assim, está inserido na lei. Eu acho que a lei faz das discussões de biologia e gênero ilegais. Acho que nós tivemos um gostinho disso na entrevista da TVO Agenda que eu tive onde [o professor de estudos transgêneros da U de T] Nicholas Mack disse ‘bem, o consenso científico das últimas quatro décadas é que não há diferença biológica entre homens e mulheres’. Isso é uma proposição absurda. Há diferenças entre os sexos em todos os níveis de análise. Há escalas de masculinidade/feminidade que foram derivadas; elas são basicamente derivações secundárias de descritores de personalidade. Há diferenças enormes de personalidade entre homens e mulheres. Há literatura explorando diferenças entre homens e mulheres em personalidade em muitas, muitas sociedades no mundo todo. Eu acho que a maior publicação examinou 55 sociedades diferentes. E eles ranqueiam as sociedades por igualdade sociológica e política. A hipótese era que se você equaliza o ambiente entre homens e mulheres, você erradica as diferenças entre eles. Em outras palavras, se você trata meninos e meninas igual, as diferenças entre eles desaparecerão. Mas não é isso que os estudos mostraram. Na realidade, elas se tornam maiores. Aqueles são estudos de dezenas de milhares de pessoas. A teoria do construtivismo social foi testada. Ela falhou. A identidade de gênero é muito determinada biologicamente.
Você vê algum paralelo entre esse assunto e outras das causas da ‘justiça social’ que têm surgido nos últimos poucos anos, como Black Lives Matter [Vidas Negras Importam] ou IdleNoMore [OciosoNãoMais]?
É tudo parte e parcela da mesma coisa. Há uma guerra acontecendo no coração da nossa cultura. Muitas pessoas têm falado sobre politicamente correto, e o fato do quanto isso é pernicioso. Frequentemente, isso apenas desaparece no éter. Eu acho que o que eu fiz foi diferente porque havia algo que eu disse que não faria. Isso pegou o geral e o tornou específico.
No cristianismo, há a ideia do Cristo geral, que é a “Palavra” que Deus usou para transformar o caos em ordem. Por outro lado há o Cristo específico, um carpinteiro no Oriente Médio 2000 anos atrás. Então há essa noção estranha no cristianismo entre esse princípio geral, que é o logos aproximadamente falando; o logos é a coisa que media entre a ordem e o caos e é princípio bastante abstrato; e o ser humano específico que teve uma identidade específica ligada a um tempo e local específico, fazendo o indivíduo arquétipo, e isso faz uma história inacreditavelmente atraente. O arquétipo é muito abstrato. É como falar ‘os caras bons ganharam’ – não há história ali. Eu acho que o que eu fiz foi tornar o geral concreto e específico, e tracei uma linha. Agora o preço que você paga por traçar uma linha – especialmente com o material politicamente correto – é que você vai ser difamado como um fanático. As pessoas da justiça social estão sempre do lado da compaixão e dos ‘direitos das vítimas’, então objetar a qualquer coisa que eles façam lhe torna instantaneamente um perpetrador. Não há lugar onde você possa permanecer sem ser vilificado, e é por isso que isso continua rastejando adiante.
Esse não é o resultado lógico da aplicação tática de Saul Alinsky?
Exatamente certo. A coisa é que se você substitui compaixão por ressentimento, então você entende a esquerda autoritária. Eles não têm compaixão, não há compaixão ali. Não há compaixão alguma. Há ressentimento, fundamentalmente.
Em um editorial opinativo do National Post você escreveu que ‘palavras como zhe/zher [NT: equivalentes a elx/delx] são as vanguardas de uma ideologia de esquerda radical que é assustadoramente similar ao marxismo’. Você pode elaborar?
Identidade atribuída é opressão. Identidade atribuída é a identidade que é atribuída a você pela estrutura de poder – o patriarcado. A única razão pela qual o patriarcado lhe designa um status é para lhe oprimir. E assim a linguagem que lhe liberta do status é linguagem revolucionária. Então, como um exemplo de linguagem revolucionária, nós vamos explodir as categorias de identidade de gênero, porque o conceito de mulher é opressivo. A filosofia antipatriarcado é predicada na ideia de que todas as estruturas sociais são opressivas, e não muito mais que isso. Então atacar a estrutura é questionar seus esquemas categóricos em todo nível possível de análise. E o nível mais fundamental que os radicais antipatriarcado elencaram é gênero. Ele é uma peça de identidade que crianças geralmente assimilam por volta dos dois anos – ele é bastante fundamental. Você poderia argumentar que não há nada mais fundamental. Entretanto, eu não sei de nada que seja mais fundamental, mais básico, e que teria sido considerado como mais inquestionável, mesmo há cinco anos atrás.
Você acredita que a sociedade deveria traçar uma linha no que se refere a limitações para discurso de ódio?
Não. As leis sobre discurso de ódio estão erradas. A questão – não uma questão, mas A questão – é ‘quem define o que é ódio?’ Isso não é o mesmo que dizer que não existe discurso de ódio – claramente existe. Leis contra discurso de ódio reprimem, e eu quero dizer no sentido psicoanalítico. Elas fazem [o discurso de ódio] clandestino. Isso não é uma boa ideia, porque as coisas ficam feias quando você as transforma em clandestinas. Elas não desaparecem, apenas apodrecem, e não são sujeitas à correção. Eu fiz esses vídeos, e eles têm sido sujeitos a uma quantidade tremenda de correção nas últimas seis semanas. Eu não quero dizer apenas por parte da resposta do meu público, mas também parcialmente da resposta da universidade, parcialmente de um grupo de amigos que têm estado revisando meus vídeos e os criticando até a morte. É por isso que a liberdade de expressão é tão importante. Você pode se esforçar para formular algum argumento, mas quando você o lança para o público, há uma tentativa coletiva de modificá-lo e melhorá-lo. Então, sobre o assunto discordo de ódio – digamos que alguém seja um negacionista do Holocausto, porque essa é a rotina padrão – nós queremos essas pessoas lá fora, em público, de forma que você possa lhes dizer que elas são historicamente ignorantes, e porque suas visões são infundadas e perigosas. Se você as torna clandestinas, não é como se elas parassem de conversar umas com as outras, elas apenas não conversam com qualquer outro que discorde delas. Essa é uma ideia muito ruim e é isso que está acontecendo nos Estados Unidos agora. Metade do país não conversa com a outra metade. Você sabe do que você chama pessoas com as quais não fala? Inimigos.
Se você tem inimigos, você tem guerra.
Se você para de falar com pessoas, ou você se submete a elas, ou vai à guerra com elas. Essas são suas opções e não são boas opções. É melhor ter uma conversa. Se você coloca restrições na expressão, então você não pode de fato falar sobre as coisas difíceis sobre as quais se precisa falar. Eu tenho aproximadamente 20000 horas de prática clínica e tudo que eu faço por 20 horas semanais é conversar com pessoas sobre coisas difíceis – as piores coisas que estão acontecendo em suas vidas. Essas são sempre conversas difíceis. As conversas que são mais curativas são simultaneamente as que são mais difíceis e mais perigosas. Muitas pessoas normais não terão essas conversas. É por isso que tantos casamentos se dissolvem. As pessoas não gostam de ter essas conversas. Parte disso também é devido – digamos que você tenha tido uma pequena discussão com sua esposa, e você sabe que tem algo mais ali do que a coisa pequena que lhe está incomodando, e você pergunta ‘sobre o que é que REALMENTE você está chateada?’ Tente voltar atrás. Você pode descobrir que ela está chateada com algo que o seu avô fez à sua avó duas gerações atrás que ainda não foi resolvido na sua família, e esse é o elemento determinante de sua atitude no momento presente. Se você desembalar isso, entretanto, então você não precisa vivê-lo de novo e de novo.
Também há essa ideia de que você não deveria dizer coisas que machucam os sentimentos das pessoas – essa é a filosofia da esquerda compassiva. Isso é tão infantil que está além da compreensão. O que disse Nietzsche: ‘você pode julgar o espírito de um homem pela quantidade de verdade que ele pode tolerar’. Eu também falo isso aos meus alunos, você pode dizer quando está recebendo educação porque você está horrorizado. Então, se for agradável e seguro, é como se você não estivesse aprendendo nada. As pessoas aprendem as coisas do jeito difícil.
O que acontece quando aquela verdade de fato contribui para a violência contra grupos?
Você escolhe seu veneno, e a liberdade de expressão é o veneno certo. Há grupos que defendem o ódio, mas essa não é a questão. A questão é se reprimi-los faz as coisas melhores ou piores. Eu diria que [os reprimir] apenas as faz piores. Existem muitas horas em que você não tem uma boa opção. As pessoas acham que se não deixarmos eles falarem, isso vai sumir. Não funciona assim de forma nenhuma. Na verdade, se eles são paranoicos, você apenas justifica sua paranoia. Por fazer deles clandestinos, você não os enfraquece. Você apenas lhes fornece algo atraente contra o que lutar. Você os transforma em heróis aos seus próprios olhos.
Você pode comentar sobre a resposta específica da Universidade de Toronto, a carta que você recebeu do reitor da Faculdade de Artes, David Cameron?
