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Catraca tomou pela culatra

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E aí Haddad, quem deve pagar a conta para limpar a cidade, quem paga IPTU ou ex-prefeitos incompetentes que incentivaram o crime ambiental?

site Catacra Livre do jornalista Gilberto Dimenstein foi desmascarado ao não comentar o imbróglio do Prefeito João Doria com a Amazon (confira aqui). O site é desmascarado quando seus leitores criticam a completa ausência de veiculação da peça publicitária atacando Doria, quando foi criticado por pintar os muros da cidade de cinza deixando seus cidadãos sem ter o que ler (como se parássemos para ler aquela sujeira e imundície pichadas nas paredes).

Vale lembrar que o Catraca Livre é um site de propriedade do jornalista Gilberto Dimenstein, quem foi beneficiado pela gestão petista de Fernando Haddad, do PT, inclusive com o programa Ruas Abertas, que permitia shows e movimentação até altas horas em áreas residenciais! Especialmente na Vila Madalena, em São Paulo onde, não por acaso, o jornalista é proprietário de dois estabelecimentos comerciais.

Será que tanto tempo 'lendo' a poluição visual nas paredes pichadas deixou o cérebro de jornalistas simpáticos ao PT completamente vazio? Talvez a falta de exercícios de raciocínio tenha atrofiado a mente ou criado uma rede de arames entrelaçados dentro do crânio com um amendoinzinho suspenso como massa encefálica. Só pode...

De qualquer forma, este foi mais um episódio em que João Doria emplacou um gol midiático também. Mas falando em mídia, já repararam como pichadores, assim como a maioria dos políticos são péssimos marqueteiros? Inundam os espaços públicos e privados urbanos com o lixo que habita seus cérebros sem se importar para com os cidadãos.

De qualquer forma dá gosto ver um site simpático ao PT se dar tão mal. O Catraca Livre tomou foi um belo tiro pela culatra.

V.D.

 


O que os sindicatos têm a temer com Temer?

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Essa mamata absurda chamada Imposto Sindical é que sustenta eles. O que você tem a dizer?

O que os sindicatos têm a temer com Temer? O fim do imposto sindical. Só por isso, o fim do imposto sindical, o mandato de nosso "vampiro de estimação" já terá valido a pena. Claro que isto não o isenta de culpa por recuos lamentáveis, como a recriação do MinC, o Ministério da Cultura (veja aqui) adotado para apaziguar os ânimos de artistas mimados que se acostumaram a mamar nas tetas do estados com leis como a Rouanet.

Só a possibilidade de acabarmos com toda essa máquina sindical, o braço de sustentação dos partidos de raízes totalitárias, como PT, PSOL, PCO, PSTU etc. já é um enorme avanço para o Brasil.

Rui Costa Pimenta, presidente do insignificante Partido da Causa Operária (PCO) disse em vídeo recente que a prisão de Lula é um ataque a todo movimento popular... “Isso não pode ser permitido” vociferou e quer organizar caravanas com um ato monstro cercando lula para impedir que cheguem perto dele. Ele convoca milhares de militantes para o 1º de maio em Curitiba para que formem um gigantesco acampamento contra Sérgio Moro “perto do prédio da justiça”, a quem o sindicalista chamou de “vigarista (...) a serviço de potencias estrangeiras”. E como se não bastasse ainda exortou a libertação de reconhecidos criminosos presos, como José Dirceu, Delúbio Soares e João Vaccari. Esse é o tom de gente que só existe no cargo que existe graças a este maldito imposto. Portanto é fundamental que briguemos contra este tipo de estrutura que permite que criminosos deitem e rolem.

Combater uma praga com agrotóxicos é parte da solução, outra é limpar o meio ambiente onde ela se cria. Pense no mosquito da dengue... Basta usarmos inseticidas? Claro que não! Focos do mosquito em água parada e podre têm que ser erradicados. Da mesmíssima forma temos que fazer com os sindicatos: não ao imposto sindical! Contribua quem quiser, mas não nos obrigue a pagar por um serviço que, inclusive, repudiamos veementemente!

Simples assim.

V.D.

Aposentadorias especiais para ex-governadores, quem defende o indefensável?

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Dias Toffoli foi o único ministro do supremo a decidir pela manutenção das polpudas aposentadorias especiais para ex-governadores. Alguma surpresa nisto?

Há cerca de um ano atrás, o STF considerou ilegais as pensões vitalícias (que funcionam como aposentadorias) para ex-governadores. O supremo julgou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) promovida pela OAB no Pará, mas abre precedente para que o mesmo seja adotado em outros estados. A baixaria é tão grande que ao todo 21 estados mantêm este privilégio. Chamar de benefício é um eufemismo, o caso é sério. É algo simplesmente inconstitucional.

E, como não poderia deixar de ser, o ministro Dias Toffoli, ex-advogado petista aprovou a continuidade do pagamento quando o ex-governador comprovar não ter outra fonte de renda (piada, né?) ou insuficiência econômica (ah ah ah).

Em 2014 eram, nada menos que 114 ex-governadores recebendo a mamata. É como se dissessem “pague otário pague, é para isto que pagas imposto!” Após uma década e meia, tais aposentadorias já sangraram R$ 2.000.000.000,00 dos cofres públicos.

Bastou quatro aninhos de mandato e os governadores já pode contar com aposentadorias que alcançam os R$ 50.000,00 mensais. Quanto tempo um cidadão brasileiro vai ter que trabalhar para conseguir sua aposentadoria com a reforma previdenciária mesmo? Pois então por que não virar deputado? Bastam oito anos e se conseguir ser eleito governador só precisará de quatro aninhos para encher a bolsa. Cara... O Brasil é surreal.

V.D.

INTERVENCIONISMO LEVA A MAIS E MAIS INTERVENÇÃO

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No limite, o intervencionismo estatal leva às ditaduras, como estamos acostumados na América Latina e no Brasil, em particular. Exemplo de adoração disto no país é o mito de Getúlio Vargas como o "homem do povo", o "pai dos pobres" e que, na verdade, levou à outorga da constituição de 1937 que lhe dava plenos poderes. Exatamente como ora se vê na vizinha Venezuela.

V.D.

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A ÚNICA DEMANDA CRIADA PELO INTERVENCIONISMO É MAIS INTERVENÇÃO
Por Fernando R. F. de Lima
Desde que Guido Mantega assumiu o ministério da Fazenda e tornou-se responsável pela política macroeconômica no país, houve uma clara orientação no sentido de que toda intervenção que propiciasse crescimento econômico seria bem vinda. Desde então, já tivemos inúmeras intervenções com este intuito. Entre as principais estão o aumento crédito subsidiado para a aquisição de imóveis, as freqüentes intervenções no mercado de câmbio, para "segurar" o dólar, os diversos pacotes de estímulo para a indústria, como reduções temporárias de tributos, alteração de legislação tributária em favor dos produtos "nacionais" entre várias outras.
O governo, como se quisesse mostrar serviço, a toda hora anuncia novas medidas para corrigir os rumos da política intervencionista anterior. O fato, contudo, é que a única demanda que o intervencionismo cria na economia é a demanda por mais intervencionismo. Uma medida nunca é suficiente: sempre é necessário mais. Vejamos os principais exemplos.
Quando da crise de 2008, que se deflagrou por volta de setembro, o Brasil vivia ainda a euforia do PAC, lançado em 2007, e que até então não havia produzido qualquer resultado concreto. No fundo, a maior parte dos recursos do PAC são na verdade financiamentos imobiliários subsidiados (em partes) do programa Minha Casa Minha Vida. Como os financiamentos privados sumiram, o governo utilizou recursos do tesouro para criar linhas de financiamento no BNDES, para injetar dinheiro no setor privado e forçou os bancos públicos a entrarem agressivamente no mercado de empréstimos pessoais. Além disso, reduziu os depósitos compulsórios dos bancos privados, o que na prática significou liberar ainda mais dinheiro na praça.
Como esperado, o aumento súbito na quantidade de dinheiro circulando gerou pressão sobre os preços, uma vez que a produção não estava preparada para este surto. Para evitar que a inflação subisse muito, foram tomadas medidas intervencionistas como virtualmente congelar o preço da gasolina e reduzir tributos sobre bens duráveis, em especial o IPI.
O efeito da medida pareceu positivo, a princípio, uma vez que após o resultado pífio de 2009, com leve retração no PIB, 2010 produziu uma das maiores taxas de crescimento real da história recente, altos 7,5%. Mas se analisarmos melhor o significado desta expansão, veremos que ela não era de forma alguma sustentável, tendo em vista que se baseou no aumento do consumo interno, numa produção agrícola recorde e em preços internacionais elevados para nossos produtos de exportação. Contudo, já em 2010 eram fortes os efeitos desta expansão anormal do PIB, com um forte elevação dos preços internos, sobretudo no setor de serviços.
A contrapartida foi a necessidade de uma forte contração da economia, praticada com medidas intervencionistas no sentido inverso. Provavelmente o Brasil foi um dos poucos países que num mundo ainda cambaleante resolveu contrair o crédito e subir as taxas de juro, retirando estímulos à demanda num momento em que o comércio mundial dava sinais claros de retração, como a segunda fase da crise na Europa.
O intervencionista, contudo, não consegue ver os efeitos adversos de suas medidas, e em dezembro de 2011 entrava em vigor uma medida para impedir/reduzir a entrada de veículos importados no mercado nacional, como forma de impedir o avanço dos "asiáticos" (leia-se Coréia do Sul e China). Esta medida, obviamente, fez mais mal que bem, novamente.
Um outro resultado das medidas intervencionistas tomadas em 2008-09, foi a severa perda de competitividade do álcool frente à gasolina, o que acabou prejudicando o balanço da Petrobrás, que teve que aumentar suas importações deste combustível para suprir a demanda interna. Enquanto os preços do petróleo subiam fora do país, assim como o preço do açúcar, o governo resolver congelar os preços da gasolina, permitindo a livre flutuação do preço do etanol (ainda bem, diga-se de passagem). Como resultado, o consumo de álcool vem caindo seguidamente desde 2010, afetando até mesmo a rentabilidade das usinas e os planos de expansão. O Brasil, que parecia um promissor exportador do derivado da cana, durante alguns meses chegou mesmo a importar etanol dos EUA.
Obviamente, a sanha de Guido Mantega por regular os botões da economia brasileira não acabou ainda. Mas diante de tão amplamente demostrada inabilidade no trato das questões nacionais e incompetência para gerir a economia do país, criando ciclos que alternam euforia e desespero, creio já é passada a hora de sua demissão. Dilma, enquanto presidente, demitiu ministros utilizando como critério o podridão. Quando começaram a feder, foram afastados da casa. No caso de Mantega, não se trata de um problema de corrupção, mas de incompetência mesmo. Será ele o primeiro ministro a ser defenestrado considerando o critério do mérito em estar lá?

Entenda por que o golpe de estado venezuelano é pior do que parece

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A questão é entre a liberdade ou o despotismo e não simplesmente entre estatização da economia ou livre-comércio.

Por V.D.

Existe autogolpe? Foi um golpe de estado que ocorreu na Venezuela, isto é claro, mas o que significa o estado golpear-se? Faz sentido dizer uma coisa dessas? Faz. Faz porque um estado não é um bloco monolítico, ou seja, algo que não apresenta rachaduras, partes, partes inclusive que por alguma razão estejam em conflito. Pense no Brasil atual, alguém ainda acredita, depois do julgamento do Mensalão, dos processos contra o Petrolão, da Lava-Jato que todo estado brasileiro é bixado? Claro que não. Há funcionários competentes em postos estratégicos que impediram seu completo assalto pela esquerda. Sei sei que passamos por um baita perrengue, mas nem tudo é o caos que os mais conservadores pintam. Aliás, muito cuidado com este discurso, pois ele leva a um fatalismo de que não adianta fazer nada, não adianta reagir. E o que vimos no Brasil foi uma reação histórica. Mas esse é outro assunto... Agora o caso venezuelano é, claro, bem mais grave e veremos na lista que se segue, como o governo de Maduro acaba de sufocar o seu estado de direito com um golpe mais ousado.

  • O golpe foi contra a Assembleia Nacional

A assembleia nacional venezuelana foi a última instância a ser legitimada pelo voto popular. Ou seja, Maduro golpeou a democracia naquele país. Para começar, foi retirada a imunidade parlamentar dos membros da assembleia nacional.

  • O Tribunal Superior de Justiça assume as funções do legislativo

Isso mesmo, separação de poderes para quê? Quem julga, agora também fará as leis. E não por acaso foi esta mesma corte que emitiu decisões que eliminaram a imunidade do parlamento.

Vejamos as decisões ‘judiciais’ para inglês ver, para dizer que têm alguma legitimidade. De acordo com comunicado emitido pela Organização dos Estados Americanos (OEA)[1]:ou reforçar a preservação da instituição democrática no continente americano. Politicamente, ela implica no compromisso dos governos em manter a democracia; historicamente, se adéqua às ações da OEA; sociologicamente reflete os anseios e lutas dos povos pela sua representatividade política; juridicamente, ainda que se trate de uma resolução e não de um tratado corresponde a uma etapa importante no desenvolvimento progressivo do direito internacional.

  1. A primeira destas decisões, emitida em 27 de março de 2017, declara inconstitucional toda a legislação aprovada pela Assembleia Nacional, chamando de apoio à Carta Democrática Interamericana[1] um ato de traição mesmo que seja um documento legal assinado pela Venezuela.

  2. Através de sua segunda decisão, emitida em 29 de março de 2017, a Corte declarou a "Assembleia Nacional desobediente e anulou seus atos". Esta decisão foi tomada sem fundamento constitucional, nem por meio de autoridades concedidas à Assembleia (artigo 187 da Constituição ), Nem os da Câmara Constitucional do TSJ (artigo 336 da Constituição). Viola tanto a separação de poderes garantida pela Constituição como a obrigação de todos os juízes de respeitarem e "assegurarem a integridade" da Constituição (artigo 334).

  3. A seção 4.4 da decisão do TSJ afirma: "Enquanto a Assembleia Nacional permanecer desacreditada e seus atos anulados, a Câmara Constitucional do Supremo Tribunal assegurará que as funções parlamentares sejam exercidas diretamente pela Câmara ou pelo órgão que designa, Para garantir o Estado de Direito ".

  4. Esta decisão viola o artigo 187 da Constituição, que delineia os poderes legislativos da Assembleia Nacional. A Subsecção 24 garante esses poderes de acordo com a Constituição e a lei.

Agora fica fácil entender a expressão Aparelho Ideológico de Estado, pois foi nisto que se transformou a suprema corte venezuelana, em um mero apêndice da vontade de Maduro, o déspota venezuelano.

Trabalhar pela restauração da ordem no hemisfério ocidental é tarefa da OEA e agora se trata de boicotar o governo venezuelano até que Maduro caia. Infelizmente, isto não vai ocorrer sem o recrudescimento do sofrimento de seu povo.

O que ocorre na Venezuela é algo muito mais profundo do que um processo de estatização econômica (o que, aliás, nós temos aqui no Brasil). Quando as regras, funções e postos do estado funcionam harmonicamente para suprimir qualquer possibilidade de dissenso estamos vários passos a frente de um simples governo autoritário centrado na figura de um caudilho, ditador, déspota etc. Se alguém pensou em totalitarismo acertou.

 

[1] OAS press release. Venezuela: OAS SG Denounces Self-inflicted Coup d’État. March 30, 2017.

[2] Aprovada em 2001, a Carta Democrática Interamericana em Lima, Peru objetivou reforçar a preservação da instituição democrática no continente americano. Politicamente, ela implica no compromisso dos governos em manter a democracia; historicamente, se adéqua às ações da OEA; sociologicamente reflete os anseios e lutas dos povos pela sua representatividade política; juridicamente, ainda que se trate de uma resolução e não de um tratado corresponde a uma etapa importante no desenvolvimento progressivo do direito internacional.

Atentado ao metrô de S. Petersburgo, Rússia

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V.D.

Alguém tinha alguma dúvida que este atentado não teria assinatura de algum grupo jihadista? O metrô de S. Petersburgo é um dos mais movimentados do mundo, com 2 milhões de passageiros por dia. 10 mortos e 50 feridos, com o intuito de instabilizar o Governo Putin, já que o presidente russo se encontrava na cidade. O Estado Islâmico (ISIS, na sigla em inglês) já avisara de sua intenção de atacar a Rússia diretamente devido ao apoio de Moscou ao governo sírio.

Como já vimos na história recente do país, Vladimir Putin não vai deixar barato e, como sempre, os culpados não serão os primeiros a morrer.

Confira o vídeo abaixo após o atentado e tire suas conclusões sobre o que merecem os terroristas:

O QUE É O LIBERAL CONSERVADOR?

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Por Lucas Berlanza, publicado pelo Instituto Liberal

O crescente movimento que contesta a hegemonia esquerdista no pensar nacional parece alimentar um curioso prazer por contendas de menor envergadura. Liberais e conservadores, por exemplo, parecem se deleitar em disputar campeonatos de preciosismo linguístico, numa competição para saber quem detém o monopólio do verdadeiro significado do liberalismo ou do verdadeiro significado do conservadorismo.

Nunca gostei muito desse tipo de discussão de um dogmatismo doutrinário absoluto que mais me parece um monte de afirmações de ego e que obras como O Liberalismo Antigo e Moderno de Merquior demonstram fazer pouco sentido histórico; os termos têm um entendimento geral que pode ser identificado em seu desenvolvimento prático e teórico no transcorrer do tempo, mas nem o pensamento liberal, nem o pensamento conservador são abstrações perfeitas e unívocas, sem subdivisões e nuances internos contrastantes, variando em grupo, tempo e lugar; nem um nem outro tem um cânone absoluto, tal como o pensamento marxista tem a obra de Marx ou o Budismo tem o Dharmapada. Adam Smith, Locke, Hayek, Rothbard, Mises são semelhantes e, ao mesmo tempo, diferentes entre si; há liberalismos, no plural, tal como há conservadorismos.

Sendo assim, transformar essa realidade em uma discussão meramente idealista, como se estivéssemos em uma religião avaliando a ortodoxia ou a heterodoxia dos demais, é para mim um esforço surreal por singularizar o que é plural. De todo modo, uma das expressões que pessoalmente mais aprecio, por transparecer um significado mais específico e amplo, e que é tratada como “patinho feio” por todos os lados, é a alcunha de “liberal conservador”. Alguns articulistas, até bastante respeitáveis, já a trataram como uma aberração, um oximoro, supostamente inventado por brasileiros; outros dirão que o liberal conservador é na verdade um falso liberal querendo preservar seu “autoritarismo antiquado em costumes e valores”; outros ainda dirão que é um liberal querendo emporcalhar as nobres tradições do “conservadorismo católico”.

Especificamente no livro Pontos e bordados: escritos de história e política. Comentando sobre uma geração dos chamados políticos saquaremas ou conservadores do Império Brasileiro, com destaque para a figura teórica do Visconde do Uruguai, José Murilo diz: Fiel ao meu costume de entender esse assunto, frise-se, como plural e sujeito a diferentes abordagens vocabulares dependendo da fonte e do momento histórico, já encontrei a expressão em portais e publicações estrangeiros, em Raymond Aron e em Alexis de Tocqueville, para ficar em alguns exemplos. Porém, minha grande surpresa foi constatar que a definição mais detalhada do rótulo e, o que é melhor, contextualizada na trajetória do pensar político brasileiro, está na obra do célebre historiador e cientista político José Murilo de Carvalho, de cuja erudição na área ninguém ousará duvidar.

“Poderíamos chamá-los de liberais conservadores, utilizando a expressão que Victor Hugo empregou para caracterizar o liberalismo da Restauração, sintetizado na figura de Guizot. A expressão é, sem dúvida, apropriada, pois Guizot era um dos autores prediletos de Uruguai, que o citava extensamente para justificar o Poder Moderador (‘o rei reina, governa e administra’) e como fonte para a história política e constitucional da França. Os liberais conservadores tornaram-se particularmente influentes sob a Monarquia de Julho. Seu principal objetivo era completar a revolução, construir uma França nova a partir da demolição da antiga. Sobretudo, construir instituições de governo, resgatar a política do domínio da paixão a que a tinham confinado os homens de 1789, e recolocá-la dentro do círculo da razão. (…)

Os liberais conservadores eram exatamente isso, liberais conservadores. Seu conservadorismo não eliminava o liberalismo. Seu modelo de sociedade, ou sua utopia política, continuava sendo a sociedade liberal e a política liberal.”

A maior diferença estava em que entre os saquaremas se encontravam aqueles que, valorizando a unidade histórico-conceitual de pátria e a identidade nacional, desconfiavam de simples transplantações abstratas do figurino institucional de outros países, como o federalismo puro, colocando nas mãos dos senhores regionais, em um país pouco povoado, o comando de aspectos como a segurança e a justiça. Já os luzias como Tavares Bastos primavam pela defesa do federalismo total e por enxergar o Brasil, mesmo que com a melhor das intenções, como se já fosse uma Inglaterra ou os Estados Unidos. Depois de dizer que a expressão “liberal conservador” nasceu com Victor Hugo na França e readaptá-la a um pensamento marcante em um dos dois grandes partidos do Império brasileiro, berço de nossa cultura política como pátria independente, José Murilo explica o cerne da questão: tanto os conservadores (saquaremas) quanto os luzias (liberais) compartilhavam convicções centrais do liberalismo institucional do século XIX. Queriam o governo representativo, a Constituição, uma maior autonomia para as garantias de direitos individuais. Todos princípios eminentemente liberais, no sentido histórico da expressão – não no sentido ideológico de alguns radicais modernos para quem Roberto Campos, por exemplo, não seria liberal em acepção alguma do termo, apenas porque discordava de Rothbard e Friedman ao ser contra a legalização da maconha.

Vejamos este outro trecho:

“A posição tradicional dos liberais, desde a década de 1830, foi a de que a liberdade exige descentralização, despotismo requer centralização. (…). Nesta postura, o poder central é visto sempre de maneira negativa, ele é inimigo das liberdades civis, mata a iniciativa das localidades e dos indivíduos, impede o desenvolvimento da prática da cidadania. (…). Para os conservadores, a relação era mais complicada. Falo, naturalmente, de conservadores preocupados com o problema da liberdade, daqueles que Victor Hugo chamava de liberais conservadores, a geração que veio após a Revolução e a criticava sem a negar, como Tocqueville, Benjamin Constant, Guizot, Thiers. No Brasil, esse grupo foi representado principalmente pelo visconde de Uruguai, político e teórico do Partido Conservador, um dos principais engenheiros do Regresso e depois seu crítico. (…).

Para conservadores liberais como Uruguai, a liberdade era ameaçada não só pelo Estado como também pelos particulares. A experiência da Regência, segundo ele, tinha ensinado essa lição. O aumento do poder das assembleias provinciais tinha permitido o fortalecimento das facções locais, germe das revoltas. Isso ameaçava, é certo, a unidade do país, que ele prezava. Mas ameaçava também a liberdade do cidadão. A vitória de uma facção local significava o fim da liberdade dos partidários da outra, significava o reino do arbítrio, o fim do governo civilizado.”

Naquela época, como hoje, os fatos concretos e a pluralidade humana denunciavam a limitação de certos preciosismos vocabulares e de conceitos fixos no maravilhoso e simples mundo das teorias. José Murilo mostra que muitos dos apaixonados luzias e mesmo dos republicanos, defensores argutos do federalismo e da descentralização de todas as esferas (administrativa, econômica, política) no Brasil do século XIX não tinham qualquer interesse, por exemplo, em abolir a escravatura.

Entre os conservadores saquaremas, igualmente havia aqueles que, como o patriarca José Bonifácio, defendiam um movimento de criação de uma ordem jurídico-institucional, de cima, que encaminharia o fim da escravidão, enquanto outros usavam o argumento da ordem social, da necessidade econômica e dos costumes, como Bernardo Pereira de Vasconcelos, para defender a tragédia escravocrata.

Saindo do Brasil, entre os liberais históricos, destacava-se Locke como defensor da tolerância religiosa, mas ele não enxergava os ateus com a mesma condescendência. Dir-se-ia anacronicamente ou por preciosismo ideológico que Locke, vejam só, não era liberal? Temos ainda Edmund Burke; irlandês que inspirou Guizot, Tocqueville, e no Brasil, boa parte dos saquaremas, e também conservadores anteriores à fundação do partido, como o visconde de Cairu, era um Whig – o protótipo do Partido Liberal na Inglaterra -, adversário dos tories, defensores de uma visão mais tradicionalista e agrária. Burke era liberal ou conservador? A que resposta a nossa direita atual no Brasil chegaria depois de se engalfinhar quando interrogada sobre isso? É preciso haver uma resposta absoluta e exata?

Burke era adepto do livre comércio e defendeu os colonos americanos e os indianos, mas construiu o argumento mais famoso e consistente contra a revolução abstratista, Reflexões sobre a Revolução na França, considerado um marco para o conservadorismo inglês e para o pensamento conservador mundo afora. Em contrapartida, existe na Inglaterra também uma tradição conservadora mais protecionista, menos afeita às pregações liberais do livre comércio, representada, por exemplo, por Benjamin Disraeli – o que derruba um outro argumento que já encontramos por aí, o de que a expressão “conservador”, em qualquer tempo, autor e lugar, designaria automaticamente uma corrente de pensamento que aceita as principais teses institucionais e econômicas do liberalismo.

Será que essa longa coleção de exemplos e excertos vencerá algumas resistências teimosas de vozes que se creem monopolizadoras do significado dos termos, que taxam outros usos vocabulares de imbecis simplesmente porque não conhecem a fonte teórica donde foram tirados? Parece-me que o mais sábio para conceituar as palavras é procurar características predominantes e constantes no seu sentido ao longo do tempo, mas também com uma filtragem relativa à realidade de cada país e cultura e às questões que preocupam em cada momento histórico.

Se o conservador é aquele que valoriza uma unidade histórico-conceitual pátria, um gradualismo de transformações, o ensejo a certo valor da ordem e das instituições historicamente construídas, e reage ao abstratismo revolucionário, tal como Burke e também os “reacionários” franceses – ao contrário de Burke, defensores do Antigo Regime – reagiram contra as pretensões totalizantes da Revolução Francesa; e se o liberal é aquele que adota, com essa ou aquela nuance, esse ou aquele grau, a convicção no valor de uma maior autonomia ao indivíduo, em liberdades de expressão e mercado, em constitucionalismo e representatividade – se assim é, historicamente, em diversas bibliografias sérias, o liberal conservador é alguém que estabelece um casamento entre essas duas preocupações, o que, na essência, já era a posição de Burke, como Merquior reforça em O Liberalismo Antigo e Moderno. Também é, em essência, a posição de Hayek, da Escola Austríaca, que se considerava afeito às teses de Burke.

Com esse texto, não me dirijo, é certo, aqueles radicais do anarquismo capitalista para quem Mises era socialista só por defender a existência do Estado (!), ou aos tradicionalistas para quem o fim da Idade Média é a maior tragédia da história humana. Dirijo-me a quem esteja disposto a averiguar a questão com todos os seus matizes e começar a pensar em não reagir de automático com gritarias ou vitupérios diante de um suposto contendor apenas por usar termos de maneira diferente, sem nenhum aprofundamento no assunto. Isso só cria divisões desnecessárias e nos afasta da serenidade e prudência de que tanto precisamos neste momento.

Gilberto Dimenstein desrespeita o espaço público

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Você gostaria de ver seu pacato bairro desse jeito? E tudo com a anuência hipócrita de um projeto politicamente correto, mas socialmente imoral?

Por Anselmo Heidrich

Em dezembro de 2016, o então prefeito de S. Paulo, Fernando Haddad promulgou a lei que instituía oficialmente o Programa Ruas Abertas no município. A ideia, louvável diga-se de passagem era ampliar e requalificar os espaços públicos na cidade. De que modo? Com atividades culturais como música, teatro, palestras, jogos para crianças, atendimento de saúde etc.

Antes de mais nada, um adendo: eu cresci em Porto Alegre, RS quando esta cidade tinha espaços públicos disponíveis e, mais importante frequentados como nunca vi em outra cidade brasileira. Não, não é bairrismo Senhores e Senhoras. Trata-se de mera constatação, a cidade tinha praças e parques à reveria. Hoje eles ainda persistem, mas com cacos de vidro de garrafas de cachaça ou cerveja e baganas de ‘bauras’ jogados no chão. Nada contra quem é usuário frequente, mas contra sim quem faz do espaço público uma latrina como reflexo de suas almas. E não ficou apenas nisto... Os parques e praças porto-alegrenses se tornaram covil de ‘marginas’, como são chamados proto-bandidos que ameaçam a vizinhança com furtos, bullying e intimidações que, não raro terminam em extorsão dos mais fracos.

Meu relato poderia se estender por páginas e páginas, mas ele dá uma breve ideia do que se tornou o projeto de Gilberto Dimenstein, o conhecido jornalista paulistano que encabeçou o projeto e que, recentemente, se embrenhou numa luta contra o Movimento Brasil Livre (MBL) e Fernando Holiday, seu vereador eleito pelo DEM como seus inimigos declarados. O problema parece ser consequência da filiação e simpatia partidárias, já que os movimentos de rua favoráveis ao impeachment, como é o caso do MBL são visceralmente anti-petistas e Dimenstein, isso não é segredo para ninguém, um simpatizante da ex-administração municipal petista. Claro que o clima entre eles iria azedar, sobretudo, quando a crítica ao projeto começou a se intensificar.

Agora, no vídeo abaixo fica claro no que se tornou o “espaço de convivência” do Ruas Abertas: um antro de meliantes que não respeita o sossego alheio. Sabe aquela lembrança de praças, crianças e adultos conversando? Pois é... Nada a ver. Pense agora em algo como venda de bebidas até altas horas, gente fumando e dançando no meio da rua, a maioria jovens e jovens adultos, carros estacionados em frente às garagens, som alto, muito alto (inclusive funk) entrando residências adentro, moradores sem poder dormir. Quando? Todo, sim, eu disse todo sábado e domingo e feriados há quase dois anos! Isso é “espaço de convivência”? Te toca Dimenstein!

Veja aqui o que o jornalista teve a cara de pau de escrever:

Ao que respondi prontamente:

E aqui um relato contundente de um morador que sofre com o descaso do poder público (para pagamos impostos mesmo?) e com a falta de respeito e civilizado dos organizadores do Projeto Ruas Abertas:

Dimenstein disse em um de seus posts “como tentaram emporcalhar uma linda ideia com uma sórdida campanha política”[4], se referindo aos ataques que seu projeto recebe, supostamente por sua filiação política pessoal. Não Sr., os ataques são devidos ao desrespeito que o Sr. promove. Reiterando aqui o que já pude escrever contra o projeto e a postura dissimulada com que tenta desviar o foco do debate chamando seus críticos de haters e acusando-os de disseminar o ódio:

Dimenstein e demais, o amor, assim como o ódio sempre existiram, mas o respeito não. Este foi construído a duras penas com o avanço da Civilização. Mas sua rota não é livre de desvios... Quando de modo egoísta, indivíduos com influência política tentam se sobrepor à lei ignorando normas de convívio social, como o limite máximo para ruído e impactos sobre vizinhança em zonas residenciais exclusivas temos um exemplo claríssimo de que a decadência do que construímos ao longo da história pode vir, justamente, de quem mais alardeia ser seu paladino e defensor. Sabe... No meu dicionário, isto tem um home e começa com 'h' e termina com 'a'. Quem sabe vocês possam abordar o tema hipocrisia em uma de suas palestras "naquele espaço que não é um boteco" para o desenvolvimento da sociabilidade em uma metrópole que respeite mais o cidadão. Se é que vocês sabem o que isto significa...

Quem sabe um dia, Gilberto Dimenstein conheça o significado da palavra respeito?


O que a sociedade russa deve fazer sobre os atentados

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Fotos do suspeito, Akbarzhon Jalilov e cenas da tragédia no metrô de S. Petersburgo.

Por V.D.

O atentado de ontem em S. Petersburgo, no norte da Rússia ceifou a vida de 14 pessoas e deixou 49 feridas. O autor do atentado, Akbarzhon Jalilov de cidadania russa e etnia uzbeque provinha do Quirguistão, ex-república soviética de maioria muçulmana.

A descoberta de outro explosivo no metrô mostra que foi um ataque coordenado e afasta a hipótese de suicídio. As duas principais suspeitas recaem sobre um grupo terrorista inspirado no Estado Islâmico (EI) que busca retaliar a ação russa na Síria ou de nacionalistas chechenos. Pode ainda haver uma combinação dos dois grupos no atentado.

Discorde-se ou não da política externa russa em vários pontos, mas não podemos nos furtar a apoiar o combate ao terrorismo que ataca vítimas inocentes. Inocentes sim, pois não podem ser responsabilizadas pelos atos do estado maior das forças armadas que, em última instância tem poder e autonomia suficientes para agir sozinho. Agora, o tamanho do problema e responsabilidade social está em discriminar, boicotar e expulsar os russos que retornaram, dentre os 7.000 que viajaram à Síria para se juntar a grupos extremistas. Aí a sociedade russa tem que agir denunciando-os.