Eles conversaram com seus advogados, e eles estão fazendo exatamente o que pessoas de RH sempre fazem. Se você quer se livrar de alguém, você lhe escreve uma carta. Fale para eles o que estão fazendo errado, fale para eles pararem, e fale gentilmente. Então você escreve uma segunda carta, e lhes diz as mesmas coisas, só que não tão gentilmente. Então você lhes dá uma terceira carta, e depois de lhes dar uma terceira carta, se eles não acatarem, então você pode fazer o que quiser, você deixou sua trilha de papeis. Os advogados checaram as políticas no website da OHRC [NT: Ontario Human Rights Commission, Comissão de Direitos Humanos de Ontário], e concluíram que minha interpretação da lei está absolutamente correta. É pior que isso, entretanto. É tipo ‘tudo bem, isso é contra a lei, supõe-se que a universidade deve seguir a lei, e eu não estou fazendo isso, pelo menos em princípio.’ Então eles têm uma obrigação legal e ética de fazer o que fizeram, mas eles fizeram de uma forma traiçoeira. Na primeira carta, eles me citaram errado. Então eu lhes disse ‘vocês deveriam pegar essa carta de volta e reescrevê-la porque ela não está precisa, e se vocês querem me dar uma carta de aviso, é do seu melhor interesse fazê-lo certo.’ A segunda carta foi ainda pior. Ela dizia que eu contribuí para esse clima de medo e perigo no campus, o que eu pensei ser uma afirmação especiosa e infundada pra início de conversa, mas quando eles mencionaram que tinham recebido muitas cartas de grupos no campus da universidade, eles não mencionaram as 500 cartas que receberam de pessoas me apoiando, sobre as quais eu sei porque fui copiado nelas. Eles não mencionaram a petição com 10000 assinaturas, que eu também recebi. Essa é a mentira. Eles não precisavam omitir isso. Eles podiam ter dito ‘nós entendemos que há uma variedade de opiniões sobre isso, e você tem apoio público substancial. Mas a verdade é que, até onde podemos dizer, isso é ilegal, e é nossa obrigação lhe dizer, você deve se adequar às políticas da universidade e à lei.’ Eles podiam ter feito isso, mas não fizeram.
Então, quando nós começamos a conversar sobre o debate depois da segunda carta, eu fui falar com David Cameron. Eu achei que já que esse é um assunto de grande interesse público aqui, talvez nós devêssemos ter um debate sobre isso. Isso é o que uma universidade faria, se fosse um lugar civilizado, então foi isso que eu recomendei ao Cameron. Ele levou o assunto para a administração da universidade, e eles concordaram. Mas eles me colocaram uma restrição: no debate, não tenho permissão para repetir a declaração de que não vou usar esses pronomes preferidos. É um pouco absurdo que nós vamos continuar com um debate sobre liberdade de expressão, e eu não posso repetir a afirmação central que iniciou o debate. Então eu lhes escrevi e disse ‘olha, vocês estão fazendo isso errado. Ao invés de me dizer “olha, você não pode dizer isso”, o que vocês DEVERIAM estar fazendo é dizendo “você pode estar errado, mas você deve ter permissão para dizê-lo, e nós vamos apoiá-lo por todo o caminho até a Suprema Corte. Nós usaremos nossos recursos legais e lhes colocaremos à sua disposição, e nós vamos combatê-los através dos tribunais.” Cameron disse categoricamente que eles não iriam fazer aquilo. Eles tiveram que escolher entre justiça social e liberdade de expressão. Eles escolheram justiça social – o que é equidade, ou igualdade de resultado – porque é isso que eles estão ensinando. Eu decidi que iria adiante com o debate de qualquer maneira porque, considerando todas as coisas, você nem sempre tem uma boa opção. Eu decidi escolher entre o pior de dois males e prosseguir com o debate.
Então, só pra clarificar suas ideias sobre o projeto de lei C-16. Você acha que seu vídeo do YouTube definitivamente o viola?
A universidade pensa que sim. Eu pensei que sim. Eu li as malditas políticas. Eu chequei as políticas no website dos Direitos Humanos de Ontário porque eu acho que aquelas são as pessoas que estão por trás de tudo isso. A escrita naquele website é pavorosa de uma perspectiva técnica – ela é incoerente. Eles são a pequena confraria semiletrada, filosoficamente ignorante, malévola que está por trás disso. Você esperaria mais do que aquilo de quase-judiciários.
O que você espera alcançar com tudo isso?
Espero que eu possa continuar a educar pessoas, tanto na universidade quanto, se não na universidade, então no YouTube. Pela primeira vez na história humana, a palavra falada tem o mesmo alcance e longevidade que a palavra escrita. Não só isso, o tempo entre a enunciação e a publicação é zero. Há três meses, tive alguns assistentes de pesquisa escrevendo as transcrições de minhas palestras para que pessoas pudessem assistir minhas palestras com legendas porque é mais fácil para as pessoas seguirem, e eu estava checando meu crescimento em termos de assinantes, e meio que brincando pensei que logo poderia ter mais assinantes no meu canal de YouTube que a U de T tem de alunos. Eu não sei qual a significância disso. Pode ser que a universidade já esteja morrendo. Isso não me surpreenderia. Quero dizer, eu acho que grandes partes da universidade estão irrevogavelmente corruptas: sociologia, perdida; antropologia, perdida; história, grandes partes dela estão perdidas, os clássicos, literatura, trabalho social, ciência política em muitos lugares, e isso não cobre estudos femininos, estudos étnicos. Eles provavelmente começaram perdidos, e as coisas ficaram muito piores. Eu acredito que agora, com a exceção do ramo das ciências, tecnologia, engenharia e matemática (STEM [NT: sigla em inglês]), universidades fazem mais mal do que bem. Acho que elas produzem servos nos Estados Unidos porque as taxas de ensino aumentaram tanto e você não pode declarar falência sobre seus empréstimos estudantis. Nós estamos ensinando mentiras a estudantes universitários, e passando a mão em sua cabeça, e eu vejo isso como contraproducente.
Há inclusive um programa antipsicológico no OISE [Ontario Institute for Studies in Education, Instituto de Ontário para Estudos em Educação]. Ele começou quando eles se livraram de [Ken] Zucker, e você não para em uma pessoa. Zucker era um psicólogo mais que credível. Ele mantinha um programa muito bom para pessoas que tinham disforia de gênero, e ele era conservador. A atitude de Zucker era que se você tivesse um filho que está reclamando de seu gênero, você os acompanha, e vê o que acontece, e você deriva suas conclusões de sua pesquisa. Oitenta por cento deles se declaram homossexuais, noventa por cento se resolvem com sua identidade biológica quando adultos. Sua conclusão lógica é para manter a maldita faca cirúrgica embainhada, e não trazer os hormônios à cena tão cedo. Bem, tudo isso acabou – é ilegal agora para médicos questionar a decisão de uma criança de três anos de que ele é ela. E se os pais quiserem começar a transformação biológica, é ilegal para os médicos rejeitar isso.
Você viu que Lauren Southern conseguiu identidade de homem do governo de Ontário? Isso lhe mostra o que a lei fez com os médicos. Aquele médico não pôde questioná-la porque isso é ilegal. Então agora Lauren Southern tem identificação governamental como um homem. Ela foi ao quiosque do Serviço de Ontário de salto alto e maquiagem. Ela não esperava conseguir o maldito documento de identificação. Isso também significa que o governo está tão emaranhado nessa bagunça que eles vão de fato sacrificar sua própria identificação. Pense sobre isso – pense sobre o que vai acontecer com nossa sociedade se a identificação das pessoas se tornar instável.
Você disse na sua entrevista com Gad Saad que liberdade de expressão é – “O direito e talvez a obrigação de conduzir discursos que são direcionados à solução de problemas sérios.” O que acontece quando o próprio discurso se transforma em arma?
Erros se acumulam, e o caos toma conta. Eu estudei mitologia por um longo período. A história do dilúvio significa que se você deturpa as coisas suficientemente, tudo desmorona. Se você interfere com o mecanismo pelo qual as pessoas formulam problemas, os resolvem, e negociam sua implementação, então problemas acumulam e se multiplicam. É isso que é uma hidra – corte fora uma cabeça, sete crescem novamente. Essas coisas podem se multiplicar até sair do controle muito mais rápido do que as pessoas imaginam.
Isso é parte do que explica os resultados da eleição dos Estados Unidos?
Os democratas decidiram na década de 1970 que eles iriam abandonar a classe trabalhadora e fazer política identitária, e a classe trabalhadora lhes tratou com descaso. [Hillary Clinton] perdeu todos os estados do “rust belt”. Você realmente tem que trabalhar muito para perder os estados do “rust belt” se você for um democrata. Então, eles conseguiram exatamente o que se esperava. E todos os esquerdistas estão preocupados que Trump é um demagogo de direita. Isso é insano – ele é um liberal. Ele foi um apoiador de Clinton. Digo, você poderia dizer que ele é um oportunista, ele é narcisista, mas ele não é um demagogo de direita. Eu não acho que ele é nem um pouco mais narcisista ou oportunista que Newt Gingrich, eu não acho que ele é nem um pouco mais narcisista ou oportunista que Hillary Clinton. Eu não acho que o que aconteceu nos Estados Unidos é de fato uma surpresa. Acho que a esquerda está dizendo “Meu deus, isso é uma catástrofe”. Não é uma catástrofe maior do que Margaret Thatcher ou Ronald Reagan no que se refere a até onde a demagogia de direita vai. Eu não acho que isso é nem um pouco diferente da revolução de Reagan, ou o que aconteceu com Thatcher, em termos de seriedade. Trump é um moderado. Ele é um moderado barulhento, e ele é um pouco populista, mas fundamentalmente ele ainda é um moderado – e as pessoas estão reagindo como se ele fosse Hitler. Você poderia pegar um Hitler – e ele certamente não é Trump. Ele era um candidato qualificado? Não, eu não acho era, mas ele fez várias coisas certo, e uma delas foi que ele não deu o mesmo discurso enlatado o tempo todo, e ele não foi manipulado até à morte. As pessoas viram isso e pensaram “ele não está fabricando cada declaração. Ele é meio que um idiota, mas pelo menos nós sabemos o que ele pensa”. Então as pessoas foram à cabine de votação, e elas pensaram “que se foda, vou votar no Trump” e foi isso que elas fizeram. Foi igual ao Brexit. A esquerda forçou a barra, esculhambou demais, e as pessoas pensaram “nós não vamos mais aguentar isso”, e então os democratas abandonaram a classe trabalhadora. Eu não sou um admirador do [Bernie] Sanders porque eu não acho que o tipo de socialismo que ele promove é uma solução defensável, mas eu certamente entendo que a classe trabalhadora nos Estados Unidos tem sido avacalhada desde 1975. Suas instituições sociais estão desmoronando, seus salários têm sido aplainados, os avanços da Índia e da China têm todos sido colocados nas costas da classe trabalhadora americana. Daí os intelectuais pensam ‘oh, esses caipiras, eles são estúpidos’. Pessoas de negócios NÃO são estúpidas. De fato, elas tendem a ter muito mais senso do que muitos dos intelectuais que eu conheço, ainda que não sejam tão boas em articular seus argumentos.