Como o estado brasileiro nos incentiva ao crime: o caso do Uber

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O mundo que se desenvolve o faz com administração competitiva e produtividade no trabalho. O gráfico é claro ou você prefere ficar ao lado de corporações que andam de braços dados com burocratas do estado? Braços dados e mãos nos bolsos uns dos outros...

Por V.D.

Sílvio Costa é o nome do deputado pernambucano do PTdoB (isso existe?), responsável por ter chamado o sistema de mediação de transporte Uber de “transporte pirata”. Dentre seus argumentos pueris nota que “usa pessoas desempregadas sem proteção social e faz precarização do trabalho”. Deduz-se, portanto, que na lógica do petista do B, a melhor opção é que as pessoas continuem desempregadas porque não têm “proteção social” com o Uber. Vá lá tentar entender o que o indivíduo quis dizer com isto, nós não conseguimos. E realmente, o serviço de taxis é um primor, não é mesmo? Uma educação exemplar, serviços ótimos, disponibilidade em todos os bairros de todas as cidades, não é mesmo? Quem estes políticos pensam que enganam? Sinceramente, este tipo de atitude que resultou na aprovação de um projeto de lei, o PL 5587/16 que encerra cerca de três anos de trabalho desde que o Uber chegou ao país só tem uma consequência lógica: a clandestinidade do serviço. Duvidam? As famosas “caroninhas” distribuídas em cartões e banners são o que, afinal de contas?

Como ficaria patente o autoritarismo na proibição de aplicativos de intermediação de transporte e mobilidade em todo o território nacional, a solução despótica encontrada foi “regulamentá-lo”. Mas a forma como foi regulamentado simplesmente descaracterizou o serviço. Acabou por transformá-lo em mais uma companhia de taxis, esta sim precarizada e dependente de concessões municipais. Pouco corruptas, não é mesmo?

Segundo uma das emendas do projeto, o Uber deixa de ser uma “atividade de natureza privada” e o transporte deverá ser feito por “veículos de aluguel”. Alguém aí disse taxi? Só falta pintar os carros da mesma cor dos taxis da cidade...

Esta estupidez irá prejudicar milhares de motoristas e milhões de usuários do sistema. Além de ser inconstitucional, na medida em que proíbe o transporte individual privado em todo país. Na terra dos direitos, na era dos direitos, nas constituições sociais, como é a nossa “constituição cidadã” de 1988, o que parece menos importar é o direito de escolha. E na prática só nos resta dizer uma coisa: bem vindo ao mundo da ilegalidade, que será a consequência óbvia da instituição desta estupidez.

DE QUE LADO ESTÁ REINALDO AZEVEDO?

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Por Adolfo Sachsida, publicado pelo Instituto Liberal

Num texto interessante Reinaldo Azevedo conclui “Em todo caso, deixo aqui um convite: e se os grupos que fazem política começassem também a fazer contas? Poderia ser uma revolução maior do que a chegada das caravelas…“. Ele se referia aos grupos que se calaram frente a uma decisão recente do STF que diminui a arrecadação federal, mas ao mesmo tempo reclamam do governo tentar compensar isso aumentando impostos.

Creio que o texto de Reinaldo Azevedo tem dois problemas sérios: o primeiro é atribuir ao governo o que não lhe pertence, e o segundo é não fazer as contas da maneira correta.

Reinaldo pergunta: “A quem se pune quando se cortam, da noite para o dia, num caso controverso, R$ 20 bilhões por ano de receita da União?“. Minha resposta é simples: a quem se pune quando se cobram indevidamente R$ 250 bilhões? Ora, a decisão tomada pelo STF diz que o governo não podia incluir na base tributária do PIS e da COFINS o valor do ICMS. Em outras palavras, o governo estava procedendo de maneira INCONSTITUCIONAL. Isto é, estava tributando A MAIS os contribuintes. Ou ainda, o governo estava se apropriando de um recurso que não lhe era devido. Resta evidente que o STF não cortou recurso algum do governo, pelo simples fato de que tais recursos não eram do governo. Digo mais, é muito pouco provável que os contribuintes que pagaram a mais recebam seu dinheiro de volta. O STF ainda irá modular a decisão (isto é, decidirá se o governo deve restituir os contribuintes pelo imposto pago a mais ou se a decisão só valerá para o futuro). Sendo assim, a pergunta de Reinaldo pode ser respondida de maneira simples: não ocorreu punição alguma ao governo, punidos foram os contribuintes que pagaram a mais e não receberão seu dinheiro de volta.

Outro detalhe importante: nada foi feito da noite para o dia. Essa discussão já estava há mais de 10 anos no STF. E o governo também não foi pego de surpresa. Prova disso é que no orçamento da União existe uma seção que trata dos riscos jurídicos que a União corre. Nessa seção, o risco de ter que devolver R$ 250 bilhões decorrentes da decisão do STF já estava especificado. Quando uma empresa está envolvida em várias demandas judiciais o bom senso recomenda que ela tenha um fundo para se precaver de decisões negativas. Com o governo não é diferente. Esse risco era conhecido, e estava precificado. Não dá pra dizer que a decisão do STF foi feita da noite para o dia pegando o governo de surpresa.

Reinaldo continua: “Não se ouviram nem protesto nem muxoxo. Nessa hora, vale pensar com os calcanhares rachados da ideologia: se é menos imposto, é bom. Que se danem as contas públicas“. Ora, não se ouviram protestos porque basicamente o STF decidiu que a cobrança era inconstitucional. O que Reinaldo queria? Que alguém defendesse a manutenção de um procedimento inconstitucional? Será que Reinaldo está a sugerir que alguém defenda o não cumprimento da Constituição? Ou será que ele está a defender que para manter as contas públicas em ordem devemos deixar a Constituição de lado? Claro que sempre é possível questionar uma decisão do STF, mas isso deve ser feito com base em princípios constitucionais. Questionar decisão do STF com base nas contas públicas me parece equivocado. Afinal não cabe ao STF analisar as contas públicas, a função do STF se refere a fazer valer a Constituição. Se a Constituição atrapalha as contas públicas quem deve alterar a Constituição é o legislativo, e não o STF. Reinaldo Azevedo é um grande defensor do estado de direito, não me parece que ele defenda que não se cumpra a Constituição. Dessa maneira, acho que ele foi apenas infeliz na sua argumentação. Mesmo assim, dado o tom pesado de sua crítica, achei importante ressaltar essa passagem.

Ele conclui o artigo da seguinte maneira: “Em todo caso, deixo aqui um convite: e se os grupos que fazem política começassem também a fazer contas? Poderia ser uma revolução maior do que a chegada das caravelas…“. Eu topo! Vamos então às contas: que tal o governo criar outro imposto inconstitucional e empurrar o problema por mais 10 anos? Será que Reinaldo topa isso? Claro que ele irá recusar. Mas meu argumento é válido: se o governo pode criar impostos inconstitucionais e depois o STF não pode impedir sua cobrança (com o argumento de salvar as contas públicas) então fica difícil limitar o tamanho do governo. Lembremos sempre que limitar o poder de tributar do rei foi a função primordial das primeiras constituições. Vejamos agora o argumento sob o ponto de vista de consistência temporal: se o governo pode criar impostos inconstitucionais, e os mesmos não podem ser revogados depois, qual será o incentivo do governo para seguir a Constituição?

Se recusar a seguir a Constituição com o argumento de que isso põe em risco as contas públicas não é argumento jurídico, e nem deve ser feito pelo STF. Se a Constituição põe em risco as contas públicas cabe ao legislativo alterar nosso ordenamento jurídico. Isso vale para o governo como vale também para empresas privadas, a lei é para todos. Defender inconstitucionalidades para melhorar as contas públicas é um caminho certo para a insegurança jurídica.

Para finalizar reforço o que tenho dito: na situação atual é completamente imoral aumentar impostos sem antes reduzir o gasto público. Os gastos do governo federal em 2017 serão maiores do que os gastos de 2016. Se o governo quer aumentar impostos ele deveria ao menos reduzir o gasto público antes.

 

Por que a Esquerda apoia o Crime Organizado

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Muito se atribui ao PT, o caos na segurança pública, o que não deixa de ser verdade, mas a tradição de vitimizar criminosos (e usá-los politicamente) já vem de antes... No início dos anos 80, durante o primeiro mandato de Leonel Brizola campeava o discurso “Polícia Violenta VS. Morador Vítima” e com esta justificativa, a polícia foi proibida de entrar nas favelas.

O texto que se segue é um relato sobre a barbárie que cerca nossa sociedade. Cerca, não! Ela vem de dentro, melhor dizendo e nasce oriunda de dois fatores, a omissão e a má consciência sobre os problemas sociais que, dentre outros efeitos está nossa legislação leniente. E o aparente paradoxo disto tudo é que quanto maior a taxa de criminalidade, nossos legisladores fazem criar mais e mais leis sem se perguntarem porque o arcabouço institucional preexistente não dá conta do recado.

Leiam que não se arrependerão. Interessantíssimo também é o processo de descoberta da conexão entre a ideologia de esquerda e a criminalidade pelo autor que, a princípio discordava frontalmente desta tese.

Boa leitura,

V.D.

 

 

A Esquerda e o Crime Organizado

Por Geyson Santos

 

"A posteridade poderá saber, que não deixamos, pelo silêncio negligente, que as coisas se passassem como num sonho"

(Richard Hooker - alguém que não se calou)

Faz algum tempo, um de meus interlocutores disse algo que, tanto pareceu-me inverossímil como insólito: "a esquerda deste país é responsável pela escalada acachapante da criminalidade". De pronto, refutei a ideia, imaginando ser simplista demais; outros fatores deveriam ser analisados.

Pois bem, entretanto, tenho por princípio jamais descartar uma ideia, por mais estranha que seja, antes de gastar algum tempo a analisá-la. Assim, por algumas semanas fiquei às voltas com isso. Por que alguém com razoável instrução diria uma coisa destas? Parecia-me extremismo político.

Não me lembro ao certo como, mas ao pensar sobre o assunto, num "flash", vieram-me à mente as palavras "Ilha Grande". Então, lembrei de duas obras as quais havia "devorado" com muito entusiasmo, há muito tempo, e que nem lembrava mais: "Comando Vermelho - A História Secreta do Crime Organizado" e "CV PCC - A Irmandade do Crime", ambas escritos por Carlos Amorim, vencedor do Prêmio Jabuti com a primeira delas.

Nesse artigo gostaria de prosseguir o assunto que comecei em dezembro do ano passado, mas que faltava-me inspiração para continuar. Durante todos esses meses estive lendo e relendo, pensando e tentando chegar a conclusões sobre o tema.

Desde já, gostaria de expor minhas fontes. Partindo das fontes já elencadas acima, também li o mais importante livro escrito por um criminoso no Brasil: "Quatrocentos contra Um", no qual William da Silva Lima, mais conhecido como "o professor", conta como ele e seus pares fundaram a mais importante facção criminosa brasileira de todos os tempos, o Comando Vermelho. Essas foram minhas fontes primárias (cito-as, porquê, não arrogo-me o senhorio da verdade; cada um de vocês poderá lê-las e chegar às suas próprias conclusões). Como fontes secundárias, procurei reportagens, artigos e tudo que no Brasil tivesse sido escrito sobre o tema; não há muito escrito sobre assunto, contudo, ajudaram a reforçar as conclusões que eu mesmo havia chegado.

Como de regra, gostaria de propor minhas premissas, que serão baseadas nas palavras do supracitado jornalista e, do mais proeminente líder e, também fundador, do Comando Vermelho:

"O governo militar tentou despolitizar as ações armadas da esquerda tratando-as como 'simples banditismo comum', o que permitia também uma boa argumentação para enfrentar as pressões internacionais em prol da anistia e contra denúncias de tortura. Nivelando o militante e o bandido, o sistema cometeu um grave erro. O encontro dos integrantes das organizações revolucionárias com o criminoso comum rendeu um fruto perigoso: O Comando Vermelho. (Carlos Amorim - Comando Vermelho, a História Secreta do Crime Organizado);

"(...) Quando os presos políticos se beneficiaram da anistia que marcou o fim do Estado Novo, deixaram nas cadeias presos comuns politizados, questionadores das causas da delinquência e conhecedores dos ideais do socialismo. Essas pessoas, por sua vez, de alguma forma permaneceram estudando e passando suas informações adiante. Sua influência não foi desprezível. Na década de 1960 ainda se encontravam presos assim, que passavam de mão em mão, entre si, artigos e livros que falavam de revolução. (...) O entrosamento já era grande e 1968, batia às portas. Repercutiam fortemente na prisão os movimentos de massa contra a ditadura, e chegavam notícias da preparação da luta armada. Agora, Che Guevara e Regis Debray eram lidos. Não tardaram contatos com esses grupos guerrilheiros em vias de criação."(William da Silva Lima - Quatrocentos contra Um).

" (...) Nessa época, trinta presos políticos ainda estavam na Galeria LSN. Entre eles, alguns que seriam muito importantes no trabalho de conscientização. Padre Alípio é um dos mais importantes elos de ligação entre os militantes e a massa carcerária...

A respeito da experiência deste revolucionário na Ilha Grande, o repórter Aroldo Machado ouviu o preso Osvaldo da Silva Calil, o Vadinho, assaltante de banco. A entrevista foi publicada na edição de 22 de outubro de 1981 na revista Isto É. Um trecho é esclarecedor:

"- Fiquei com os marinheiros presos em 64. Depois, com os rapazes da ALN, MR-8, VAR-Palmares, Colina (Comando de Libertação Nacional), Juventude Operária e Universitária[ambos ligados aos setores radicalizados da Igreja]. No começo estranhei um pouco. Mas, com o passar dos anos, eles fizeram a minha cabeça, e cheguei até a ler a Bíblia."

Quando os presos políticos foram sendo transferidos ou libertados, a experiencia ficou. Vadinho conta mais:

- Os alunos passaram a professores. Convencemos os presos de que eles tinham que estudar e se organizar. Foi assim que tudo começou."(Comado Vermelho - A História Secreta do Crime Organizado)

"João Marcelo Araújo Júnior conta mais:

- Foi a partir dai que começou esse fenômeno, que mais tarde iria desembocar no Comando Vermelho. A Ilha Grande era um estabelecimento disciplinar uma prisão de castigo. Só tinha barra-pesada.

Os presos políticos levaram para lá sua organização, logo fortalecida com a chegada de outros condenados pela Lei de Segurança Nacional (...) O preso ideológico não se contenta com a prisão. Ao contrário, ele cresce. Na Ilha Grande, ocorreu um fenômeno ideológico por contaminação. Acabou gerando o Comando Vermelho, que perdeu a formação política original, nobre como movimento de libertação nacional, mas que absorveu a estrutura para se organizar como crime comum. Os bandidos adotaram o princípio da organização para verticalizar o poder dentro do grupo"(Comando Vermelho - A História Secreta do Crime Organizado).

Há muitas, muitas outras citações, mas o tempo e, o meio a que me fiei neste, não me permitem fazê-lo. Prossigo:

Neste ponto - depois de ler duas obras sobre o assunto, e estar a analisar a terceira já não me sobrava dúvidas de que o contato entre militantes da esquerda revolucionária e os presos comuns, no Presídio de Ilha Grande, mais conhecido como o" Caldeirão do Diabo ", havia criado um dos maiores vultos criminosos que nosso país já conheceu: o Comando Vermelho.

Ficou claro que os criminosos comuns, por meio de integrantes das esquerdas revolucionárias, tiveram acessos a livros, que foram contrabandeados para dentro dos presídios (naquela época proibidos pela ditadura militar); aprenderam além da ideologia da luta de classes, a organização do tipo guerrilheira revolucionária; técnicas da guerra de guerrilhas (que mais tarde utilizariam nos mais espetaculares assaltos a bancos da década de 80) e; os princípios que usariam para fundar e estruturar o Comando Vermelho.

Mas restava uma dúvida que me era premente ser resolvida: será que essa influência, profunda, que a esquerda exerceu sobre os criminosos comuns, não havia sido involuntária. Fruto de mera fatalidade induzida pelas circunstâncias.

Essa foi a parte mais árdua e, mais angustiante de minhas investigações e considerações. Por ser um pesquisador independente, movido pelo amor a verdade, não disponho de nenhuma forma de patrocínio; portanto, grandes são minhas limitações; não podendo ir a lugares entrevistar pessoas ou ter acesso a documentos que julgava necessários a elucidação desta, que me era, a mais inquietante questão a ser elucidada.