Como você define justiceiros sociais?
Eles são aqueles que transformam a compaixão em arma.
Você vê a cultura da justiça social como uma ameaça à democracia, e por quê?
Absolutamente. Não há nada sobre os tipos autoritários do PC [NT: politicamente correto] que tenha qualquer gratidão para com qualquer instituição. Eles têm um termo – patriarcado. Isso engloba tudo. Isso significa que tudo que nossa sociedade é está corrupto. Não há linha, eles querem dizer tudo. Vá online, vá checar dez websites de estudos femininos. Escolha-os aleatoriamente. Leia-os. Eles dizem ‘a civilização ocidental é um patriarcado corrupto até seu maldito núcleo. Nós temos que derrubá-la’.
O que significa democracia, o que significa liberalismo, o que significa direitos humanos.
Significa a coisa toda. O edifício inteiro. E ao que eles a comparam? À utopia. Por que você acha que feministas iriam atrás de Ayaan Hirsi Ali? Ela é uma heroína, aquela mulher. Ela é da Somália. Ela cresceu em um patriarcado muito opressor – um real. Ela escapou de um casamento arranjado, e se mudou para a Holanda e se apaixonou pela Holanda. Duas coisas realmente lhe chocaram inicialmente antes de ela ir à universidade e se tornar uma estudante do Iluminismo. Número um – ela esperava em um ponto de transporte público, e uma placa digital diria quando o transporte público iria chegar, e ele chegava exatamente quando o placar disse que iria. Isso era inacreditável para ela. E outra coisa que ela não conseguia acreditar era que a polícia lhe ajudaria. Você sabe que está num país civilizado quando a polícia não lhe estupra e rouba tudo que você tem. As pessoas radicais de esquerda não dão a mínima para nada disso.
Há algo mais que você gostaria de adicionar?
Você perguntou o que as pessoas podem fazer. Elas podem se recusar. Elas podem se recusar a serem empurradas mais nessa direção. Tudo que é predicado sobre identidade de grupo, nós temos que nos livrar disso. Os habitantes de Alberta eram muitos céticos sobre Pierre Trudeau e todas as suas mudanças, especialmente com a introdução da Carta [Estatuto de Direitos Humanos], e eles estavam certos sobre isso também. Nós nunca devíamos ter tido um projeto de lei de direitos humanos no Canadá. Isso foi uma importação da Lei Civil Francesa colocada sobre a Lei Comum Inglesa, e isso foi um erro. Na Lei Comum Inglesa, você tem todos os direitos que existem exceto aqueles que são expressamente proibidos na lei. No sistema francês, você enumera os direitos das pessoas – isso faz parecer que direitos são concedidos para você pelo governo, e isso não é verdade. Então nós começamos a falar mais sobre identidade no Canadá, e isso foi um desvio da tradição do individualismo iluminista.
Você está negando a existência de discriminação baseada em sexualidade ou raça?
Não acho que as mulheres tenham sido discriminadas, eu acho esse argumento chocante. Antes de tudo, você sabe quanto dinheiro as pessoas tinham pra viver em 1885, em dólares de 2010? Um dólar por dia. A primeira coisa que nós vamos estabelecer é que a vida era uma droga para todo mundo. Você não vivia muito. Se você fosse mulher, você estava grávida quase o tempo todo, e você estava cansada e meio morta quando estivesse com 45. Homens trabalhavam sob condições abismais que nós não podemos nem imaginar. Quando George Orwell escreveu O Caminho para Wigan Pier, os mineiros de carvão que ele estudou andavam para trabalhar duas milhas debruçados em um túnel antes que começassem seu turno. Então eles andavam de novo. [Orwell] disse que ele não poderia caminhar 200 jardas em um daqueles túneis sem ter cólicas tão fortes que ele não podia nem se levantar. Aqueles caras não tinham os dentes por volta dos 25, e estavam acabados aos 45. A vida antes do século XX para muitas pessoas era brutal além de comparação. A ideia de que mulheres eram uma minoria oprimida sob aquelas condições é insana. As pessoas trabalhavam 16 horas por dia ganhando apenas para sobreviver. Minha avó era esposa de um fazendeiro em Saskatchewan. Ela me mostrou uma foto da lenha que ela cortava antes do inverno. Eles viviam numa cabana que não era maior do que o primeiro andar desta casa. E a pilha de lenha que ela cortava era três vezes tão longa, e da mesma altura. E isso era o que ela fazia em seu tempo livre porque ela também estava cozinhando para uma turma de debulhadores, tomando conta de seus quatro filhos, trabalhando nas fazendas de outras pessoas como empregada doméstica, e tomando conta dos animais. Então, no século XX, as pessoas ficaram ricas o suficiente para que algumas mulheres pudessem trabalhar fora de casa. Isso começou na década de 1920, e acelerou de verdade durante a Segunda Guerra Mundial porque as mulheres eram puxadas para fábricas enquanto os homens partiam para a guerra. Os homens lutaram, e morreram, e isso é basicamente a história da humanidade. E então na década de 50, quando Betty Friedan começou a reclamar sobre a situação das mulheres, era assim, os soldados voltaram para casa da guerra, todo mundo começou uma família, as mulheres saíram das fábricas porque queriam ter filhos, e foi então que elas ficaram todas oprimidas. Não havia igualdade paras as mulheres antes da pílula anticoncepcional. É completamente insano assumir que qualquer coisa assim pudesse ter possivelmente acontecido. E as feministas acham que produziram uma revolução na década de 1960 que liberou as mulheres. O que liberou as mulheres foi a pílula, e nós vamos ver onde isso vai dar. Há alguma evidência que mulheres que usam pílula não gostam de homens masculinos por causa das mudanças no balanço hormonal. Você pode testar a preferência de uma mulher por homens. Você pode lhe mostrar fotos de homens e mudar a largura da mandíbula, e o que você encontra é que mulheres que não usam pílula gostam de homens de mandíbula larga quando estão ovulando, e gostam de homens de mandíbula estreita quando não estão, e os homens de mandíbula estreita são menos agressivos. Bem, todas as mulheres usando pílula agem como se não estivessem ovulando, então é possível que muito da antipatia que hoje existe entre mulheres e homens exista por causa da pílula anticoncepcional. A ideia de que as mulheres foram discriminadas através do curso da história é chocante.
Agora, grupos que foram discriminados. O que você vai fazer sobre isso? As únicas sociedades que não são sociedades escravagistas são democracias ocidentais iluministas. É isso. Comparadas à utopia, são uma droga. Mas comparadas a qualquer outra coisa – as pessoas não imigram para o Oriente Médio para morar lá, e há boas razões para isso.