Passo a expor minhas razões, o porquê de minha angústia. O autor do livro" Comando Vermelho ", Carlos Amorim opina:

"Os revolucionários nunca pretenderam ensinar criminosos a fazer guerrilhas. Em mais de uma década de pesquisas, nunca encontrei o menor indício de que houvesse uma intenção - menos ainda uma estratégia - para envolver o crime na luta de classes"

Essa afirmação me fez parar, tinha de levá-la em consideração, uma vez que ela me pareceu extremamente contraditória, porque, se por um lado Carlos Amorim opinou desta maneira, tanto ele, como William da Silva, demonstram que os criminosos comuns foram ensinados (por nove anos) pela esquerda revolucionária com relação à luta de classes e, até mesmo, com relação à luta armada de guerrilhas. Isso me inquietou. Como é possível uma pessoa ensinar outra" sem que houvesse uma intenção ", ou até mesmo, sem que se previsse as consequências de seus ensinos.

Uso minha experiência universitária para demonstrar a contradição. Meus professores, ao lecionarem Direito, o fizeram deliberadamente e, sabiam quais as possíveis consequências que seus ensinamentos produziriam; ou seja, surgirem" operadores "do Direito como, por exemplo, advogados, juízes, promotores de justiça e etc. Assim como quando um pai ensina seu filho a ser honesto, ele o faz deliberadamente, aspirando que seu ensino surta efeito na vida de seu filho; que por sua vez, ao crescer, se torne um homem honesto.

Outro fator que deve ser notado é que, estavam ensinado guerrilhas para homens que tinham sido condenados pelos mais graves crimes; à época, o presídio de Ilha Grande era, como consideraríamos hoje, um presídio de" segurança máxima ", para onde eram enviados os mais perigosos criminosos de então. Não é a toa que ficou conhecido como" Caldeirão do Diabo. "

Assim, ao ensinar indivíduos da mais alta periculosidade a, por exemplo, fazer bombas, no mínimo que se pode admitir, é que seu" professor "assumiu o risco de produzir o resultado. No Direito chamamos isso de dolo eventual.

Mesmo que se possa argumentar que os revolucionários queriam transformar os presos comuns também em revolucionários; ainda sim, o risco que assumiram foi muitíssimo grande; risco de esses criminosos usarem do que aprenderam para, simplesmente, cometerem crimes ainda mais violentos. Foi o que deu.

Dessarte, ninguém coagiu os revolucionários a ensinarem o que ensinaram aos presos comuns. Então como era possível que Carlos Amorim falasse que, ao ensinarem o que ensinaram, os revolucionários esquerdistas não tivessem nenhuma intenção de envolver os presos comuns na luta armada. Carlos Amorim chega ao ponto de dizer que havia um" trabalho de conscientização ". Como é possível se fazer um trabalho de conscientização sem que se tenha a intenção de que a pessoa conscientizada mude sua maneira de pensar e agir, ou seja, de produzir um resultado na vida do conscientizado. Com certeza há uma contradição aqui. Digamos que se promova uma campanha de conscientização" lixo no lixo "; por óbvio, que tanto seus idealizadores, como seus agentes, tem a intenção que as pessoas atingidas pela campanha parem de jogar lixo em vias públicas e comecem a jogar lixo em lugares próprios para isso. Todo trabalho de conscientização tem uma intenção. Toda ação humana que não decorre do fortuito ou força maior é direcionada a um objetivo. Isso é o lógico. Então, como poderia não haver uma intenção. Perdi a conta de quantas vezes pensei nisso.

Teria de continuar minhas pesquisas para além da pessoa do autor desta obra fantástica.

Neste ponto, mais uma vez, e a contragosto, tive de" mergulhar "no pensamento revolucionário; procurando conhecer, por meio de livros de seus mais proeminentes ideólogos, o que eles pensavam sobre o banditismo. Encontrei algumas coisas interessantes. Outras, para meu desgosto, sinto que jamais saberei ou, pelo menos, vou demorar muito tempo até chegar à alguma conclusão.

Durante esse tempo que tenho estudado socialismo, percebi que, como forma de pensamento, ele não é estático e, muito menos, uniforme. Há como que um desenvolvimento (se é que essa palavra pode ser usada), uma amálgama, uma constante mudança, " mutatis mutandis ", um quê de camaleônico, a ponto de, por sua amplitude, se tornar quase que inabarcável. Nessa questão do banditismo vim a perceber que, mais uma vez, isso ocorria. Para Karl Marx, os criminosos (lupemproletariado) estavam descartados do processo revolucionário, caberia somente ao proletário a missão subversiva.

" O lumpemproletariado, esse produto passivo da putrefação das camadas mais baixas da velha sociedade pode, às vezes, ser arrastado ao movimento por uma revolução proletária; todavia, suas condições de vida o predispõem mais a vender-se à reação para servir às suas manobras. "(O Manifesto Comunista)

"Sob o pretexto de criar uma sociedade de beneficência, organizou-se o lumpemproletariado de Paris em seções secretas, cada uma delas dirigida por um agente bonapartista, ficando um general bonapartista na chefia de todas elas. Junto a roués [libertinos] arruinados, com duvidosos meios de vida e de duvidosa procedência, junto a descendentes degenerados e aventureiros da burguesia, vagabundos, licenciados de tropa, ex-presidiários, fugitivos da prisão, escroques, saltimbancos, delinquentes, batedores de carteira e pequenos ladrões, jogadores, alcaguetes, donos de bordéis, carregadores, escrevinhadores, tocadores de realejo, trapeiros, afiadores, caldeireiros, mendigos - em uma palavra, toda essa massa informe, difusa e errante que os franceses chamam la bohème: com esses elementos, tão afins a ele, formou Bonaparte a soleira da Sociedade 10 de dezembro. (18º Brumário)

A concepção que Marx tinha do Lumpemproletariado era bastante pejorativa. Suas esperanças recaíam completamente no proletariado industrial.

Contudo, para a decepção do ideal socialista, a história demonstrou que em uma estrutura capitalista a classe proletária (a qual consideravam ser de natureza revolucionária) dispunha de maior qualidade de vida e, acabava por se amoldar às essas estruturas econômicas, a ponto de não querer revolução alguma. Essas não são minhas conclusões, o economista Ludwig Von Mises demonstra isso brilhantemente, exposição esta que jamais foi refutada.

Isso também foi observado pelos próprios pensadores socialistas, a ponto, de sentirem-se obrigados a repensar sobre à quem, qual classe, estava dirigido o ideal revolucionário; procurando uma nova classe que satisfizesse seus ideais subversivos.

Nas palavras de Bakunin:

"Para mim, (…) a flor do proletariado não significa, como querem os marxistas, a camada superior, a mais civilizada e a mais confortavelmente estabelecida do mundo operário, essa camada de trabalhadores semiburgueses que é precisamente a classe da qual eles querem utilizar-se para constituir a sua quarta classe governamental, e que é realmente capaz de formar uma se as coisas não se endireitarem a serviço dos interesses da grande massa do proletariado; pois, com o seu relativo conforto e a sua posição semiburguesa, essa camada superior dos trabalhadores tem sido muito penetrada por todos os preconceitos políticos e sociais e por todas as estreitas aspirações e ambições da burguesia. Pode-se verdadeiramente dizer que essa camada é a menos socialista e a mais individualista de todo o proletariado."

Nesse ponto da pesquisa me deparei com Mikhail Bakunin e Herbert Marcuse, bem como a concepção que tinham, diferentemente de Marx, do lupemproletariado:

Por flor do proletariado eu entendo aquela eterna “carne” para os governos, aquela grande escória do povo comumente designada pelos senhores Marx e Engels pela expressão ao mesmo tempo pitoresca e pejorativa “Lumpenproletariat”, a canalha, a malta que, estando quase não poluída pela civilização burguesa, traz no seu coração, nas suas aspirações, em todas as necessidades e misérias da sua posição coletiva, todos os germes do Socialismo futuro, sendo apenas ela, atualmente, suficientemente forte para inaugurar e para fazer triunfar a Revolução Social. (BAKUNIN, 2010, sem números de página, grifos na versão em inglês)

“Só a partir da associação entre marginais e estudantes se chegará à revolução. Creia, meu bom amigo, sem a decisiva participação da ‘canaille’ não teria havido a queda da Bastilha nem a revolução de fevereiro de 1848, em Paris, com seus milhares de manifestantes incendiando as ruas, num quebra-quebra que terminou por forçar Luís Filipe à abdicação do trono”. (Carta de Mikhail Bakunin a Alexander Herzen - 1866).

Aqui vale citar Herbert Marcuse em seu "Homem Unidimensional", para o qual o lupemproletariado é, por natureza, a classe revolucionária. Devendo ser utilizada para tal fim.

Entenda a problemática: eu queria saber se houve, ou não, intenção por parte da esquerda revolucionária em envolver criminosos na luta armada. Pois bem, a opinião de Carlos Amorim era em sentido negativo, contudo contraditória. Fui à ideologia revolucionária que, a princípio, por meio de Marx, pareceu confirmar a tese de que os revolucionários não queriam incluir bandidos em sua luta de classes. Foi aí que as coisas começaram a mudar: primeiro por meio de Bakunin que demonstrou ser indispensável a participação destes como meio de enfraquecer o poder existente estabelecido; depois por meio de Marcuse que, pós-decepção com o proletariado, eleva o lumpemproletariado à verdadeira classe revolucionária. Até aqui, tudo me parecia equilibrado, podia ser que sim como, podia ser que não.

Foi então que o cenário começou a mudar... Aqui as coisas começam a ficar interessantes. Além de todo o dito acima, houve um ponto, que no decorrer de minha pesquisa, muito me chamou a atenção: na publicação do livro "Quatrocentos contra Um" encontrei a associação do nome de um certo Cesar Benjamin. Nas palavras de Carlos Amorin:

"(...) O livro de William da Silva Lima foi lançado no auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no dia 05 de abril de 1991, durante seminário sobre criminalidade dirigido pelo Instituto de Estudos de Religião, de orientação católica. O texto final foi copidescado por César Queiroz Benjamim, um ex-militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), que trabalhou sobre um original de mais de quatrocentas páginas."

Mas, quem era esse tal de César Queiroz Benjamim. Fui pesquisar: além de ter pertencido ao grupo revolucionário terrorista MR-8, foi, também, nada menos que um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, o PT, e integrante dos principais quadros do partido até 1995. Aqui me fiz a pergunta: por que um dos fundadores e líder do PT estaria diretamente envolvido na publicação e lançamento do livro do, até então, maior criminoso do Brasil, líder máximo do Comando Vermelho? Isso pareceu-me, no mínimo, estranho.

Será que havia mais indícios de uma ligação entre as esquerdas e organizações criminosas. Encontrei um reportagem publicada pela jornal Folha de São Paulo em 24/08/2003, sob a denominação "As Farcs Tem Todo o Tempo do Mundo". Nessa, o enviado especial da Folha, Fabiano Maisonnave, entrevista o falecido Raul Reyes, à época, segundo maior líder organização narcoterrorista, em algum lugar da Amazônia Colombiana. Veja o que ele diz, é impressionante:

"Folha de S. Paulo - Qual é a sua avaliação do governo Lula?

Reyes - Tenho muita esperança em que o governo Lula se transforme num governo que tire o povo brasileiro da crise. Lula é um homem que vem do povo, nos alegramos muito quando ele ganhou. As Farc enviaram uma carta de felicitações. Até agora não recebemos resposta.

Folha de S. Paulo - Vocês têm buscado contato com o governo Lula?

Reyes - Estamos tentando estabelecer - ou restabelecer - as mesmas relações que tínhamos antes, quando ele era apenas o candidato do PT à Presidência.

Folha de S. Paulo - O sr. Conheceu Lula?

Reyes - Sim, não me recordo exatamente em que ano, foi em San Salvador, em um dos Foros de São Paulo.

Folha de S. Paulo - Houve uma conversa?

Reyes - Sim, ficamos encarregados de presidir o encontro. Desde então, nos encontramos em locais diferentes e mantivemos contato até recentemente. Quando ele se tornou presidente, não pudemos mais falar com ele.

Folha de S. Paulo - Qual foi a última vez que o sr. Falou com ele?

Reyes - Não me lembro exatamente. Faz uns três anos" (Folha de São Paulo - 24/08/2003).

Aqui me permiti à dúvida: poderia ser que Reyes estivesse mentindo. O que me garantia que suas palavras fossem expressão da verdade; mas me lembrei de algo que eu mesmo já tinha escrito sobre um vídeo, onde o ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez, diz ter conhecido Raúl Reyes e o ex-presidente Luis Inácio da Silva na mesma ocasião, ou seja, no Foro de São Paulo, que ocorreu em San Salvador. As palavras de Hugo Chávez se coadunam exatamente com a entrevista que próprio líder narcoterrorista, Raúl Reyes, concedeu a Folha de São Paulo. Segue:

“Recebi o convite para assistir, em 1995, ao Foro de São Paulo, que se instalou naquele ano em San Salvador. (…) Naquela ocasião conheci Lula, entre outros. E chegou alguém ao meu posto na reunião, a uma mesa de trabalho onde estávamos em grupo conversando, e lembro que colocou sua mão aqui [no ombro esquerdo] e disse: ‘Cara, quero conversar com você.’ E eu lhe disse: ‘Quem é você?’ ‘Raúl Reyes, um dos comandantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.’ Nós nos reunimos nesta noite, em algum bairro humilde lá de El Salvador. (…) E então se abriu um canal de comunicação e ele veio aqui (…) e conversamos horas e horas. Depois, em uma terceira e última ocasião, passou por aqui também.” (Hugo Chávez - em rede nacional - lamentando a morte de Raúl Reyes).

Ao longo de minha vida já li muita coisa; apesar disso, nunca tive conhecimento de que o nome de um presidente, de uma grande democracia como o Brasil, tivesse sido diretamente associado a um narcoterrorista, pela própria pessoa do criminoso. Isso é estarrecedor! Na verdade, isso é uma tragédia diplomática.

Pior! O narcoterrorista alude a felicidade que a subida do ex-presidente brasileiro ao poder causou a sua organização criminosa. "Peraí, como assim?" Uma organização criminoso felicita a subida de Lula ao poder... Algum interesse há nisso! Nenhuma organização criminoso parabenizaria um presidente que soubessem traria dano aos seus negócios, como o do México que desferiu duros golpes ao tráfico de drogas e até hoje é "jurado de morte." Organizações criminosos só mandam felicitações a seus aliados. Daí só posso extrair uma conclusão lógica: "eles são aliados!"

O que mais impressiona e que, o ex-presidente Lula nunca desmentiu essas afirmações; uma feita pelo segundo maior líder da maior organização narcoguerrilheira da America Latina; e a outra, pasmem, feita por um presidente! Lula nunca contestou!

Aqui, infelizmente sou obrigado a usar de lugares-comuns: QUEM CALA CONSENTE!

Por que o ex-presidente nunca contestou? Porquê ele se recusa a reconhecer uma organização que sequestra, trafica, mata e tortura como criminosa. Para ele, são simplesmente revolucionários.

Não me admira que façam (o PT e as Farcs) parte de uma mesma organização internacional (o Foro de São Paulo), fundada pelo ex-presidente Luis Inácio e que, nas atas dessa organização, manifeste apoio incondicional as atividades das Farcs na América Latina como um verdadeira atividade esquerdista revolucionária... Só se as atividades esquerdistas revolucionárias se resumirem a assassinar, traficar, sequestrar e torturar...

De se notar, a entrevista coletiva dada pelo ex-presidente em 28/04/2009, publicada no Estadão sob o título "Lula sugere às Farc criar partido para chegar ao poder":

"Se, em um continente como o nosso, um índio e um metalúrgico podem chegar à Presidência, por que alguém das Farc, disputando eleições, não pode?", disse Lula em Rio Branco (AC), na entrevista coletiva após se reunir com o presidente peruano, Alan García.

O absurdo dessa afirmação é descomunal às raias da loucura!

"Trocando em miúdos": uma organização criminosa, a maior da América Latina, que trafica internacionalmente, mata, tortura, sequestra, escraviza, aterroriza, deve criar um partido político para chegar ao poder. Pensemos dentro dos paradigmas nacionais: O Primeiro Comando da Capital ou o Comando Vermelho, se levarmos em conta as afirmações de Lula, podem criar um partido político para disputar as eleições à presidência da República. Pensem em Marcos Camacho, o "Marcola" ou, talvez, Luiz Fernando, o "Fernandinho Beira-Mar" como presidentes do Brasil.

Isso é de uma absurdidade tamanha, que não posso, diante da pesquisa pretérita, atribui-la à ignorância. No Brasil chamamos isso de "rabo preso".