A outra coisa a fazer é uma análise multivariada. Por exemplo, se nós quiséssemos predizer o sucesso na vida de longo prazo em países ocidentais, os dois melhores preditores são inteligência e conscienciosidade. As pessoas inteligentes chegam lá antes, e as pessoas conscienciosas trabalham duro. Isso é responsável por cerca de 30 por cento da variância em sucesso de longo prazo na vida. Não há discriminação aí, só competência. E sobre mulheres e o teto de vidro [NT: metáfora que sugere que há barreiras invisíveis ao sucesso das mulheres]? Isso é muito mais complicado do que parece. Por exemplo, eu tenho lidado com muitas empresas grandes de advocacia por anos. Eles não conseguem manter suas mulheres. Todas as grandes empresas de advocacia perdem todas suas mulheres quando elas estão em seus trinta. Você sabe por quê? É fácil. As mulheres se relacionam com pessoas através e acima na hierarquia de domínio, logo mulheres em grandes empresas de advocacia que já passaram dos 30 e que são casadas, talvez elas estejam ganhando $300000 por ano. Seus parceiros também. Eles não precisam ganhar $600000 por ano. Se você quer ganhar $300000 por ano como advogado, essa é sua vida: você trabalha 60-80 horas por semana sem parar, e você está de sobreaviso. Se o seu cliente japonês lhe liga às 3:00 em uma manhã de domingo, sua resposta é ‘sim, eu farei isso imediatamente’ porque eles estão lhe pagando $750 por hora. Essas mulheres têm alta conscienciosidade, são ótimas estudantes, brilhantes na escola de direito, e estelares em seu período de treinamento. Então elas encontram um parceiro, e elas pensam ‘por que diabos eu estou trabalhando 80 horas por semana?’, porque é isso que pessoas sãs pensam. Então só há homens no pináculo absoluto das profissões. Mas não são todos os homens, são essa pequena proporção de homens estranhos. Eles têm QIs de 145 ou mais, e eles são insanamente competitivos e trabalhadores. Não interessa onde você vai colocar uma pessoa assim, ela vai trabalhar 80 horas por semana. A razão pela qual homens fazem isso mais do que mulheres é que o status faz dos homens sexualmente atraentes. Homens são direcionados por status – tanto biológica quanto culturalmente – de uma forma que mulheres não são. Então a questão real, quando você olha essas posições e pensa ‘oh, essas são posições luxuosas, maravilhosas, de plenitude e relaxamento’. Isso é bobagem. Essas pessoas trabalham tanto que é quase inimaginável. Muitas pessoas não só não podem fazer isso, mas não há nem uma chance de que elas gostariam de fazê-lo. Muitas mulheres firmam um relacionamento por volta dos 30. A parte engraçada é que quando você está nos seus trinta é que só então você realmente começa a ter sua própria vida. Quando você tem 18, você é igual a qualquer outro cabeça-dura de dezoito anos, vocês são todos iguais. Pela época em que você tem trinta, você tem experiência idiossincrática suficiente pra meio que moldar sua própria vida, e muitas pessoas se dão conta de que ‘bem, eu não quero trabalhar 80 horas por semana’. Elas querem ter uma família, e não têm tempo. E então quando têm uma família, descobrem que ter um filho – não é um bebê genérico, é uma nova pessoa na sua família. Aquela nova pessoa é A coisa mais importante para você. Ponto. Então as mulheres chegam aí, elas têm dois filhos e pensam ‘eu só vou ter filhos pequenos por cinco anos, você acha que eu vou trabalhar por oitenta horas por semana? Para ganhar um dinheiro de que não preciso? Fazendo algo de que não gosto? Ou eu vou passar tempo com meus filhos?’ Eles não conseguem manter mulheres na advocacia – não há um maldito teto de vidro. As profissões do direito estão desesperadas para manter pessoas qualificadas porque elas não têm o suficiente. Elas as buscam de qualquer lugar – especialmente as mulheres que não só são boas advogadas, mas que também podem gerar negócio. Esse é apenas um pequeno segredo feio sobre a diferença nas estruturas de poder entre homens e mulheres. Os homens fazem quase todos os trabalhos perigosos, os homens trabalham na rua, os homens são muito mais propensos a se mudar do que as mulheres são. Então, se você olha, se você desmonta as estatísticas em termos de salário diferencial, se você equaliza para os outros fatores, mulheres jovens ganham mais dinheiro do que homens jovens. A ideia de que “mulheres ganham $0,70 para cada dólar que um homem ganha” é uma mentira. Pequenos negócios mantidos por homens ganham muito mais dinheiro do que pequenos negócios mantidos por mulheres. Por quê? Porque mulheres começam pequenos negócios quando elas têm filhos, quando elas estão em casa, então os negócios são apenas de meio período. Então é por isso que elas não fazem tanto dinheiro. Não tem nada a ver com preconceito, tem tudo a ver com opções. Então esses argumentos que as pessoas fazem sobre preconceito não estão nem fora da psicologia tribal ainda.
Nós fizemos avanços inacreditáveis em termos de nivelar o campo de jogo, e muito disso foi devido à pura cobiça capitalista. Em sociedades capitalistas, as pessoas são desesperadas por talento. Se elas tiverem que trabalhar com mulheres e minorias, elas geralmente vão. Transformações estão ocorrendo tão rápido que não há nada que você possa fazer para fazê-las ir mais rápido. Todo mundo está gritando ‘preconceito’ – é o pau-para-toda-obra das explicações. Por que a sociedade é assim? Preconceito. Por que ela é assado? Preconceito. Não há nenhum raciocínio envolvido, nenhuma análise multivariada. Isso é repreensível. Warren Farrell escreveu o livro Why Men Earn More [NT: Por que os Homens Ganham Mais]. Ele trabalhava na Organização Nacional das Mulheres em Nova York antes de ter escrito o livro. Ele de fato escreveu o livro, pelo menos em princípio, para suas filhas, porque ele queria ajudar a guiá-las para um status superior. Ele fez uma análise multivariada. Ele foi e viu, e aprendeu mais. Ele descobriu que homens fazem os trabalhos comerciais que pagam mais, são empregos perigosos, são na rua, fazendo trabalho físico duro. Então essas são as outras razões também. Há discriminação com certeza, mas ela conta por talvez dez por cento da variância no sucesso.
Por Jason Tucker e Jason VandenBeukel, em C2C Journal, 1º de dezembro de 2016.
Por Bene Barbosa (com a colaboração de Carlos H. Correia)
Grandes jornais e portais de notícias brasileiros passaram a divulgar a seguinte notícia: “EUA tiveram mais de 350 ataques em massa só este ano”. Vejamos o trecho inicial: “O tiroteio na Califórnia está longe de ser um caso isolado. Somente este ano, segundo levantamento do jornal “Washington Post”, foram 355 ataques com ao menos quatro vítimas entre mortos e feridos, numa média de mais de um por dia.”
Terrível! Quase um tiroteio em massa por dia! Malditas armas e esses americanos malucos! Quanta violência! Temos que desarmar! Isso só acontece porque os americanos possuem muitas armas! Essas e outras expressões pipocam nos comentários das ditas matérias. Mas será verdade? Quais os critérios e a fonte do Washington Post? FBI, CDC? Não! Trata-se de uma ferramenta colaborativa, ao estilo Wikipédia, feita por pessoas favoráveis à maiores restrições chamada “Mass Shootings Tracker”.
Qual a fonte e os critérios para essa mórbida contagem? Well, well... A fonte é.. A própria imprensa! São notícias publicadas em jornais e sites americanos enviadas pelos seus colaboradores! Imaginem a precisão e a confiabilidade de tais dados. Para termos uma pequena ideia do disparate numérico existente entre a realidade e o que vem sendo publicado, peguemos os dados levantados pela ONG Mother Jones, também favorável ao desarmamento, mas que usa os critérios e os dados oficiais do FBI que apontam que houve 73 ataques desde 1982, causando 581 mortes em 33 anos.
Quais os critérios adotados? Para esse pessoal qualquer evento que envolva disparos de armas de fogo que tenha feito 4 ou mais vítimas (entre mortos e feridos) é um “mass shooting, incluindo nesse cômputo o assassino, as vítimas e os agentes da lei. Outro ponto crucial é que a motivação do ataque também é descartada e, assim, um ataque terrorista como desta semana na Califórnia passa a ser mais um evento de “massacre com armas de fogo” enquanto os mesmos jornais continuem afirmando que os ataques em Paris sejam “apenas” atos terroristas. Dois pesos e uma medida em grau máximo.
Não acreditam em mim? Não precisam! Vejamos um exemplo que pesquei no tal levantamento. Caso de “mass shooting” número 66 ocorrido na cidade de Albuquerque no Novo México. O saldo da ocorrência é de um morto e seis feridos e foi noticiada pelo Albuquerque Jornal de 23 de março que inicia a notícia com o seguinte parágrafo:
“Uma briga entre dois grupos que celebravam um aniversário em Los Altos Skate Park no Northeast de Albuquerque explodiu em tiroteio na noite de domingo, deixando um estudante de 17 anos morto no estacionamento e outros seis baleados e feridos”.
Entendeu? Para esse pessoal, uma guerra de gangues, um acerto de contas entre quadrilhas, homicídios encomendados, guerra entre traficantes ou terrorismo, desde que como número de vítima adequados, é um ataque em massa com armas de fogo!
Agora, terríveis casos como o dos dois irmãos que mataram o pai, a mãe e outros três irmãos em Oklahoma em julho deste ano não importam, afinal, usaram facas...
E os problemas não param por aí. Temos ainda a inacreditável ocorrência de triplicidade de eventos – um pecado mortal em qualquer levantamento sério – onde uma mesma ocorrência foi contabilizada três vezes. É o caso dos registros de números 316, 340 e 341 onde 5 pessoas foram feridas em um apartamento no sul de Fort Wort,Texas.
Não bastasse isso ainda encontramos a denúncia da contabilização de casos envolvendo armas de pressão, um dos casos ocorreu em St. Petersburg, Florida, e envolveu alguns feridos por disparos de “chumbinho”. Após a denúncia tais casos parecem ter sido retirados, mas em determina momento estiveram lá, o que joga mais sombras ainda sobre a seriedade de tal levantamento.
Já imaginaram se o Brasil adotasse esse mesmo critério para classificar como “mass shooting” qualquer ocorrência com 4 ou mais baleados? Não tenham dúvidas seriamos os campeões mundiais! Ah! Esqueçam essa bobagem que escrevi. Esqueci, por um momento, que o Estatuto do Desarmamento está aqui para impedir que isso aconteça.
Em resumo, o Washington Post é fonte da imprensa brasileira e a fonte do Washington Post é uma ferramenta colaborativa com critérios para lá de suspeitos, onde há duplicidade de casos e até ocorrência envolvendo armas de pressão. O maior massacre é da credibilidade e a vítima é o leitor.
Bene Barbosa
Presidente do Movimento Viva Brasil e coautor do livro Mentiram Para Mim Sobre o Desarmamento
Hoje quero falar de um herói brasileiro: o professor de História que não é de esquerda. É verdade que todo ofício tem os seus ossos, mas o ofício do professor de História não esquerdista é um ossuário do Khmer Vermelho. Nada se compara às dificuldades deste mártir da educação. Perto dele, nossos problemas são idílicos.
Quando um petista fica sem argumento, costuma encerrar a discussão bradando: “Vá ler um livro de História!” Pois é. Esse professor leu. O problema é que leu não apenas um, mas vários livros. Não se limitou às obras recomendadas pelo MEC e abençoadas pelos discípulos de Paulo Freire; foi muito além. Tanto leu que acabou por descobrir as grandes farsas criadas pela esquerda para reescrever a história segundo a cartilha socialista.