Nesse ponto de minha pesquisa as informações começaram a se avolumar, mas como o tempo e o espaço, a que me propus neste, não me permitem continuar, vou simplesmente citá-las de passagem: a revista VEJA, publicou uma reportagem em março de 2005, sob a denominação "Laços Explosivos: Documentos secretos guardados nos arquivos da ABIn informam que a narcoguerrilha colombiana Farc deu 5 milhões de dólares a candidatos petistas em 2002"; ou como o Governador Olívio Dutra, do PT, recebeu, no próprio Palácio do Governador, um membro das Farcs com todas as honrarias diplomáticas; mas infelizmente esses são assuntos para um outro artigo.

Começando o término deste artigo, quero utilizar as palavras de Ignazio Silone: "na verdade, as revoluções são como árvores, elas são conhecidas através de seus frutos."

Nas palavras de William da Silva Lima, líder máximo do Comando Vermelho, a previsão do resultado:

"Conseguimos aquilo que a guerrilha não conseguiu: o apoio da população carente. Vou aos morros e vejo crianças com disposição, fumando e vendendo baseado. Futuramente, elas serão três milhões de adolescentes, que matarão vocês nas esquinas. Já pensou o que serão três milhões de adolescentes e dez milhões de desempregados em armas?" (Quatrocentos contra Um)

Você acha que isso é a mera expressão de um delírio megalômano? No ano passado as pesquisas apontaram para os índices de violência brasileiros, um total de 56.337 mil homicídios por ano. Não há país no mundo, mesmo nos que se encontram no mais cruento conflito armado, que ostente tais números de violência. Pergunte aos servidores da Fundação Casa (antiga FEBEM) ou de outros centros socioeducativos estaduais para adolescentes em conflito com a lei, se o dito acima é mero delírio."Três milhões de adolescentes que matarão vocês!"

Ou talvez, devêssemos nos perguntar porque, enquanto, o consumo de drogas diminui em toda a América Latina, somente no Brasil ele está a crescer. Será que há alguma correlação? Será que tendo o ex-líder de nossa nação ligações intimas com a maior organização terrorista e narcoguerrilheira da América Latina isso pode facilitar as coisas, para esse organização, em nosso país? Não sei; isso está além de minhas parcas possibilidades. Digam vocês...

Não conheço Carlos Amorim e, não tenho a intenção de julgá-lo. Seria muita pretensão de minha parte, não tendo ele deixado nada escrito ou documentado sobre suas próprias razões (que o levaram a dizer que nunca encontrou nenhum indício de haver intenção de a esquerda revolucionária querer envolver criminosos comuns na luta classes), querer eu sondar as profundezas de seu coração - ou de qualquer coração humano. Contudo, dentre as explicações que poderia haver, uma coisa sei: os revolucionários da ditadura militar, na década de 90 eram, e mesmo hoje continuam a ser, pessoas que ascenderam ao poder; se tornaram políticos, chefes de redação, professores universitários, homens de muita influência; e, caso fosse o escritor deste livro, com certeza, eu temeria tê-los como inimigos.

Dessa forma, sendo repórter tarimbado em meio ao regime ditatorial militar, Carlos Amorim fez o que aprendeu a fazer durante aquela época; falou uma coisa, deixando que sua obra desse a entender outra; assim como os cantores Gilberto Gil, Caetano Veloso e outros deixaram registrados em suas músicas. Tudo me leva a crer que minhas conclusões sejam verdadeiras, tanto porque, sendo interpelado da mesma forma, na época da publicação de seu livro, segundo os mesmos questionamentos, Carlos Amorim nunca ofereceu contestação, simplesmente calou-se.

Por fim, encontrei o que considero a "cereja do bolo": em um livro intitulado "Camaradas - nos Arquivos Secretos de Moscou", o jornalista William Waack, demonstra como o regime comunista se imiscuiu intimamente na revolução de 1935. Dentre as intromissões, uma me chamou atenção: segundo Waack, em 1933 o Comintern transmitiu uma instrução ao Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro para que, este último, procurasse assumir a liderança de quadrilhas de bandidos, dando ares de "conflito de classes" ao seu conflito com a polícia, a sociedade e a lei. (pg. 55-56)

Realmente, a transmissão de conhecimento aos presos comuns durante a ditadura militar pode ter sido uma questão premeditada.

Apresento minhas conclusões: por tudo o que li e pesquisei, percebo que há uma profunda e perene ligação entre as esquerdas, sejam elas revolucionárias ou politico-partidárias, com o crime organizado. Não posso afirmar, como meu interlocutor, que elas sejam, somente e únicas responsáveis (se é que foi isso que ele quis dizer) pela escalada crescente da criminalidade no Brasil; posso dizer somente que as esquerdas, na pessoa de seus prisioneiros políticos, criaram um "monstro" chamado Comando Vermelho e que, até hoje, mantem relações com organizações criminosos.

Findo. Esses dias atrás, terminei de ler uma das obras de Georges Bernanos, fiquei maravilhado com a profundidade do autor. A profunda análise da natureza humana, da pessoa de um religioso, falou comigo. A cada linha, sentia que segredos de meu próprio coração e de minha vida eram desvelados. Bernanos realmente foi um grande intelectual francês, a seu modo, e a meu ver, incomparável. Posteriormente, vim a saber que ele tinha morado no Brasil durante alguns anos; gostaria de usar suas palavras, que expressam a percepção dele sobre a nação brasileira, para findar esse artigo:

"O Brasil é um país maravilhoso, mas infelizmente destinado a ser palco da mais sangrenta das revoluções".

Se ele está certo, não sei. Mas que conseguiu perceber a profunda mentalidade socialista que, já naquela época, permeava a sociedade brasileira, com certeza.

01/04/2015

Por que o PT é contra a autodeterminação dos povos: o caso venezuelano e guiano

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O mapa patriótico frequentemente exibido em discursos bolivarianos de Hugo Chávez e agora, Nicolás Maduro evidencia o que a ditadura venezuelana entende por “autodeterminação dos povos”: eles querem anexar mais da metade da vizinha Guiana. Agora imaginem quando tiverem maior poder bélico? Se pensou em Amazônia Brasileira pensou certo.

Por V.D.

Quem tem a cara-de-pau de defender a ditadura venezuelana? Até o PSOL, partido declaradamente socialista e que só dá bola-fora em matéria de economia (aliás, por isso que são socialistas, porque não entendem economia) chegou a apagar posts em que defendia o regime venezuelano. Nem os psolistas aguentaram a demonstração de autoritarismo adotada pelo Governo Maduro ao suprimir o poder legislativo daquele país. Então quem? O PT, ora! Sabe como é... O que é descer um pouco mais para quem já está no fundo do poço em termos morais? Só cavar um pouco mais e quem sabe ultrapassa a barreira do Inferno.

Mas analisemos o que o PT tem a dizer sobre a Venezuela:

  1. O ponto inicial (além da chorumela de que o Governo Temer é ilegítimo) é de que nossa política externa não respeita os princípios básicos da diplomacia ao ingerir sobre a “autodeterminação dos povos”.

Sim foi isto que você leu, um déspota como Maduro impedir os parlamentares eleitos, diga-se de passagem, pelo povo venezuelano de continuar seu trabalho, seja legislando ou criticando o curso dos acontecimentos no país é “autodeterminação”. Pode? Pode, na cabeça de Rui Falcão, presidente nacional do PT. Mas interessante mesmo é perceber a premissa oculta neste discurso... “Povo” para o povo petista não passa do seu estado. Uma vez que Maduro fez questão de se tornar oficialmente um ditador desqualificando e suprimindo o papel da Assembleia Nacional, isto se tornou “autodeterminação do povo”. Para quem? Para o presidente nacional do PT, ora! Alguém tem que dizer a este cérebro de ungulado que povo não existe exclusivamente para concordar com o chefe de estado, mas também para criticá-lo e, eventualmente, depô-lo.

  1. Acusa o Governo Temer de assumir uma “postura belicista, particularmente contra a República Bolivariana da Venezuela”.

Esta afirmação é que assume, particularmente, ar estúpido, pois se há um país que adotou postura nitidamente belicista desde fins dos anos 90 com a entrada de Hugo Chávez no poder foi a Venezuela. Poderíamos citar as constantes intrigas com a vizinha Colômbia, devido ao apoio de Caracas às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) contra o governo colombiano que combatia o narcotráfico e a guerrilha. Ou contra os EUA, inclusive executando operações de guerra no Lago Maracaíbo (área com maior concentração de jazidas de petróleo), só que, o detalhe: mirando a oeste onde, não por acaso fica o território colombiano.

E se observarmos o mapa venezuelano, muitas vezes figurando no púlpito em que Chávez e mais tarde, Maduro disseminavam a montanha de besteiras em seus discursos, a região de Essequibo, com mais da metade do território guiano se encontrava anexada. Com área equivalente à do Ceará, rica em ouro, diamantes, manganês, bauxita, ferro e outros minerais, Essequibo era alvo dos sonhos imperialistas dos bolivarianos, cuja crescente tensão regional levou a um acordo sobre cooperação em defesa entre Brasil e Guiana em 2009. Sim, isto mesmo, o governo bolivariano da “autodeterminação dos povos” pregava a invasão e submissão do povo guiano. Algum comentário de Rui Falcão sobre isto? Tic-tac, tic-tac... Espere até a próxima reencarnação.

Mas é isso pessoal, o que esperar do PT? Acho que os petistas finalmente estão sendo coerentes e mostrando o que realmente são: apoiadores de regimes ditatoriais, ao invés daquele infindável jogo de dissimulação a que formos submetidos por mais de dez anos na política brasileira.

Bip-bip! Religião da Paz chegando: terrorista mata no centro de Estocolmo atropelando pedestres com caminhão

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Terrorista usa caminhão para matar em área lotada de pedestres no centro da capital sueca. Três morreram. 

Por V.D.

Os ataques à Síria vão ofuscar o atentado em Estocolmo hoje, mas isto faz parte de uma tendência de terrorismo crescente e descentralizado, como vimos em Bruxelas, Nice, Berlim e Londres.

Cenas como esta são cada vez mais presentes no cotidiano das cidades europeias.

Que o terrorismo esteja se disseminando, infelizmente, parece uma verdade inquestionável, mas a negação deste fato sem querer se dar ao trabalho de procurar suas raízes é chocante.

Lembre-se que nos últimos anos, CENTENAS de jovens suecos têm viajado à Síria para se juntar ao Estado Islâmico. A Suécia tem sido uma das principais fontes de recrutamento de terroristas na Europa.

Quando nos mostramos avessos a uma religião que tem em seu seio, a guerra santa como um dos princípios, nos chamam de preconceituosos. Não chegou a hora de nos enxergar como "pós-conceituosos", uma vez que o terror está comprovadamente ligado ao fanatismo de religiões que apostam no seu crescimento em detrimento da cultura de outras sociedades?

Uma coisa é certa, se isto cresce se deve porque permitimos...

 

Suecas protestando contra a "islamofobia radical".

Jihadistas protestando "pacificamente" na Suécia. Mas sabe... Se criticarmos seremos vistos como "islamofóbicos radicais".

Síria pós-ataque americano: qual caminho seguir?

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Mísseis Tomahawk brilham no breu do céu mediterrâneo.

Por Anselmo Heidrich

Dois dias atrás 73 pessoas foram mortas província síria de Idlib, controlada pelos rebeldes, 23 das quais crianças. Os EUA responsabilizaram o governo de Bashar al-Assad de ter provocado o ataque, enquanto este acusou os rebeldes de tê-lo feito.

Até alguns anos atrás Donald Trump condenava o envolvimento americano nesta guerra que já dura seis anos. Ontem ele reconheceu que sua posição sobre o assunto mudou muitas vezes e o que aconteceu era inaceitável. Ontem, o @POTUS (President Of The United States) mostrou que tem culhões e não é uma marionete de Vladimir Putin como acidamente descrevem alguns de seus críticos. Mas crer que possa ir muito além disso é temerário.

Lançar mísseis contra um aliado russo, mais de 70 não é pouca coisa. Em 2012, Barack Obama ameaçou Assad sobre a utilização de armamento químico, que se fizesse tal uso “estaria ultrapassando uma linha vermelha”. Pois bem, em 2013, Assad dizimou quase 1.500 pessoas em um dos subúrbios de Damasco e ficou por isso mesmo. Aliás, disto tudo resultou em um acordo Washington-Moscou em que, praticamente, os EUA passam a batata quente (com seus ônus e bônus embutidos) para a Rússia. E esta provou que o cão não estava tão preso assim na coleira, ou seja, Moscou não tinha Assad tão bem controlado assim. Aliás, é uma ingenuidade pensarmos que alianças subentendem hierarquias rígidas, como se a superpotência tivesse fiscais em cada repartição dos organismos de defesa de seus aliados menores. Não funciona assim.

Antes de Donald Trump vencer, eu já criticava os entusiastas liberais sobre sua retórica antibelicista. Nada é tão simples assim quando se trata de geopolítica e o que vimos foi a realidade regional do Oriente Médio se sobrepor às bravatas isolacionistas de uma campanha presidencial. Agora a questão é o que vai ser? Num cenário mais fantasioso, uma nova guerra fria surgiria, mas isso não é mais viável, pois não se trata de apenas duas superpotências em um globo com nações-satélites ávidas por benefícios. Além do mais, o déficit público americano e as claras limitações econômicas da Rússia mostram um quadro mais fragilizado. Isto sem levar em conta que a China seria um terceiro agente a tirar proveito (e crescer) com a disputa entre Moscou e Washington. Então esqueça isto.

Outra possibilidade mais provável é uma ação direta americana, em solo sírio, mas que levaria o país mais ao fundo do poço com seu enorme déficit público. Justamente no caminho oposto da campanha presidencial de Trump. Portanto resta uma ação indireta e cirúrgica, como a que se viu ontem. Mas para ir além, não poderá se descartar a parceria com a Rússia. Enfraquecer Assad ao ponto de Moscou tomar as rédeas da situação, mas sem tirar o representante do poder local, isto é, o próprio Assad. Contraditório? Claro que não! Se ele sai, quem entra? O Estado Islâmico (ISIS)? A al Qaeda através de vários grupos aliados? Entendam uma coisa, em geopolítica não existe vácuo de poder. Se não for a Rússia através de Assad será a al Qaeda com apoio de grupos sunitas que não querem sujar as mãos, mas são inimigos do Irã que apoia xiitas no país. E para complicar um pouco mais a situação, podem apostar que a Turquia é uma potência regional, membro da OTAN que não irá permitir um Irã forte muito próximo de suas fronteiras, mas deixemos isto para outro artigo...

O fato é que por mais cruel que sejam imagens de adultos e crianças morrendo por sufocamento com gás Sarin, esta indignação ocorreu devido às imagens (como o vídeo abaixo) que percorreram o mundo. Em 2013 foi muito pior e não houve a mesma reação. Talvez porque, como diz o ditado, “o que os olhos não veem o coração não sente”. Mas o fato é que muitos olhos não querem ver o que já está ocorrendo há mais de meia década. E antes disso e antes ainda numa sequência de interferências, intervenções e opressão.

A crueldade em uma guerra é uma moeda de troca e, infelizmente não irá parar agora porque uma base militar foi atacada numa demonstração midiática para aquecer o Twitter. Trump precisava responder, mas convenhamos, isto é um novo episódio para quem já era o rei do reality show. Acreditar que uma guerra civil com tantas facções e aliados externos e sua consequente perda territorial não possam levar à explosão de depósitos de armas químicas por lançamentos de bombas é que é uma baita ingenuidade. Pense... Nem quando invadiram o Iraque em 2003 dominando por completo seu território se encontraram as alegadas armas químicas por George W. Bush, quanto mais agora em um país segmentado territorialmente em uma guerra que fagocita seu próprio povo.

Talvez haja uma luz no fim do túnel e mais do que a democracia, que não irá florescer em sociedades divididas por seitas e etnias é a integração comercial. O comércio externo não cria irmãos, não cria comunidades harmônicas, mas incentiva codependências que desestimulam conflitos. Para isto ocorrer naquela região, infraestrutura precisa ser criada e esta dificilmente será feita por governos corruptos que existem devido à miséria alheia. Quem faz isto nestes casos são impérios. Captou?

(Continua...)

* Cuidado ao assistir este vídeo:


Estado Islâmico detona explosivos em duas igrejas no Egito matando 44 inocentes

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Homem lamenta a morte de parente em frente a uma igreja.

Por V.D.

Alguém ainda duvida quando falamos em terrorismo puro por motivações religiosas? E não entenda “religião” como mera questão teológica, ou interpretação de textos sagrados. É muito mais do que isto, se trata de uma cultura que influencia diretamente em ações políticas. E foi exatamente isto que se viu através desses dois atentados às igrejas no Egito.