Todos os dias ele arrisca sua reputação e o seu salário nas salas de aula – apenas por amor à verdade
O professor de História que não é de esquerda tem uma característica: ele sempre é muito bom. Só assim, sendo o melhor no que faz e tornando-se indispensável para as escolas sérias, ele consegue sobreviver ao bombardeio maciço dos colegas esquerdistas. O mestre não esquerdista precisa ter um conhecimento vasto, profundo e entusiasmante da matéria que leciona. Se ele é muito bom, sobrevive. Os companheiros dizem: “Ele é direitista, mas...” Ao menor vacilo, no entanto, o tapete lhe será puxado.
E notem bem: o professor de história que não é de esquerda não precisa obrigatoriamente ser de direita, conservador ou coisa que o valha. Basta que ele não comungue das teses da esquerda. O simples fato de ter uma religião ou acreditar que Idade Média e trevas não são sinônimos já faz dele um perigoso inimigo. Citar os 100 milhões de mortos do comunismo ou dizer, candidamente, que nenhuma experiência socialista deu certo na história, ah, isso já é praticamente um atestado de fascismo. Se ainda por cima disser que Che Guevara fuzilou mais que o pior inquisidor queimou ou lembrar que as pessoas fogem de Cuba e não para Cuba, aí já é um delegado Fleury consumado.
Por isso, eu rendo aqui a minha homenagem a esse discreto herói brasileiro que todos os dias arrisca sua reputação e o seu salário nas salas de aula – apenas por amor à verdade. Comparável a ele só existe um: o estudante universitário não esquerdista. Sobre ele falaremos em outra oportunidade.
A corrupção faz parte de um sistema e quando um colega de esquerda te diz que “partido X não tem culpa, pois o sistema é assim” responda a ele que partidos são peças-chave em qualquer sistema político e agentes ativos do sistema que cria a corrupção.
415 políticos de 26 dos 35 partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foram citados nas delações de executivos e ex-executivos da Odebrecht. Obviamente, o PT lidera a lista seguidos de perto pelo PSDB e PMDB.
Os três maiores partidos do Congresso compõem as três mais importantes elites políticas nacionais e concentram quase 60% dos políticos enredados nas delações da Odebrecht. Mas não se trata apenas do Legislativo...
Também foram citadas lideranças partidárias e do atual presidente da República, Michel Temer e cinco ex-presidentes (Sarney, Collor, FHC, Lula e Dilma). Ex-candidatos à presidência e governadores como Serra e Alckmin (PSDB-SP), Aécio (PSDB-MG), Eduardo Campos (PSB-PE), Everaldo (PSC-RJ), Eymael (PSDC-SP), Brizola (PDT-RJ), Maluf (PP-SP), políticos com destaque desde o processo de redemocratização do país em 1985.
Vários ex-ministros petistas como Jaques Wagner, Guido Mantega, Antonio Palocci, José Dirceu e Paulo Bernardo, bem como governadores como Tião Viana (AC) e Fernando Pimentel (MG), assim como senadores e governadores por outros partidos também foram citados. Partidos médios, muitos na base política do governo Temer, como PP, DEM, PSB, PSD, PTB, PR e PPS também figuram na lista. Outros que não base aliada também citados, foram PDT e PCdoB. Partidos pequenos como PSOL e PTN também tiveram a “honra” de estarem entre as delações.
Enfim, o que se pode dizer de tudo isso? A corrupção faz parte de um sistema e quando um colega de esquerda te diz que “partido X não tem culpa, pois o sistema é assim” responda a ele que partidos são peças-chave em qualquer sistema político e agentes ativos do sistema que cria a corrupção. Não tem desculpa, processo neles e que as urnas sejam menos complacentes do que nosso Judiciário tem sido.
O discurso da senadora australiana Pauline Hanson revela porque a imigração muçulmana deve ser contida.
Confira abaixo o vídeo e a transcrição do discurso:
Agora estamos em perigo de sermos inundados por muçulmanos com a cultura e ideologia deles, incompatíveis com a nossa própria.
Amo minha pátria, sua cultura e modo de vida.
É sobre pertencer, respeitar e comprometer-se a lutar pela Austrália.
Isso não pode ser trocado ou abandonado por causa da diversidade e tolerância.
Tolerância deve ser mostrada para aqueles que vêm a este país em busca de um novo modo de vida.
Quem não está preparado para tornar-se australiano e dar a este país devotada lealdade, obedecer nossas leis, respeitar nossa cultura e nosso modo de vida, então sugiro voltarem de onde vieram
A Austrália é um país predominantemente Cristão, mas nosso governo é laico.
Nossa constituição proíbe o governo de impor regras e ensinamentos religiosos.
A separação da igreja e estado tornaram-se uma componente essencial de nosso modo de vida. Qualquer coisa que ameace essa separação, também ameaça nossa liberdade
Por que então o Islã e seus ensinamentos têm tal impacto na Austrália que nenhuma outra religião tem?
O próprio islã descreve-se como uma teocracia. O Islã não acredita em democracia, liberdade de expressão, liberdade de imprensa, ou mesmo liberdade de reunião.
Não separa religião da política.
É em parte uma religião, mas muito mais do que isso tem uma agenda política que vai muito além da área da religião. Regulamenta a vida social e doméstica dos muçulmanos, o sistema legal e a política deles.
A vida toda deles!
A Austrália está agora vendo mudanças em regiões de predominância muçulmana onde não há tolerância a outros estrangeiros e leis são desrespeitadas e prisões tornaram-se fontes de recrutamento de radicais muçulmanos.
Comportamento anti-social é crescente, alimentado por uma cultura machista e misógina.
Pesquisas sociais indicam que vizinhanças de comunidades muçulmanas estão passando por colapsos da coesão social e temem ações criminosas.
Australianos em geral estão maos temerosos.
Terrorismo não é mais só visto em outros países, mas agora é parte da nossa sociedade com muçulmanos envolvidos no ataque ao "Café Lindt", no assassinato de Curtis Cheng em Sidney
e no esfaqueamento de dois policiais em Melbourne.
O Grande Mufty e outros líderes muçulmanos fazem-se de surdos ou ficam em silêncio por falta de simpatia (com as vítimas).
A radicalização está acontecendo em nossas ruas, subúrbios e em mesquitas.
Ainda assim nossos líderes pedem que sejamos tolerantes e apoiemos os bons muçulmanos Mas como vamos saber a diferença deles?
Não existem indicadores dizendo: "bom muçulmano" e "mau muçulmano"
Quantas vidas ainda serão perdidas ou destruídas tentando descobrir quem é bom e quem é mau?
Mulçumanos querem ver a Lei Islâmica (Sharia) implantada na Austrália
Essa lei é um código civil totalitário que estalebece duas regras sobre tudo impostas inicialmente aos muçulmanos, depois para todos.
Como o Islã é considerado uma religião a Sharia conflita com nosso estado laico.
Australianos deram suas vidas protegendo nossa terra contra conquistadores estrangeiros.
Posso assegurar que não queriam ir à guerra, sabiam ser o dever deles garantir que seus entes queridos vivessem em paz, mas o mais importante é que lutaram pela liberdade.
Alerto este governo e governos futuros: "Você não sente a falta de água até que o poço fique seco"
A assistência social não é um direito, a não ser para idosos e doentes, é um privilégio pago penosamente por árduos trabalhadores australianos.
Apoio a ação do governo de não pagar aos que abandonam a escola e imediatamente querem receber a assistência social.
Que mensagem passamos a eles?
Devemos ensiná-los a procurar emprego em vez de encorajá-los a dependerem do dinheiro que não ganharam ou trabalharam para obtê-lo.
Temos também as mães solteiras, tendo mais filhos, só para manterem o recebimento do dinheiro da assistência social.
Homens muçulmanos tendo várias esposas, com permissão das leis deles, tendo muitos filhos às nossas expensas, recebendo milhares de dólares emanais de nossos pagadores de impostos.
Quantos deles alguma vez teve emprego?
Por que razão procurariam emprego quando a assistência social é tão lucrativa?
Apesar de todas as guerras e notícias sobre regiões empobrecidas do globo, o índice global de miséria diminui. E isto não é mera intuição, mas análise de dados estatísticos que podem ser comprovados.
Segundo o BIRD (Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento, mais conhecido como “banco mundial”), o limite superior adotado para pobreza extrema é de 1,90 dólar por pessoa ao dia. Se observarmos os dados atentamente veremos que o mundo reduz sua pobreza continuamente há dois séculos.[1],[2].
Essa queda nunca diminui tão rapidamente como nos últimos anos. Trata-se de uma das maiores realizações da humanidade. E o que deve ficar claro: foi realizada dentro de um sistema econômico que seus críticos chamam de Modo de Produção Capitalista. Então, justamente, o famigerado e odiado sistema é que permitiu que grande parcela da humanidade, outrora relegada a patamares subumanos pudesse ascender economicamente. Vejamos aqui como se deu este decréscimo da pobreza mundial em apenas uma década:
Então, se adotarmos uma linha de pobreza usual de $ 1.000,00 anuais em 2003, 48% estava abaixo dessa linha, enquanto que a partir de 2013, 29%. Em uma década, uma queda de 20 pontos percentuais! Agora, se você acha a linha demarcatória pouco significativa e prefere algo bem superior, digamos $ 4.000,00 anuais adotando o mesmo intervalo histórico em 2003 tínhamos 80% da população mundial abaixo desta linha e em 2013, 67%. Ou seja, um declínio significativo de 13 pontos percentuais. Novamente, e comprovadamente, o mundo melhora.
Agora socialistas e estatólatras de plantão, que tal melhorar sua crítica porque esta história de apontar a desigualdade econômica sem ver o que realmente aconteceu com quem mais precisa do desenvolvimento não funciona para quem sabe ler e analisar dados fidedignos.