Como já se tornou rotina, o Estado Islâmico (EI) assumiu a autoria dos atentados às igrejas coptas (minoria crista egípcia) nas duas cidades de Alexandria e Tanta, 2ª e 5ª maiores cidades do país, respectivamente. O saldo de 44 mortos levou o presidente egípcio a declarar estado de exceção por três meses para garantir a ordem.

Veja o vídeo abaixo no momento em que um homem-bomba se suicida em frente a uma das igrejas:

"O Islã é fascista": entrevista com Ayaan Hirsi Ali

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Se você nunca viu o rosto da coragem materializado em uma pessoa, aqui está, Ayaan Hirsi Ali.

Vale a pena reler esta entrevista de 2005, na qual uma refugiada somali radicada na Holanda conta em detalhes sua vida como mulher em uma sociedade muçulmana. Mas talvez mais indignante do que o modo como essas pessoas são tratadas em sua terra de origem, seja o pouco caso ou ignorância e consentimento com que as autoridades dos países que os acolhem trata uma cultura que tem germes de totalitarismo.

V.D.

 

 

Entrevista: Ayaan Hirsi Ali
"O Islã é fascista"

 

Após descarregar toda a munição da pistola no cineasta Theo van Gogh, o fundamentalista islâmico Mohammed Bouyeri aproximou-se da vítima. Ajoelhado numa rua de Amsterdã, Van Gogh murmurou: "Tem certeza de que não podemos conversar?" O assassino cortou-lhe a jugular com uma faca de açougueiro e, com outra, espetou no cadáver uma carta endereçada à holandesa de origem somali Ayaan Hirsi Ali: "A próxima será você". 

Ayaan é parlamentar em seu país e roteirista de Submissão – Parte I, o curta-metragem de Van Gogh sobre a repressão sofrida pelas mulheres no Islã. Esse é um assunto que ela conhece bem. Aos 5 anos, sofreu excisão do clitóris. Aos 22, fugiu de um casamento arranjado com o primo pelo pai. Refugiada na Holanda, trabalhou como tradutora nos centros sociais para imigrantes e foi brilhante universitária de ciências políticas.

Na semana passada, sete meses depois da ameaça de morte, Ayaan, uma negra longilínea de 35 anos, desceu de um carro blindado numa ruela de Paris. Escoltada por seis guarda-costas, falou com exclusividade a VEJA sobre sua renúncia ao islamismo, sobre fundamentalismo e sobre seu encontro com outra célebre vítima da violência religiosa, o escritor britânico Salman Rushdie

 

Veja – Por que seus inimigos preferem a ameaça de morte ao debate de idéias?

Ayaan – A razão é simples: eles não têm nenhum argumento lógico para opor aos meus. Usam o instrumento dos perdedores, a intimidação. Num debate, eles sabem de antemão que seriam derrotados. O assassinato bárbaro de Theo van Gogh pretendeu mostrar o fim de quem ousa criticar o Islã. Enganaram-se. A dor da perda reforçou minha certeza. Essa gente deve ser confrontada. A tarefa dispensa o medo da controvérsia. O combate contra eles começa com a palavra.  

Veja – Qual é o problema com o Islã?

Ayaan – O problema é o Corão e o profeta Maomé. É a mensagem à qual está sujeito 1,2 bilhão de indivíduos no mundo. O Islã não é só uma religião, mas uma civilização. Seu aspecto político e social, regido por códigos severos, contém sementes fascistas. É um sistema que espolia as liberdades do indivíduo e intervém na sua privacidade sem admitir ser contestado. Nenhum muçulmano é livre para questionar a sua crença religiosa. Ao contrário da Bíblia e do Talmude, livros sagrados dos monoteísmos abraâmicos semelhantes ao islamismo, qualquer exegese do Corão é inadmissível. Os muçulmanos devem crer, cegamente. Eu aprendi a decorar o Corão desde a infância, posso recitar suras inteiras. Algumas delas servem para justificar a violência, liberar a consciência dos seus autores e também dos observadores passivos. Segundo o livro sagrado do islamismo, os fiéis devem aspirar, em permanência, ao conhecimento. O mesmo livro diz que Alá sabe tudo. Toda fonte de conhecimento está contida no Corão. Pergunto, como conciliar as duas exigências? Qualquer comunidade que vive segundo os preceitos de Maomé e do Corão torna-se patológica.  

Veja – Numa entrevista, a senhora qualificou o profeta Maomé de tirano e perverso. Por que pensa assim?

Ayaan – Disse isso e não nego, nem me arrependo. O calendário marca o ano de 2005, mas os fundamentalistas islâmicos exigem dos muçulmanos imitação perfeita de um comportamento tribal de 2.000 anos atrás. Maomé, o guia infalível, disse haver uma só verdade, e em seu nome revogou toda liberdade. Era um tirano, sim. Maomé seduziu e violou Zainab, a mulher de um pupilo. Isso não é perverso? Permita-me ir além. O profeta casou-se com Aisha, uma menina de 9 anos, filha do seu melhor amigo. Ele não esperou nem a criança atingir a puberdade, apesar da súplica paterna, para pedir a sua mão em casamento. Aisha foi prometida aos 6 anos de idade. Hoje no Irã, casamentos desse tipo são perfeitamente legais, freqüentes. Alguns muçulmanos reivindicam poder emular, sem entraves, esse modelo de moralidade. Trata-se de pedofilia pura. Na Holanda, Maomé seria levado pela polícia às barras de um tribunal.

Veja – Qual a diferença entre os fundamentalistas das diversas religiões?

Ayaan – Em teoria, nada diferencia um fanático cristão ou judeu de um fanático muçulmano. Na prática, eles se sentem mais à vontade no Islã.

Veja – Por quê?

Ayaan – Além de encontrar justificativa religiosa farta, a crítica dos membros de sua própria crença é quase nula. Quando o papa se posiciona contra o uso de contraceptivos, católicos do mundo inteiro contestam sem sofrer represálias. A cantora Madonna desperta antipatia em puritanos com a canção Like a Prayer, mas sua cabeça não está a prêmio. Ninguém degolou os humoristas do Monty Python por ter realizado o filme A Vida de Brian, uma sátira sobre Jesus Cristo exibida no mundo todo. Esse espaço de tolerância não existe no mapa do Islã, mesmo que muito almejado em silêncio. O Islã está como o pai do terrorista Mohamed Atta depois dos atentados de 11 de setembro de 2001. Traumatizado, desamparado, cego. "Meu filho não tem nada a ver com isso. Foi obra da CIA, dos judeus!" O pai não se deu conta da parte maléfica do filho. Recuso que uma religião, plena de força e energia, tenha no seu âmago o fanatismo e a violência.

Veja – Como a senhora descreve a situação das mulheres no Islã?

Ayaan – Numa cena do curta-metragem Submissão – Parte I, a câmera mostra o corpo da personagem Zainab, espancada pelo marido. Zainab está coberta por hematomas, feridas, cicatrizes e pelos versos do Corão que autorizam o marido a bater, caso ele julgue a esposa desobediente. Os fundamentalistas islâmicos ficaram irados ao ver os versos sagrados escritos no corpo de uma mulher. O resto, para eles, é normal. Tive um professor que me obrigava a escrever versos do Corão em tabulários. Um hábito em desuso desde o século XVI. Um dia, recusei-me a obedecer. Ele me vendou os olhos, levei uma surra até conseguir me livrar da venda. Encolerizado, ele me pegou pelos cabelos e bateu minha cabeça contra um muro. Desmaiei.

Veja – Como a platéia não religiosa respondeu ao filme?

Ayaan – De forma positiva, mas eu esperava uma dose maior de indignação dos liberais laicos, intelectuais e políticos da esquerda. O pessoal que acha ter o monopólio dos bons sentimentos. Na verdade, eles padecem do velho paradoxo da Revolução Francesa, que promoveu os direitos humanos em casa, mas manteve a escravidão nas colônias. Em nome da convivência multicultural, do respeito às tradições de outrem, esses intelectuais do Ocidente hesitam em colocar em evidência a situação subjugada da mulher dentro do Islã. Eles têm receio de ofender, de suscitar cólera, e assim ajudam a perpetuar o sofrimento e a injustiça. Ora, aqui não cabem relativismos. Abuso e mutilação sexual são crimes, e ponto final. Hoje, agora, já! Tampouco deve ser tolerado o assédio, a perseguição da qual são vítimas os homossexuais muçulmanos. Os ocidentais não podem fazer vista grossa nem calar, como já fizeram durante a existência dos gulags soviéticos. O Islã não viveu o Iluminismo. As sociedades islâmicas enfrentam os mesmos problemas do cristianismo anterior ao século XVIII. Ainda não se estabeleceu o justo equilíbrio entre razão e religião.

Veja – O que é a "obsessão do hímen", uma expressão que a senhora utiliza com freqüência?

Ayaan – No Islã, moças sem hímen intacto são consideradas "objetos usados". Muitas jovens, ao perder a virgindade, vêm para a Europa submeter-se a cirurgias reparatórias. Na Holanda, até bem pouco tempo atrás, em respeito ao multiculturalismo as imigrantes muçulmanas eram reembolsadas pela seguridade social. Aos 5 anos, fui submetida à clitorectomia, uma prática encorajada pelos clérigos islâmicos.  Essa é a maneira extrema de garantir a virgindade antes do casamento. Na falta de uma mulher disponível, a minha excisão foi feita por um homem. Relatórios da ONU revelam que 98% das meninas na Somália são submetidas à excisão do clitóris. Os outros 2% são a margem de erro.

Veja – Pode haver convivência pacifica entre o Islã e o Ocidente?

Ayaan – Espero que sim. No entanto, posso afirmar sem equívoco, o Islã atual é incompatível com o estado de direito das democracias ocidentais.  A sobrevivência das democracias ocidentais depende da sua vitalidade em defender os valores liberais. A escolha que o século XXI oferece aos muçulmanos é clara: modernidade ou regime tribal. Eu proponho às comunidades islâmicas fazer uma reflexão crítica da sua doutrina religiosa, a exemplo dos fiéis de todas as grandes religiões. Se dizem que é preciso rezar cinco vezes ao dia, vamos demonstrar, empiricamente, que isso é impraticável no âmbito de uma vida moderna.  Eu proponho às comunidades islâmicas reter a espada que corta a cabeça de quem pensa por si mesmo. Onde não se pode criticar, todos os elogios são suspeitos. Caso eu estivesse num país muçulmano, já estaria morta. É do interesse tanto do mundo ocidental quanto do mundo islâmico promover a crítica entre os muçulmanos. Enfrentar o fundamentalismo é um objetivo comum.

Veja – Como foi seu encontro com o escritor britânico Salman Rushdie, que também teve de viver escondido por causa de ameaças religiosas?

Ayaan – Trocamos impressões sobre a vida cativa. Ela coloca em risco pessoas próximas e, devido a isso, inibe até iniciar relacionamentos amorosos. Ele me aconselhou a seguir firme em frente, sem deixar que essa situação me enlouqueça. Ambos sabemos que haverá sempre um fanático em nosso encalço. Eu relatei a ele uma história da minha juventude. Quando o aiatolá Khomeini emitiu um fatwa contra Rushdie, eu era uma estudante devota da Escola Secundária de Meninas Muçulmanas de Nairóbi, no Quênia. Eu e minhas colegas ficamos, imediatamente, solidárias com o líder iraniano que tomava a defesa do sagrado Corão e punia o autor de um romance, suposta blasfêmia contra o profeta Maomé, nosso venerável guia. O fato vinha corroborar nosso aprendizado diário, a indignidade dos kafirs, os infiéis, os não muçulmanos. A primeira coisa que veio a minha cabeça foi: "Esse Rushdie deve ser morto".

Veja – O que ele disse?

Ayaan – Rushdie sorriu. Foi gentil ao lembrar que, na época, eu era apenas uma garota.

Veja – Por que a senhora propõe fechar as escolas muçulmanas na Holanda?

Ayaan – Os professores das escolas muçulmanas holandesas ensinam a ser hostil às leis do país. Dizem aos seus alunos: "Nós vivemos na terra do inimigo, somos subjugados pelas leis dele. A lei suprema é a vontade de Alá, revelada pelo arcanjo Gabriel a Maomé, transcrita no Corão". Esses estabelecimentos de ensino público recebem ajuda do governo.  Não, não e não! A escola deve ser um lugar neutro, com o objetivo de preparar os alunos para a vida numa sociedade sintonizada com seu tempo, fundada no espírito crítico e no ensino da cidadania. Os holandeses, que vivem em um dos países mais tolerantes da Europa, ficam exasperados de ver, em manifestações de rua, jovens muçulmanos holandeses gritando "Hamas, Hamas! Judeus para a câmara de gás!".

Veja – A Turquia deve ser aceita como integrante da União Européia?

Ayaan – Sim, desde que o governo turco implemente, durante o período de candidatura, as medidas exigidas pela União. Elas beneficiarão os turcos em geral e, em particular, as mulheres muçulmanas, que terão seus direitos mais bem respaldados. Já se percebem alguns passos tímidos nessa direção. A questão geográfica, se a Turquia pertence ou não à Europa, é hipócrita. Por trás dela estão o preconceito da extrema direita nacionalista européia e o medo da competição de mercado que atormenta os partidos da esquerda demagógica. A objeção geográfica nunca foi apresentada quando convidaram a Turquia para ingressar na Otan. Negar a inclusão da Turquia reforçaria a posição dos fundamentalistas muçulmanos turcos.      Trava-se atualmente uma batalha de corações e mentes contra o islamismo político. Veja os efeitos catastróficos da tortura a que soldados americanos submeteram os prisioneiros iraquianos da penitenciária de Abu Ghraib. Os fundamentalistas acharam ótimo.

Veja – Líderes das comunidades muçulmanas européias a acusam de projetar uma experiência de vida traumática sobre um grupo inteiro. Aceita essa crítica?

Ayaan – Isso é uma estratégia conhecida para desviar-se da verdadeira questão: o Islã quer ir para a frente ou para trás?

Veja – A senhora abandonou a sua religião. Mas, se um dia encontrasse com Deus, o que gostaria de ouvir dele?

Ayaan – Você é verdadeira.

VEJA - Edição 1910. 22 de junho de 2005

Crime Organizado S/A

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Não é possível combater redes internacionais do crime organizado com uma burocracia que atingiu seu ápice de desenvolvimento em meados do Século XX. A máfia é uma velha que não teme a modernidade e nós ainda estamos engatinhando em combatê-la. 

 

"As autoridades brasileiras insistem em dizer que, no Brasil, não há crime organizado. Isso é estranho e absurdo."

Giusto Sciacchitano, procurador antimáfia.

"É o caso do jogo do bicho, o que mais se aproxima de um crime organizado como a da Máfia por aqui. (...) Esse é o modelo brasileiro. O resto é exagero."

Guaraci Mingardi, secretário de Serviços Públicos de Guarulhos.

 

Nem tudo são planos e intenções, na verdade, a maior parte de nossos problemas em viver em sociedade advém de uma omissão e visão burocratizada da vida. Refiro-me à atuação de nosso sistema de justiça que, agora depois do escândalo de corrupção dos governos petistas parece ter acordado de um sono profundo. Mas como podemos ver na afirmação de Guaraci Mingardi na epígrafe acima, o mais fácil é simplesmente negar a realidade e tratar a situação desesperadora em que vivemos na segurança pública como algo meramente pontual e pior, natural.

Evidente que isto não vem de agora. Leia neste artigo que escrevi em 2002, como o crime organizado já tinha uma grande penetração e influência na sociedade brasileira e sua estrutura de estado.

Por Anselmo Heidrich

 

O diretor geral do DEIC, Godofredo Bittencourt, levou os presos a sua sede para uma reunião tentando evitar o massacre que se seguiu em São Paulo a partir do dia 30 passado. 768 detentos seriam transferidos para o interior paulista, mas para que os comensais ficassem bem nutridos e, creio eu, assim colocarem suas ideias em ordem e com bom senso, o diretor ofereceu-lhes um rodízio de pizza. Um dos chefões, o “Marcola”, homem de fino gosto protestou e pediu chesse-picanha com fritas, no que foi prontamente atendido. Afinal, para quem tem três refeições ao dia, direito a visitas íntimas entre outros benefícios legais e outros ilegais que acaba adquirindo por “força da modernidade” como celulares, o que é um sanduíche?

Não sei, talvez todos estes petiscos tenham causado algum mal estar, pois o que se seguiu foi obra de alguém com mais que indigestão ou enjoo.