Poderia ser melhor? Claro que poderia... Tomemos um país aleatório como exemplo, 5ª maior população do globo, um extenso território, país continental deitado em berço esplêndido e com reservas minerais incomensuráveis, mais de duas safras agrícolas por ano para a maioria de suas culturas etc. etc. e etc. Aquele papo com o qual tu já estás acostumado, sabe? Mas vamos ao que interessa...
Este país hipotético tem “uma Austrália”, cerca de 20 milhões de pessoas dentro de seu território vivendo com menos de R$ 140,00 por mês que no cambio atual com o dólar de hoje daria $ 1,5 por pessoa ao dia, bem menos do que a supracitada linha de pobreza mais baixa adotada pelo BIRD, isto é, um padrão de vida miserável mesmo até para os padrões mundiais considerados. Mais de nove milhões, “uma Suíça” terminarão o ano abaixo da linha de extrema pobreza, com renda mensal de R$ 70,00. Se estás pensando em miseráveis apenas esqueça, o quadro geral é desabonador... Quase metade dos brasileiros vive com um salário mínimo e no Nordeste chega a ser 68% dos seus habitantes vivendo assim. Um em cada quatro brasileiros depende do Bolsa Família. No Maranhão, p.ex. corresponde à metade da população e 27% no estado vive com ¼ do salário mínimo.
Não nos limitemos à renda, se somarmos a população do Uruguai, da Nova Zelândia e da Irlanda não alcançaremos o número de analfabetos que temos no Brasil. Nossa “analfetolândia” é composta por 50 milhões de analfabetos e semi-letrados. Obviamente já deu pra sacar que falamos do nosso Brasil varonil, certo? Então... Se nossos analfabetos e analfabetos funcionais compusessem um país, ele seria o 28º país mais populoso do mundo, mais que uma Argentina. Mas voltemos ao país real, que mais parece surreal... 30% dos brasileiros nunca comprou um livro. Em recente pesquisa feita pelo Ibope, metade dos professores não citou nenhum quando questionados sobre o último livro lido e 22% citou ter lido um: a Bíblia. Por isto ponha de lado estas estúpidas teorias pedagógicas, quando se fala em “crise na educação”, na verdade é uma crise na qualidade dos professores.
“Ah! Mas temos um belo meio ambiente ambicionado pelas potências estrangeiras!” Sempre a mesma conversinha paranoica de sempre – como já disseram, o nacionalismo é o último refúgio dos canalhas. Somos mais de 35 milhões de brasileiros sem acesso ao abastecimento de água tratada, um Canadá inteiro sem água encanada. Quase 100 milhões de brasileiros, mais que uma Alemanha sem esgoto, cerca de 17 milhões, uma Holanda, sem coleta de lixo. E mais quatro milhões, uma Nova Zelândia sem um único banheiro em casa. Só falta dizer que é romântico defecar no rio...
Apesar de uma década com aumento no preço das commodities, crescemos menos que a média global. Quase metade do que auferimos, vai para o sistema político, temos o judiciário mais caro do ocidente, o sistema de saúde público mais ineficiente do planeta, e o segundo congresso mais oneroso do mundo. E o principal, somos o país que oferece o pior retorno de impostos ao cidadão. E o que recebemos de volta? Burocracia, a economia mais fechada do G20, o 10º país mais complicado para fazer negócios, o líder no ranking de encargos e processos trabalhistas e burocracia fiscal, o 5º menos competitivo do planeta. Como dito no site Spotniks:
“Nós abraçamos os que prometem e condenamos os que produzem. O resultado é inevitável, subdesenvolvimento crônico. Nós somos bons nisso, desigualdade, violência urbana, prostituição infantil, trabalho escravo, pobreza. Muita pobreza.”
Portanto, te lembre que qualquer greve geral agora não é contra a obesidade mórbida de nosso estado brasileiro, mas justamente em defesa dos agentes políticos que invalidam sua eficiência. O que está em curso é uma luta intestina na estrutura estatal, que visa enfraquecer toda tentativa de por o país nos eixos e ajustar nossa economia através da própria sociedade. Temos agora a oportunidade de lutar e reagir, indo para as ruas contra os sanguessugas que criam idiotas úteis em linhas de produção ideológicas. Não deixemos a peteca cair, não abdiquemos deste sonho que mais dia menos dia se realiza. Qualquer um que tente nos calar é nosso inimigo. Às ruas, novamente, com nossos corações na goela, como se fossem punhais atravessados por onde saem nossa voz e reflete nosso espírito. Estatólatras, vocês não passarão!
Fonte dos dados: Spotniks.
[1] No matter what extreme poverty line you choose, the share of people below that poverty line has declined globally. https://t.co/SC0Ostsw6x. Acesso em 17 abr. 17.
Versão estendida de artigo publicado no jornal Gazeta do Povo, em 04/10/2016.
No último dia 22 de setembro, o Governo Federal, manifestando a costumeira e popularesca preocupação estatal (e burocrática) com a Educação, apresentou uma medida provisória com uma série de mudanças no Ensino Médio. Eu ri. Sim, em meio à consternação geral – principalmente dos meus colegas de profissão, os professores –, eu ri.
As mudanças, entre outras coisas, visam a implantar a escola de tempo integral e permitir ao aluno escolher as disciplinas que deseja cursar, de acordo com a área que lhe seja afim: Matemática e suas tecnologias; Ciências humanas e suas tecnologias; Linguagens, Códigos e suas tecnologias; ou Ciências da Natureza e suas tecnologias (divisão adotada pelo ENEM desde 2009). Ou, ainda, a carreira profissional que deseja seguir. Eu ri.
Em entrevista recente, a socióloga Maria Helena Guimarães de Castro, secretária executiva do Ministério da Educação, disse que há um “tédio generalizado” entre os alunos do ensino médio; que o aluno de hoje tem interesse, por exemplo, pela “produção artística de rua, que incentiva o protagonismo juvenil”. Como não rir?! Ela acha um absurdo o número de disciplinas obrigatórias (13) – eu também –, e que em países como Finlândia, Singapura e Austrália o currículo é flexibilizado. O que ela não disse é que esses países, no último PISA (Programme for International Student Assessment), ficaram entre os 15 melhores dos 76 avaliados. Singapura, China e Coreia do Sul lideram. O Brasil amarga a 60ª posição, atrás de países como Cazaquistão, Uruguai e Irã. É para rir ou para chorar? Decidamos após alguns fatos.
O Ensino Médio tornou-se obrigatório no Brasil em 2009, via Emenda Constitucional nº 59; os Estados teriam até 2016 para se adequarem à nova exigência – não conseguiram, evidentemente. E, segundo a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) 9394/96, é função do Ensino Médio:
1) a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos; 2) a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; 3) o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; 4) a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina.
Ou seja, o Estado se propõe a oferecer uma gritante contradição em termos: educação obrigatória e de qualidade. Pretende, compulsoriamente, tornar o aluno proficiente e cidadão. Mas, ironia das ironias, no mesmo dia que a MP foi apresentada, um aluno do EM me perguntou: “professor, ‘vó’ se escreve com acento ou com chapeuzinho?”. Essa é a realidade. Nossos governantes ignoram que o aluno atual NÃO QUER estudar. Ele vai à escola para socializar, como dizem os pedagogos; vai pelo Bolsa Família, pelas drogas, pela namorada, pela merenda; menos pelo ensino. Esperar que ele vença o niilismo de sua geração e escolha qual disciplina prefere é superestimar sua capacidade, hoje movida quase exclusivamente por uma espécie de prazer suicida. Chega ao EM sem saber escrever uma palavra de duas letras e muito menos fazer as operações matemáticas básicas. Generalizo, mas não muito.
Sem falar no total cerceamento politicamente correto das sanções disciplinares; o aluno agora faz o que quer.
E tem mais: uma vez que, pela Constituição, a educação é um dever do Estado, este tem de assumir a responsabilidade, inclusive, pelo aluno que se recusa a estudar. Ou seja, a evasão escolar tornou-se um problema jurídico. Se o aluno desiste, é dever do Estado arrastá-lo até a escola. Se os pais não cooperam, o Conselho Tutelar deve assumir a brincadeira. Mas, no final, a culpa sempre recai sobre o professor, que, por um salário que não chega a R$ 20 a hora/aula, não torna a aula atrativa aos “educandos”. Tem como dar certo?
Alguns objetam: “Ah! Mas o professor também não se atualiza”. Isso é verdade, mas numa estrutura decente tais professores seriam obrigados a se atualizar, ou seriam obrigados a fazer outra coisa. Os próprios alunos dariam cabo de sua carreira. A completa desorganização favorece não só o mau aluno, mas também o mau professor.
Ainda um último complicador: o Brasil assinou, em 1990, a Declaração Mundial sobre Educação para Todos, da UNESCO, entregando-se às iniciativas globalistas cujos interesses reais passam ao largo das propostas (para quem não conhece, o livro Maquiavel Pedagogo, de Pascal Bernardin, publicado pela Vide Editorial, explica tudo). Em 2000, outro tratado, atrelado a esse, foi assinado. E as metas, com prazo até 2015, eram:
1 – Educação e cuidados na primeira infância:
Expandir e melhorar a educação e os cuidados na primeira infância, garantindo, além de condições de saúde, acesso à pré-escola.
2 – Universalização da educação primária:
Garantir que, até 2015, todas as crianças tenham acesso à educação primária completa, que no Brasil corresponde aos anos iniciais do ensino fundamental.
3 – Habilidades para jovens e adultos:
Garantir o acesso equitativo a uma aprendizagem adequada para habilidades laborais e técnicas.
4 – Alfabetização de adultos:
Alcançar, até 2015, aumento de 50% no nível de alfabetização de adultos.
5 – Igualdade de gênero:
Eliminar as disparidades de gênero na educação primária e secundária até 2015.