Também se esperava por algum pronunciamento, seja de nosso honorável presidente, líder latino-americano recém espoliado e “desmoralesado” pela Bolívia ou do candidato Alckmin. Nada. Mas, também era previsível a manifestação de nosso ministro da justiça, doutor Márcio Tomás Bastos, homem culto e douto nas sócio-lógicas da vida onde tudo se explica, marxianamente, pela malfadada desigualdade social. Sim, o sujeito veio a público dizer que a criminalidade só cessará com o desenvolvimento econômico. Engraçado... eu jurava ter ouvido de propagandas governamentais que já estávamos a galope ao primeiro mundo. Será que culparão a Bolívia?[1]

Numa tacada só, Bastos chamou os pobres de criminosos congênitos, pois se a pobreza é que causa tudo isto que vimos, então são eles! Será que nosso beautiful people do mundo das artes ou de nossa imprensa politicamente correta, dos Heródotos Barbeiros das CBNs não vêem aí alguma réstia de preconceito?

Interessante também que na visão do homem das leis que encarna, tudo não passe de uma simples lógica econômica. Pois, se as leis não são inadequadas, a justiça não é morosa, processos não são arquivados etc. tudo é causa menor, acessória, o problema mesmo reside no emprego formal. Como se para montar uma quadrilha não se precisasse de muito dinheiro.

Na maioria dos países africanos que não tem instituições ao estilo ocidental, solidamente edificadas, uma se destaca: as forças armadas. Por isto que tantos brasileiros creem que só o exército pode por fim a situação que vimos em São Paulo, em que pese o fato do estado de direito vir a acabar.

Bem, estou falando em nome do povo. Mas, o povo realmente se importa com isto?

Quando o jornalista Tim Lopes foi morto, ele tinha sido atraído por moradores ligados aos traficantes, com o argumento de que ele poderia filmar cenas de aliciamento de menores trocando sexo por droga em bailes funks no Rio de Janeiro. A armação feita com a ajuda de moradores contradiz a retórica gasta de que os moradores são sempre reféns dos bandidos.

Não faltaram os que dizem que o desemprego induz ao crime e às drogas ou que a miséria é que gera a violência. O analfabetismo gera a violência, a desigualdade gera a violência, o ócio gera violência, tudo serve como justificativa. Nós próprios podemos justificar a indiferença pela estrutura econômica, daí não haver meios repressivos que valham a pena acionar, daí o nada serve ou nada funciona.

Qualquer classe social tem suas ovelhas negras e elas estão crescendo, por uma simples razão: o crime compensa.

Já que agora a (falta de) educação virou desculpa para tudo, façamos algumas correlações:

-         Massacre na cidade São Paulo;

-         75% do orçamento destinado à educação vão para o “ensino superior” e restos de 25% para o ensino básico.

Privatizemos as estatais, dando espaço subsidiado para centros de pesquisa e ampliemos o ensino básico e médio profissionalizante para vermos se, no longo prazo, a criminalidade não cai. Claro que, acompanhado de perto, por um sistema de repressão ao crime que já existe e não há mais como evitar. Sem as duas frentes de combate ao crime, a repressiva e a preventiva, nada funcionará. No entanto, isto é diferente do proselitismo de palanque de Lula que acusa a falta de investimento em educação nas últimas décadas como se agora houvesse algo neste sentido. Com o ECA e a aprovação automática não há educação que funcione.

E quando falo de crime, não estou me limitando a organizações mais violentas como o PCC ou o CV, mas também àquelas mais sorrateiras, como as máfias de roubo de carga de caminhões que dão propina aos policiais. Se a corrupção não for atacada, qualquer verba a mais para carros-patrulha ou armas não contará com um serviço de inteligência. Coisa, aliás, que o PCC provou saber usar.

Já se disse que o que falta para a completa “colombianização” da sociedade brasileira é o crime calar a imprensa. Não precisa, ele a compra. Quando o “cantor” Belo foi preso, cansei de ler que “ele não era o traficante”, como se isto, por si só, fosse algum salvo-conduto para que não tivesse cometido crime algum.

Há uma cultura geral que vê no mafioso uma espécie de don, um “uomini d’onore”. Isto não é só influência de Hollywood. Por anos não só italianos como muitos, mundo afora admiraram o homem de raízes humildes que respondia aos insultos valentemente e acima da lei, um justiceiro que se torna “a lei”. Analogamente, muitos brasileiros veem a solução na volta dos grupos de extermínio.

Descobrir os canais de autofinanciamento do narcotráfico via lavagem de dinheiro é coisa que nosso congresso não fará, infelizmente, pois isto atentaria contra si próprio. Daí, ao bom e velho estilo colonial criamos um pacote de projetos de lei contra o crime. Hoje em dia, o dinheiro que movimenta o crime é o mesmo, mas as polícias não o são. Sem um plano nacional, para não falar em conexões externas, como podemos querer enfrentar o crime organizado?

Mas, vejam bem, discordo da ideia de um grande polvo, com numerosos tentáculos que se espalham, como se nossa máfia fosse apenas uma subsidiária de um cérebro internacional. Se fosse assim, seria mais fácil, muitíssimo mais fácil desbaratar o crime organizado no Brasil. Na verdade, enquanto a mídia em peso avalia a atual situação como um confronto ao estado e a ordem vigente, como se o PCC fosse uma agremiação anarquista revolucionária, o que existe é um conluio com frações da própria burocracia estatal. O crime organizado é muito mais Lênin que Bakunin, por assim dizer.

O Brasil não só é um país emergente, como também é um país de máfias emergentes. Transporte e rotas da droga, venda de insumos destinados ao seu refino e comercialização e, principalmente, o fato de ser um paraíso para a lavagem de dinheiro, colocam o Brasil como um terreno fértil para o crime. Deveríamos começar procurando as atividades “limpas” que tiveram sua acumulação inicial com dinheiro sujo.

A máfia é uma velha que não teme a modernidade. Enquanto a cocaína tem um refluxo mundial, o Brasil se empenha na produção de novas drogas sintéticas, como o ecstasy. Custos menores e mercado afluente, facilidades para a compra de imóveis com seus lucros etc. são alguns dos motivadores desta organização no país.

Se encontrarem cocaína no Mato Grosso, as autoridades locais não investigarão de onde veio ou para onde iria. As polícias estaduais não têm método de trabalho em conjunto e o assunto morre aí. Nossa integração e capacidade de operação são também outro forte incentivo à criminalidade. Muitos confundem federação com isolamento das unidades políticas. Nós temos a polícia federal, a justiça federal, o ministério público federal, n-órgãos estaduais e vários estados que não apresentam sinergia entre si. Como fazer?

O que se veiculou quando a crise apertou em São Paulo? “Quem puder, saia de São Paulo.” Pode? Sim pode, com a nossa mesma típica perspicácia, foi um sonoro “fuja!” Não passamos de cordeirinhos amedrontados com os uivos de lobos que nem vemos.

No início da década, Guaraci Mingardi[2], secretário de serviços públicos de Guarulhos em São Paulo, afirmava taxativamente, sobre o PCC e o CV que “não temos crime organizado do porte da Máfia no Brasil (...) o comando [vermelho] saiu de cena e se pulverizou. Quanto ao PCC, é uma organização de cadeia, como a Camorra napolitana. Mas não sabemos se ele tem poder de fogo fora da carceragem.”

E agora, será que sabem?

 

 

[1] A antropóloga Alba Zaluar que já se debruçara sobre o tema em seu A Máquina e a Revolta afirmou que o ocorrido em São Paulo corresponde a um movimento comum de “bolivianização” da América Latina. Em sua visão, como uma sublevação das “classes oprimidas”.

[2] O secretário é um sociólogo que em estudo para o Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, dividiu a criminalidade nacional em duas vertentes: a tradicional e a empresarial. Parece que tal dicotomia não deu conta de avaliar até onde uma organização “de carceragem” como o PCC conseguiu chegar.

A educação livre

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Por Bernardo Santoro

EDUCAÇÃO: UM ASSUNTO CONTROVERSO

A educação é um dos grandes dogmas da sociedade contemporânea. É absolutamente comum ouvir grupos de pressão e políticos falando sobre a necessidade de se promover a educação no Brasil, especialmente por meio da aplicação maciça de recursos públicos no setor, valorização salarial dos professores e melhoria da infra-estrutura, e que tais medidas levarão o país a um novo patamar de desenvolvimento.

Esse artigo tem como objetivo desmistificar o tema da educação para demonstrar que o verdadeiro valor que traz desenvolvimento econômico a um país é a liberdade, e que a educação é sim um excelente investimento, mas somente em uma sociedade verdadeiramente livre, pois a educação não é um fim em si mesmo.

O QUE É EDUCAÇÃO?

Segundo o Wikipedia, educação é o processo de ensinar e aprender. A educação pressupõe, portanto, um conhecimento, que é um bem imaterial objeto dessa transação, um educador, que possui o conhecimento e o repassará, e, por fim, um educando ou aluno, que não possui o conhecimento, mas irá adquiri-lo ao final do processo de educação.

Do ponto de vista civilista, a educação é um serviço, e poderia servir como objeto de qualquer contrato livre, desde que um educador queira vender um conhecimento e um aluno queira comprá-lo.

Nota-se, então, que o conceito de educação não é um conceito substantivo, mas sim um conceito adjetivo ou procedimental. Educação é apenas um meio (ou seja, algo adjetivo ou procedimental) pelo qual se busca adquirir para si o conhecimento (esse sim de natureza substantiva). A educação é desprovida de qualquer valor intrínseco, sendo apenas um conjunto de procedimentos que visa agregar conhecimentos de interesse do aluno, que por sua vez se baseia em valores.

E esses valores buscados são absolutamente subjetivos. O motivo pelo qual um homem estuda direito ou economia e não geologia é que o tal sujeito se interessa muito mais por aqueles temas do que por esse. Para um geólogo, contudo, essa afirmativa seria um sacrilégio. São os valores individuais e subjetivos de cada aluno que o levará a buscar determinado conhecimento.

Cabe ainda uma discussão interessante sobre a possibilidade de a educação ser individual, ou seja, se educador e aluno podem ser a mesma pessoa. A resposta convencional diria que sim, por causa do fenômeno do autodidatismo, mas a melhor resposta é não. Explica-se.

O autodidatismo é comumente conceituado como o ensino através do auto-direcionamento. Esse processo não é, contudo, exclusivamente individual. Para que uma pessoa possa se auto-direcionar em busca de um ensinamento, ela se guiará por livros ou qualquer outro tipo de instrução. Logo, o autodidatismo é necessariamente uma relação entre um educador e um aluno, ainda que este educador esteja em um ponto remoto e o procedimento de ensino não se dê de maneira direta, mas sim indireta.

No caso de um conhecimento ser adquirido única e exclusivamente pelo indivíduo, sem nenhuma interferência de um educador, não houve um processo educacional, mas sim um processo de criação ou descobrimento. Criação e descobrimento não se confundem com educação.

Resumindo todos os elementos, conceitua-se educação como um instrumento procedimental sem valor intrínseco, baseado em um acordo de vontades verbal ou escrito, gratuito ou oneroso, segundo o qual um educador, direta ou indiretamente, transmite um conhecimento a um aluno, buscado em virtude de valores e interesses subjetivos deste último.

É importante delimitar o conceito de educação para demonstrar cabalmente que a educação é, por sua natureza instrumental, desprovida de valor material, um mecanismo segundo o qual pessoas trocam informações relevantes para suas vidas. É uma atividade absolutamente espontânea na vida em sociedade e independe de qualquer regramento para ocorrer. No momento em que duas pessoas conversam e trocam informações, elas são, simultaneamente, educadores e alunos uns dos outros, sobre ilimitados temas. O ato educacional é eminentemente livre.

No Brasil, entretanto, não é bem assim.

A EDUCAÇÃO NO BRASIL

A Constituição brasileira tem caráter pós-positivista, o que significa, em termos práticos, o respeito ao normativismo da constituição (positivismo clássico) com a agregação de alguns valores fundamentais que legitimariam esse normativismo (elementos de jusnaturalismo), sendo o principal deles a "dignidade da pessoa humana", conceito absolutamente fluido que suporta praticamente toda e qualquer política governamental. Essa característica é, inclusive, glorificada pelos seus defensores, mesmo com seu relativismo inviabilizando a segurança jurídica na sociedade brasileira e ferindo de morte qualquer filosofia de justiça coerente. As contradições insuperáveis desse modelo sem sentido são resolvidas através de uma técnica aleatória chamada "ponderação de interesses", onde o interesse governamental se sobrepõe ao interesse do cidadão em praticamente todos os casos.

A Constituição, que consagra esse modelo casuístico, declara que a educação é um direito social de todos (art 6º), sendo dever do Estado e da família prestá-lo, além de promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (art. 205).

Como visto anteriormente, o conceito tradicional de educação não possui valor intrínseco, sendo apenas um meio de transmissão de conhecimento natural entre dois indivíduos. Todas as pessoas que têm seus cinco sentidos em funcionamento, ainda que parcialmente, têm capacidade de interagir educacionalmente, ou seja, transmitir conhecimento um ao outro. Essa capacidade é natural, e a intervenção do governo poderia apenas ampliar ou restringir os meios de educação, seja aumentando ou restringindo os modos diretos de promoção de educação (professores), seja aumentando ou restringindo os modos indiretos de promoção (livros e internet, entre outros).

Os constituintes trabalharam, na verdade, uma idéia substantiva de educação, ou seja, educação não como um instrumento de conhecimento, mas como misto de instrumento e conhecimento em si. Para os criadores da constituição, a educação possuiria valores intrínsecos.

Na cadeira de filosofia de direito se aprende que valores são as razões que justificam e motivam as nossas ações. Todo sistema jurídico se baseia em valores que o justificam e motivam sua criação. Esses valores se refletem em princípios que nortearam as regras do sistema. A existência de princípios constitucionais da educação demonstra cabalmente que a educação no Brasil é baseada em valores objetivados de cunho estatista.

Os valores educacionais do poder constituinte brasileiro se refletiram nos princípios insculpidos no artigo 206, quais sejam: (i) igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; (ii) liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; (iii) pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; (iv) gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; (v) valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas (redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006); (vi) gestão democrática do ensino público, na forma da lei; (vii) garantia de padrão de qualidade; (vii) piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal. (também Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006).

A esses princípios somamos as seguintes regras, relativos ao dever de prestação da educação pelo estado (art. 208): (i) educação básica obrigatória e gratuita, (ii) progressiva universalização do ensino médio; (iii) atendimento especial aos deficientes; (iv) creche gratuita; (v) meritocracia no acesso ao nível superior; (vi) oferta de ensino noturno; (vii) entrega de material didático, transporte, alimentação e assistência à saúde.

Já o ensino privado é "livre", desde que cumpra as ordens do MEC; e seja avaliado e autorizado por este órgão (art. 209).

Por fim, os artigos 210 e 214 explicitamente dispõem que o Ministério da Educação e Cultura fixará os conteúdos da formação educacional através de um "plano nacional de educação" e uma "lei de diretrizes e bases".

Em resumo, os burocratas constituintes decidiram que a educação brasileira é um conjunto de conhecimentos específicos escolhidos pelo MEC que deve ser imposto à população em geral e custeado pela própria população, de maneira igualitária (fator "valor"), seja através de instituições públicas ou de instituições privadas também aprovadas pelo MEC (fator "instrumental").

A primeira crítica a se fazer sobre essa conceituação é a inserção de elemento de valor. Dizer que apenas certos conteúdos podem ser denominados de educação é absolutamente imoral, pois pressupõe a imposição de valores objetivos a indivíduos que possuem valores absolutamente distintos dos primeiros. Os valores são sempre subjetivos, pois pressupõem uma mente racional valorativa, ao contrário da ética, que é objetiva[1], mas que não é o objeto do presente estudo.

Valores, repisando, são as razões que justificam e motivam as nossas ações, e Mises, brilhantemente, ensina que as ações humanas são produzidas para levar o homem de um estado de menor satisfação para um estado de maior satisfação, logo, são os valores subjetivos que jazem na razão que permitem às ações humanas levarem seu realizador a um novo estado de satisfação. Valores são tão particulares que, de fato, é impossível se impor um valor a outra pessoa sem que esta, no final, permita. Se um indivíduo, por vontade própria, não interiorizar aqueles valores, eles não estarão aptos a, em uma ação concreta, aumentar a satisfação do seu realizador.

Ninguém deveria ser obrigado a receber doutrinação de valores de outros homens.

Adiciona-se a essa questão outra, ainda mais perversa: essa tentativa de imposição de valores através do sistema educacional público é bancada por dinheiro extorquido de muitos indivíduos da sociedade e entregue a indivíduos sob os quais os financiadores não possuem nenhuma responsabilidade moral.