6 – Qualidade da educação:
Melhorar a qualidade para que resultados de aprendizagem mensuráveis e reconhecidos sejam alcançados por todos.
Tudo muito lindo, mas o Brasil só atingiu as metas 2 e 5. E, sem estrutura para tal, temos hoje salas de aula absolutamente lotadas, impossibilitando o mínimo de qualidade que se poderia exigir no ensino.
Ou seja, a despeito do completo sucateamento da estrutura estatal, nossos distintos governantes ainda se aventuram em seguir modelos internacionais. E, no final, jogam em cima do professor a responsabilidade pela maioria das metas absurdas que desejam cumprir para satisfazer interesses alheios.
“Mas esperem!” – eles dizem. “E se os alunos escolhessem as disciplinas que querem estudar, e os mantivéssemos por mais tempo sob nossa tutela?”
Quase uma década atrás escrevi este texto que, embora trata-se de outras situações e conflitos dizia muito sobre a perda de referência entre o que é certo e errado que nos domina. O fato de que uns chamem de "libertadores", o que para outros são legítimos agentes do terror deve nos levar, no mínimo, a perguntarmos por que o conceito de justiça não é o mesmo universal. E creiam-me, o fato de me perguntar sobre isto não quer dizer que devamos relativizar tudo ao ponto de ficarmos inertes e apáticos sem qualquer reação, mas sim que entender por que as coisas tomam o rumo que tomam, por que o terror e a guerra ressurgem com força de tempos em tempos. Compreender não significa justificar, mas compreender para evitar e, talvez controlar.
Anselmo Heidrich
Uma Questão de Ponto de Vista
Os pontos de vista mudam assustadoramente, conforme o objeto avaliado. Em 1975 na Irlanda do Norte, grupos armados que chamaríamos perfeitamente de terroristas nos dias atuais, entraram em choque sem ter como alvo forças armadas britânicas, mas a população civil. Mataram mais do que os atentados à bomba em anos anteriores, mas dependendo do ponto de vista, eram “paladinos da liberdade” contra a opressão e o imperialismo. É difícil compreender uma cisão religiosa entre católicos e protestantes no século XX, em plena Europa Ocidental, mas ela existiu.
Organizações trabalhistas, sindicais costumam expressar apoio mútuo mundo afora, independente das condições políticas e sociais que vigorem em cada lugar específico. O único governo constitucional que contou com o apoio católico e protestante na Irlanda do Norte foi derrubado por uma greve do funcionalismo desencadeada pelo Conselho dos Trabalhadores do Ulster (UWC) em 1974. Mas, quem hoje em Hollywood se lembra de fazer um filme com alguma pobre família sendo vítima da ação sindical? Ora, sindicatos defendem o trabalhador, não é o que dizem? Se ajudaram a acirrar ânimos e disputas religiosas alhures é só um detalhe…
Nos anos seguintes, a guerrilha (ou seriam os terroristas?) católica e protestante continuou atacando civis indefesos de ambos os lados. O objetivo não pode ser limitado ao temor e terror trazido aos habitantes de pequenos vilarejos. Ele tem um subproduto desejável: a simpatia popular. Isto não diz respeito somente a conflitos religiosos. Diz respeito a qualquer movimento de massas em que a racionalidade não é prioridade. Quem ainda espera pela Razão não entendeu por que fenômenos bizarros como o Nazismo cresceram. Analogamente, seguindo o mesmo princípio, quando torcedores brasileiros no Pan gritam “Osama, Osama” estão manifestando o quê? Algo equivalente seria uma partida nos EUA com sua torcida gritando “TAM, TAM, TAM”. Simpático, agora?
Objetivos pressupõem racionalidade, mas os métodos contam com forte ingrediente de irracionalismo de massas. Mesmo que uma guerrilha rural não atinja diretamente seu objetivo explícito, ela atinge outro, tácito, o de bloquear as atividades produtivas do país trazendo um clima de ingovernabilidade. Foi assim na China de 1940, no Vietnã, no Camboja etc., o que não se atingiu na Malásia ou nas Filipinas graças à eficácia da administração civil. Não é a toa que estes são países que ingressaram antes no clube dos “tigres”, industrializados e exportadores. A China e o Vietnã também o fariam, só que bem mais tarde e, o paupérrimo Camboja só recentemente saiu de um mar de disputas entre guerrilhas.
Qual o clima político brasileiro, latino-americano em geral? Manifestações estúpidas e erráticas de uma torcida que “queima seu filme” para as Olimpíadas são, em parte, reflexo de uma administração que serve como espelho da sociedade. Não fosse por isto, como reeleger um governo claramente corrupto? Enquanto que teóricos da conspiração temem por nossa Amazônia, se esquecem do velho e presente inimigo interno. São minorias como o MST, como o MTST, como o MAB quem ganham terreno. Sim são minorias, mas são minorias que encontram eco em uma maioria apática. Desiludidos com as instituições se agarram no primeiro tronco flutuando em meio à inundação. Para onde vai? Provavelmente desaguar e ficar a deriva.
Em uma situação de ingovernabilidade, quem ganha apoio é porque mostra um mínimo de organização. Esta é a situação do crime organizado. E o comércio ilegal de armas apresenta sinergia com o tráfico de drogas, embora nossas autoridades até bem pouco tempo atrás o negassem. Se não há apoio interno, se busca fora. Este foi o caso do apoio externo a MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola), a FNLA (Frente Nacional para a Libertação de Angola) e a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola). Quem ganhasse, teria Moscou ou Washington, alguma capital européia ou Havana como aliada. Quando ouvirem falar em “guerras de libertação nacional” não estamos à frente de libertação alguma, quando lerem “República Democrática Alguma Coisa” é porque não se trata de democrática coisíssima nenhuma. E la nave va…
Tome as rédeas porque se não o fizer, outros o farão. Quando o governo indiano apoiou a independência de Bengala Oriental em 1971 (atual Bangladesh), o Paquistão acusou a Índia de intromissão e expansionismo, mas para os bengalis era uma luta justa. Ambas justificativas eram verdadeiras, mas cada lado enfatiza o seu ponto de vista, somente isto. O que mudou foi à utilização, mais maquiavélica, do apoio interno, pois ao invés de ocupar regularmente a região, a Índia fez uma ocupação “homeopática” só na medida que seus simpatizantes bengalis assim necessitavam para suprimir a oposição. Esse negócio de exército regular é mantido por poucos. Os EUA de George Walker Bush são um dos que estão na contramão da moderna estratégia geopolítica.
Para estudantes estrangeiros na Europa, como os que facilitaram a entrada e estadia de terroristas palestinos na Alemanha em 1972, o Welfare State contava menos que o Pan-Arabismo. E se fosse hoje, qual seria a reação? Consternação ou simpatia, ainda que parcial? É notório como a percepção acerca de um fenômeno social pode mudar ligeira ou amplamente no espaço e no tempo. Obviamente que a mídia, enquanto meio de expressão tem um papel nisto. O antiamericanismo, antiocidentalismo, anticapitalismo e tutti quanti têm um peso considerável nisto tudo. Terroristas ontem, “guerreiros da liberdade” hoje. Ou o contrário, em Rambo III, o personagem de Sylvester Stallone luta ao lado dos mujahedin contra os soviéticos em defesa da Liberdade. Após o 11 de Setembro, os EUA ao lado das forças do norte do Afeganistão atacaram uma facção dos tais guerreiros que formaram uma tal de Talebã. 1
Não se trata de uma massa amorfa e alienada pelo capitalismo, como poderiam afirmar Marx ou Bento XVI, mas principalmente de quem detém uma visão sobre o quê. Para os ultradireitistas, é sempre o comunismo internacional financiando as guerrilhas e o terrorismo, para a extrema-esquerda, a CIA está por trás de tudo, inclusive do atentado às Torres Gêmeas! Loucos e fanáticos não são vistos como o que são, loucos e fanáticos, mas como “manipulados” por forças ocultas, insondáveis. Se tais forças existem e têm atuação espasmódica, isto ocorre por que o caldo de cultura já existe. Mas, querer crer na onipotência de tais organizações secretas é demais. Elas seriam poderosas porque ocultas, secretas e tão, mas tão “insondáveis” que muitas das teorias conspiratórias andam totalmente explicadas pela internet…
Quais são os critérios morais que deveriam ser adotados? Deveriam ser supra-políticos, além de qualquer marco ideológico, no mínimo, mas não é isto que ocorre. Assim como muitos irlandeses viam o IRA como um bando de assassinos, outros descendentes de irlandeses na América viam-nos como bons garotos. Há aqueles que condenam Fidel, mas absolvem Pinochet e vice-versa. A violência e, no caso, a violência de estado se torna apenas um expediente, para se atingir um determinado fim. O “fim”, o objetivo último tudo absolve, tal qual a miragem de água numa estrada tórrida, que quanto mais nos aproximamos ela ressurge dezenas de metros adiante.
Mas, não é tão simples assim. O governo fantoche de Vichy na França tinha oposição sistemática de jovens guerrilheiros que não se renderam ao nazismo, que matavam o inimigo na clandestinidade. Seus métodos eram… Terroristas? Para os alemães na II Guerra, com certeza. Para franceses e ingleses, heróis. Dependendo do ponto de vista eram legítimos, se tomarmos “legitimidade” como uma manifestação de descontentamento frente um exército invasor.
E o separatismo? Acho que estamos de acordo que a Noruega ostenta elevadíssimo padrão de vida (muito antes do gás explorado no Mar do Norte), mas quem se disporia a apoiar sua separação da Suécia em 1905, exceto pelos próprios noruegueses? O mesmo não valeria para os sulistas norte-americanos em 1861 antes da Guerra de Secessão? Por que não? Iriam ficar mais pobres, valeu a manutenção da União… São argumentos ex post, não havia como saber à época. O interessante aqui é que alguns que responderiam afirmativamente em um caso, não o fariam em outro. O argumento moral se torna refém da política e nós o adotamos a todo o momento.
Se um movimento tem raízes populares, alguns podem argumentar que é, para o bem ou para o mal, legítimo. Mas, quando seus métodos consistem em difundir o terror a milhares ou milhões? E quando a extorsão através de seqüestros é tão freqüente e rotineira que se torna um fim em si mesmo?
Mas, que importa isto tudo? Há questões que são unânimes, como quando repudiamos atitudes autoritárias. Cheguei a ouvir que os atletas cubanos obrigados a voltar para casa pela ditadura castrista foram, na verdade, expulsos pela administração do PAN em benefício do Brasil! Há justificativas para todos os gostos… Fanatismo ideológico, teorias conspiratórias são, afinal, detalhes que embasam as percepções.
A conta-gotas, homeopaticamente, nos acostumamos ao terror e à tragédia. Terrorismo aqui? “Viagem”… PCC? Não chega a ser… Tragédia nos meios de transporte? Só se for em uma aeronave que não consegue frear, pois mais de 680 morreram só nas estradas federais em pouco mais de um mês e não nos indignamos de tão anestesiados que estamos pela loucura cotidiana. Tudo não passa de uma questão de ponto de vista. Se a violência for dada em doses homeopáticas, tudo bem.
Um bom acordo, diz o ditado, é aquele em que nenhuma das partes sai 100% satisfeita. Existe o preço do vendedor, o preço do comprador e o preço justo… Não. O que existe é o preço de mercado. É com a expansão do mercado e sua lógica concorrencial que as partes se tornam mutuamente dependentes e as guerras, paulatinamente, se tornam antieconômicas. No mercado interno e externo, as tragédias aéreas, terrestres diminuem. As empresas têm o ônus de investir segundo prioridades e, obviamente, a segurança virá em primeiro lugar sobre a estética de rodoviárias, portos e aeroportos que trazem uma vaga sensação de ordem e desempenho político.
No mercado político, os governos têm que se ater a políticas de estado. Se este têm o monopólio legítimo da violência, como já disse alguém, também têm a obrigação compactuada com segurança sobre a segurança, isto é, sua fiscalização. Trata-se de mais um ponto de vista, mas um ponto de vista baseado em custos e benefícios, não em uma miragem ou proselitismo político-partidário.
(1) Nem todo guerreiro anti-soviético constitui, necessariamente, o governo fundamentalista talebã. E nem os EUA poderiam adivinhar que parte deles, que foi financiada e apoiada para resistir ao avanço da URSS (tal qual fez a mesma contra os americanos no Vietnã) se tornaria um foco antiamericanista. Mais do que um movimento religioso, os talebãs tiveram origem e apoio no principal grupo étnico afegão, os patans.
Alguns deputados investigados pela Operação Lava-Jato da Polícia Federal se posicionam contrários às reformas da previdência e trabalhista por uma lógica tão simples quanto canalha:
“Já que estamos na lama, vamos jogar o país também.”
Mas quem é governo neste país não está aqui por acaso, pois sabem muito bem como a máquina política funciona. As emendas do orçamento (que visam projetos para garantir reeleições) serão liberadas de acordo com o placar das votações das reformas de interesse governamental.
Casos como esse fazem parte do modus operandi da política nacional, nenhuma novidade nisso e seria realmente surpresa saber que causa indignação à casta política brasileira. Mas o que seria um bom e excelente sinal é nossa massa de cidadãos apáticos saber como funciona e reagir a este estado de coisas. Mesmo que seja uma barganha visando o curto prazo, ela é permanente na vida de nossas instituições políticas. Agora, algo que está mexendo faz tempo com nossas vidas e poucos se dão conta é a interferência de organismos internacionais de modo negativo. Digo “negativo”, pois há a intervenção benéfica que assegura a paz e a segurança dos indivíduos mesmo dentro de um território autônomo, quando este é governado por um déspota (quem lembrou de Assad na Síria sendo coagido pelos EUA entendeu nosso exemplo). Mas nos referimos aqui às ações ou projetos de cunho totalitário.
Comemore a independência desta máquina mórbida que é o estado com Menos Estado clicando AQUI.
Exemplo claro disto é a nota da Organização das Nações Unidas (ONU) contra o projeto de lei do Escola Sem Partido, dia 13, de que tais iniciativas legislativas atentam contra a liberdade de expressão em sala de aula e que são claramente uma tentativa de censurar a opinião do docente. O ponto, no entanto, que os cultos relatores da ONU esquecem, se é que esquecem... É que a liberdade de expressão deixa de ser liberdade para ser opressão quando apenas um dos lados de uma comunicação pode se expressar. Pior ainda, sendo que um desses lados tem, ou deveria ter... Obrigação de conduzir o outro, os alunos a instrução e poder se expressar livremente. Isto não ocorre quando se há a imposição de opiniões claras de acordo com determinadas posições políticas tomadas como verdades que devem ser aceitas, cuja prova de concordância se dá em testes de avaliação, dos quais dependem os alunos para progredir em seus estudos.
Está claro que a ONU não defende a liberdade de expressão, mas sim a opressão de expressão.
Realmente, já que o Ministério da Saúde se preocupa tanto com minha saúde e esta sofre influência do meio, inclusive do meio social que é premido pela dificuldade financeira e estagnação econômica por que ele não começa simplesmente me isentando de contribuir para essas fuleragens?
Vejamos quais seriam as inovações disponibilizadas pelo SUS e pagas, obviamente, com teu suado dinheirinho:
Arteterapia: uso da arte como parte do processo terapêutico. Se entendeu bem vão te colocar para brincar de massinha quando estiver com aquela insuportável dor causada por cinco hérnias não tratadas;
Ayurveda: busca a cura para os males do corpo e da mente na natureza. Ou seja, ‘bora lá pessoal abraçar aquele tronco velho cheio de cupim ali no mato não carpido da prefeitura;
Biodança: é uma prática de abordagem sistêmica inspirada nas origens mais primitivas da dança, que busca restabelecer as conexões do indivíduo consigo, com o outro e com o meio ambiente. “Abordagem sistêmica” é um jeito chique de dizer como não identificamos a causa vamos tratar um troço nada a ver e rezar pra ti te sentir bem;
Dança circular: é uma prática de dança em roda, tradicional e contemporânea. Vai que se for um pequeno mal estar tu te sente tão cansado e tonto com a “dança circular” que esquece o que estava fazendo naquele posto de saúde;
Ioga: é uma prática que combina posturas físicas, técnicas de respiração, meditação e relaxamento. Aí sim, mas ‘pera! Isto aí é melhor fazer em casa onde, pelo menos o chão não traz tanto risco de contrair uma infecção de ambiente cheio de gente doente;
Meditação: prática de concentração mental com o objetivo de harmonizar o estado de saúde. Tipo assim... Repita mil vezes que está tudo bem que vai que cola;
Musicoterapia: uso dos elementos da música - som, ritmo, melodia e harmonia - com propósito terapêutico. “Música” aqui leia-se aquelas insuportáveis e monótonas sequencias minimalistas com sintetizadores e barulhinhos de água ou pios que te fazem pegar no sono;
Naturopatia: uso de recursos naturais para recuperação da saúde. Vir com camomila é fácil, mas eu só vou acreditar o dia que esses caras tomarem um chá de carqueja com losna sem açúcar mascavo nem nada;
Osteopatia: terapia manual para problemas articulares e de tecidos. Desculpe-me, mas isso não é o que chamávamos de massagem?
Quiropraxia: prática de diagnóstico e terapia manipulativa contra problemas do sistema neuro-músculo-esquelético. Isto é massagem, eu sei por que já fiz. Foi a única que vi com utilidade, mas é aquela história por que tenho que pagar para alguém aliviar uma dor muscular que ele próprio deveria prevenir?
Reflexoterapia: é uma prática que utiliza estímulos em uma parte do corpo afastada da lesão. Isso é aprovado cientificamente ou faz parte de algum wishful thinking de quem deseja acreditar que faz bem?
Reiki: prática de imposição das mãos por meio de toque ou aproximação para estimular mecanismos naturais de recuperação da saúde. Tá quase, quase lá para termos cirurgia pelo espírito aprovada pelo SUS;
Shantala: massagem usada para aliviar dores e acalmar os bebês e crianças. Tranquilo, mas isso qualquer um pode fazer em casa;
Terapia comunitária integrativa: é desenvolvida em formato de roda, visando trabalhar a horizontalidade e a circularidade. Aí zoou, né? Quer dizer que se eu sentar em volta de uma mesa quadrada, o que eu ingerir no almoço também vai descer quadrado?
Então... Cansado desses desmandos governamentais? Nós também, como pode, perfeitamente, verAQUI.
O problema com qualquer sistema de saúde pública é que as demandas tendem ao infinito. Essa tese de Hayek se torna mais crível ainda quando pensamos que devido ao crescimento da expectativa de vida, mais e mais tratamentos de saúde se tornam necessários, justamente para manter esse período de vida mais longevo com boa qualidade. E por isso mesmo não é justo que todos os recursos tributados vão para um fundo comum para serem utilizados segundo critérios nem todos estão de acordos, mas que foram assim definidos por uma equipe de tecnocratas (burocratas que se arrogam conhecedores de determinadas técnicas e por isso te impõem qualquer decisão sem consulta). Que se elimine este sistema de saúde e que seus recursos sejam utilizados de maneira privada, isto é, sem tributação e com planos privados de saúde é que é justo, fim de papo.
Ou como disse o humorista Penn Jillette, em uma de suas mais sérias considerações, “minha opção pelo liberalismo está fundada no simples fato de que eu não sei o que é melhor para os outros”.