Seres humanos são indivíduos livres, independentes e responsáveis. Os que não são completamente independentes e responsáveis, notoriamente as crianças, possuem pais responsáveis por elas[2], e estes pais são os únicos moralmente responsáveis por essas crianças.  Essa ideia é tão natural que, quando uma pessoa observa outra em dificuldade, ela ajuda por voluntarismo, compaixão e — por que não? — amor ao próximo, mas não por culpa, sentimento típico de alguém que é responsável pela má condição de outrem.

No entanto, a ideia vendida na mídia é diversa. Intelectuais em geral defendem o investimento "público" em educação de maneira apaixonada, partindo do pressuposto que os recursos em questão pertencem ao governo. Esses recursos não pertencem legitimamente ao governo. Pertencem, sim, aos trabalhadores e empresários que criaram legitimamente essa riqueza, violentamente expropriada daqueles pelo governo, através da tributação. Somente os pais poderiam ser responsabilizados pela educação de seus filhos, nunca a sociedade como um todo.

A postura coletivista também enfraquece o núcleo básico da sociedade, que é a família. Responsabilizar o governo e a sociedade pelo custeio e conteúdo da educação de crianças retira dos pais a sua autoridade natural e enfraquece a relação social mais básica que existe, justamente por ser uma relação, antes de mais nada, voluntária. Fica enfraquecida a relação baseada no voluntarismo e no amor, a família, e fortalecida uma relação baseada na coerção e violência, a relação estado-cidadão (súdito).

Além de imoral, a imposição de conhecimentos derivados de valores subjetivos dos governantes é absolutamente inútil. Cria-se um modelo educacional padronizado extremamente chato, desinteressante e sem nenhum sentido prático para a maioria dos alunos, que não leva em consideração as diferenças regionais brasileiras e, dentro das regiões, os interesses dos consumidores do conhecimento, resultando em altíssimos índices de evasão escolar e grande desperdício de recursos. Chega a ser uma piada obrigar um menino roceiro do interior do Brasil a aprender a fórmula de Bhaskara ao invés de ensiná-lo, por exemplo, técnicas de plantio, manuseio de agrotóxicos e cuidado de animais.

Sobre os conhecimentos impostos em si, e os valores por trás deles, são os piores possíveis. Já não se ensina português corretamente, como no famoso caso "nós pega os peixe"[3]. Em matemática, contas básicas de subtração, em livros oficiais, estão erradas[4]. E o pior problema é, sem dúvida alguma, a tentativa de doutrinação ideológica das crianças, que estão cada vez mais estupidificadas por filosofias coletivistas e estatistas.

Hans-Hermann Hoppe, em brilhante ensaio, explica que uma minoria não pode dominar eternamente uma maioria apenas pelo uso da força bruta, precisando dominar a opinião da maioria, e somente com a ajuda, forçada, se necessário, de "intelectuais" de todas as áreas do conhecimento, e de maneira monopolista, é que se pode fazer prevalecer idéias que são contrárias aos próprios interesses da população. Por isso o interesse estatista no monopólio intelectual de todas as instituições educacionais, do jardim-de-infância até a universidade, inclusive com a compulsoriedade, ou seja, a obrigatoriedade do cidadão em freqüentar tais estabelecimentos.

No mesmo esteio, Joseph Sobran ensina que

A educação controlada pelo estado se tornou um mero instrumento de propaganda, agora chamado de "método de conscientização", concebido para tornar as crianças meras unidades obedientes à Nova Sociedade.  A ideia da "evolução" foi adaptada para ensinar às crianças que a Nova Sociedade era o inevitável destino da história humana.  O "intelectual" das massas (o oposto do erudito tradicional e independente) se tornou um novo tipo social, dedicado a difundir as fantasias da Nova Sociedade, as quais eram chamadas de "ideais".

A questão instrumental, por sua, vez, que é o cerne do verdadeiro estudo da pedagogia, é ignorada, em detrimento do conteúdo massificado e emburrecedor. A busca por técnicas de ensino mais eficientes praticamente não existe, e o modelo educacional que as novas gerações seguem é praticamente o mesmo que nossos pais ou avós seguiam. O desinteresse na busca por novos métodos de ensino deve ser visto sob duas perspectivas: a da rede pública e a da rede privada.

Na rede pública, em regra, não importa a qualidade do método de ensino, pois os salários são padronizados, logo, o professor ganhará o mesmo ordenado no fim do mês, sendo eficiente ou não no seu trabalho. A rede pública não busca o lucro, ela busca verbas. E verbas adicionais só são adquiridas quando há uma pressão social sobre o governante em virtude da má qualidade do serviço. De fato, os incentivos na escola pública são reversos: quanto mais ineficiente a escola, maior a probabilidade de se conseguir mais verba para melhorá-la.

Já na rede particular, a busca por melhores e mais eficientes métodos de ensino até ocorre, pois a rede particular busca o lucro, e lucros só são adquiridos quando o serviço é ofertado com mais qualidade, aumentando o número de consumidores, e com menos custos, mas a atividade criativa do mercado de ensino é gravemente tolhida pela grande regulamentação feita pelo MEC, que não só tem poder de intervir no método (mesmo com a Constituição dispondo em contrário), como também, e principalmente, no conteúdo. Essa regulamentação aumenta artificialmente a demanda, pois existe uma obrigatoriedade do ensino regulado, e diminui artificialmente a oferta, em virtude da burocracia para se conseguir uma licença para ensinar, aumentando os preços e o lucro das escolas privadas existentes sem uma contrapartida na qualidade. O governo destrói os incentivos naturais do livre mercado educacional.

O panorama geral da educação no Brasil é, dado o grande potencial local, o pior possível.

A SOLUÇÃO PARA A QUESTÃO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

Sempre que alguém me pergunta qual é a solução para determinado problema, eu me recordo da sabedoria do personagem "Gato de Cheshire", do romance "Alice no País das Maravilhas"[5]:

O Gato apenas sorriu quando viu Alice. Parecia de boa índole, ela pensou, mas não deixava de ter garras muito longas e um número respeitável de dentes, por isso ela sentiu que devia ser tratado com respeito.

"Gatinho de Cheshire" começou um pouco tímida, pois não sabia se ele gostaria do nome, mas ele abriu mais o sorriso. "Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para sair daqui?"

"Isso depende bastante de onde você quer chegar", disse o Gato.

"O lugar não me importa muito...", disse Alice.

"Então não importa que caminho você vai tomar", disse o Gato.

Como visto, a educação não tem uma natureza substantiva, sendo um meio de troca de conhecimento. A educação é, antes de tudo, um processo de autodescobrimento. É através dessa linda interação com outros homens (educação propriamente dita) e com a natureza (criação ou descoberta) que se descobre suas aptidões, vontades, prazeres e mesmo as questões filosoficamente mais relevantes: quem você é, por que está aqui e o que quer fazer com essas respostas.

O processo educacional está em todo lugar, em todas as pessoas. Pessoas são diferentes, com necessidades e realidades diferentes. As Alices perdidas no meio da floresta da vida nem sempre têm noção sobre que lugar querem chegar, ou seja, que tipo de educação precisam para atingir seus objetivos particulares, ou, ainda, que tipo de conhecimento as levaria de um estado de menor satisfação para um estado de maior satisfação, no dizer misesiano.

A boa educação passa por se saber primeiro aonde a pessoa quer chegar, para então se decidir que caminho se deve tomar. Não o contrário, como acontece hoje. Infelizmente, os Gatos de hoje não têm a humildade e a moral do Gato de Cheshire, para estimular as Alices a escolherem por elas mesmas em que lugar elas querem chegar.

Burocratas pedagogos de órgãos como o Ministério da Educação, de uma soberba inigualável e pobreza de espírito ímpar, criam caminhos pré-determinados (educação), longos e ineficientes, para que todos cheguem a um lugar específico de escolha deles, a doutrinação estatista que justifica o sistema em que as Alices dependem dos Gatos (ou seriam gatunos?).

Uma verdadeira educação libertária é uma educação despida de preconceitos, sem estamentos do tipo "1º ano", "ensino fundamental" e "ensino médio". Cada um buscaria uma instituição de ensino de acordo com suas necessidades. Esse sistema provavelmente levaria a um ensino fundamental parecido com o que temos atualmente, mas os métodos de ensino (a verdadeira educação) seriam de livre-escolha da instituição, de acordo com as demandas de mercado, ou seja, de acordo com a vontade dos pais, dos alunos e das empresas que necessitam de profissionais, ou seja, os recursos seriam alocados de maneira muito mais eficiente, com pouco desperdício. E as pessoas se formariam em "matemática básica", "português avançado" e "história do Brasil", assim como em "métodos de agricultura", "fotografia" ou "mecânica".

Esses diplomas teriam valor não porque o MEC disse que eles têm, mas porque as pessoas, através do livre mercado, reconheceriam esses diplomas como sendo bons, e se determinados diplomas não fossem bons, a escola provavelmente iria à falência. As universidades não estariam presas a regras sobre quem elas podem ou não aceitar no curso, podendo aceitar crianças superdotadas nas suas fileiras, ou ainda pessoas com grande conhecimento de matemática e nenhum conhecimento de biologia para seu curso de engenharia civil. Novamente aqui o valor do profissional se daria pela sua técnica e talento, não pela vontade de um burocrata. A avaliação se daria pelo livre mercado e por um sistema de preços, que demonstram eticamente o valor de qualquer serviço, inclusive o educacional. O autodidatismo, a criação e o descobrimento seriam tão importantes quanto o processo educacional tradicional, pois o que importaria é o conhecimento adquirido, e não a forma como ele foi obtido (desde que de maneira não-violenta). As sociedades profissionais teriam um papel essencial avaliando os profissionais, mas sem o poder de impedir o profissional de atuar, sendo instituições de indicação de profissionais, e não de coerção, violência e reserva de mercado.

Sem amarras estatais, empresas e instituições estrangeiras investiriam pesadamente no mercado educacional e profissional, aumentando a eficiência do ensino em conjunto com a queda de preços. No mundo jurídico, por exemplo, um dos cursos mais famosos do Brasil é um curso online. Um professor de altíssimo gabarito dá uma aula online para milhares de alunos em todo o Brasil, em salas de aulas com telões, barateando assustadoramente o custo e levando aulas de grande nível para rincões onde, em outro momento, seria impossível tal profissional chegar. Experiência análoga, em nível mundial, é a Khan Academy, também com aulas online.

Em um verdadeiro livre mercado e com os recursos tecnológicos atuais (também atingidos graças ao livre mercado), a gama de possibilidades para a melhoria e barateamento do processo educacional é infinita. Nenhum burocrata ou órgão governamental teria como prever quais seriam os métodos mais eficientes e baratos para a transmissão (educação) de cada conhecimento perseguido por cada pessoa. No entanto, temos muitas mentes pensantes, espalhadas em cada cantinho do país, prontos para dar sua contribuição local e nacional para suprir essas carências, desde que elas sejam livres para prestar esses serviços.

E o mais interessante disso tudo é que não há nenhuma novidade. É apenas o resgate do conceito clássico, instintivo e natural da educação, antes da subversão estatista. Se o grande Mises[6] uma vez disse que a boa economia é a economia elementar, também a boa educação é a educação elementar.

A interação voluntária dos homens de bem, por meio do livre mercado educacional, revolucionará o mundo.



[1] Sobre a ética objetiva e aplicável a todos os homens, ROTHBARD, Murray. A Ética da Liberdade. Disponível em http://www.mises.org.br/Ebook.aspx?id=12. A ética, como fundamentação teórica para se encontrar o melhor modo de viver e conviver, isto é, a busca do melhor estilo de vida, sempre através da razão abstrata, é objetiva e única.

[2] Crianças sem pais, em regra, poderiam até com certa facilidade conseguir pais adotivos, mas são impedidos por uma legislação de adoção altamente restritiva, que praticamente inviabiliza a adoção no Brasil.

[3] Sobre o assunto, recomenda-se o artigo de GUEDES, Paulo. Pega os peixe, não os emprego. Em http://www.imil.org.br/artigos/ptpega-os-peixe-os-emprego/.

[4] Reportagem completa sobre o assunto encontra-se em http://www1.folha.uol.com.br/saber/925261-mec-distribui-livro-com-erro-de-matematica-a-37-mil-escolas.shtml.

[5] CARROLL, Lewis. Alice no País das Maravilhas, 1886. Ed. L&PM Pocket, 1998, pg. 84.

[6] MISES, Ludwig Von. Citado em ULRICH, Fernando. Good Economics is basic economics. Em http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1058.

4 Razões para querer João Dória como prefeito, governador e presidente

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Por Vista Direita

O que João Dória provou à política? Na verdade, ele ouviu as necessidades do povo e as refletiu em ações, o que, diga-se de passagem, não é pouco perante a qualidade de nossos representantes. Em relação ao seu antecessor, então soa até injusto comparar. Vamos aos pontos, o que faz de Dória um sucesso e anomalia no cenário político brasileiro?

  1. Posiciona-se como indivíduo e não, massa.

Enquanto Fernando Haddad fazia da administração uma mera plataforma para asseverar suas teses esquerdistas, João Dória apenas fez o que uma pesquisa feita pelo próprio PT já havia revelado.[1] A Fundação Perseu Abramo (do PT) fez uma pesquisa com seu eleitorado de 2002 e 2012 e descobriu que “viraram a casaca” em 2014 e 2016. Uma das grandes “descobertas” da pesquisa foi saber que, para o povo não há luta de classes, mas sim a incompetência estatal. E para piorar para o PT, o sucesso está ligado à coragem, disciplina e força de vontade.

Depois dessa camaçada de verdades que recebeu, o PT não baixa o facho com teses equivocadas. Recomendou que seu discurso partidário negasse o mérito individual como importante construção da identidade. Aliás, para quem conhece os meandros políticos da esquerda sabe muito bem quão antiga é esta estratégia: Karl Marx já escrevera sobre a necessidade passar a classe social (proletária) de “classe em si” (sem assumir a ideologia comunista) para “classe para si” (assumida a ideologia comunista). Não é de hoje que este tipo de postura e visão política faz um desserviço à sociedade, no que João Dória é a perfeita antípoda, pois se posiciona como pessoa ao valorizar o trabalho individual, a competência e a promessa cumprida.

Aprendam petistas que quando atribuímos tudo a um grupo, “coletivo” como vocês gostam de chamar, a responsabilidade se dilui e isto promove a irresponsabilidade. Ou melhor, não aprendam não, continuem errando que assim vocês vazam mais rápido do sistema político nacional.

  1. Seu conceito de Zeladoria Urbana é um resgate da dignidade do cidadão

Os petistas têm que ser muito incompetentes e ideologizados para não perceberem que é exatamente pela visão de um gestor bem sucedido, que por mérito próprio acostumado com a lógica de mercado faz de Dória o perfeito exemplo de um anti-PT.

Há algo mais acertado do que fazer em política o que a maioria deseja, desde que esteja dentro da lei? Pois é, 97% dos paulistanos se mostraram a favor do combate aos pichadores,[2] e a esquerda insiste me dizer o contrário ao empurrar goela abaixo do contribuinte que seu conceito de arte – a pichação – deve ser aceito. Esta é a típica pauta natimorta e os caras não percebem porque Dória faz o sucesso que faz porque traz dignidade ao cidadão cuidando de sua cidade. Tentaram, inclusive, desqualificá-lo na ação ordeira ao combater a sujeira pública como “higienismo”.

A acusação de “higienismo”, além de tudo, contraintuitiva, pois o conceito não é de domínio popular e quem o critica parece estar indo contra a necessidade de higiene. Em segundo, pois se explicassem o tiro sairia pela culatra, uma vez que tratar bem o meio ambiente urbano para todos é justamente o oposto de qualquer sentido de discriminação.

  1. Quem sabe ouvir acaba se comunicando bem

Suas realizações são veiculadas, mas à diferença do puro marketing que só promete, ele é feito em cima de realizações. A imagem de quem trabalha e mostra isso até no domingo só atiça a inveja daqueles que viveram em cima da exploração do sentimento de privilegio do funcionalismo. Na Prefeitura Municipal de São Paulo (PMSP), o horário de entrada dos funcionários passou a ser 7h30, como é em qualquer emprego normal.

À diferença de um político, Dória explora perfil de administrador em contraposição à Fernando Haddad e sua imagem de pouca produtividade. E é claro que o crescente sentimento antipetista, que soube explorar o auxiliou. Além de empresário, sua postura como comunicador, também lhe permitiu saber transmitir claramente o que queria.

Ao contrário de entidades coletivas como classe, raça, etnia, gênero, João Dória é o rosto de uma pessoa, o que fez, inclusive ao manter sua página pessoal em rede social. Ao invés de usar uma institucional como a da prefeitura para promoção pessoal, até nisto ele mostrou saber separar os recursos públicos de qualquer uso privado para interagir com o público. E prova cabal desta bem sucedida interação foram os 145 vídeos publicados em três meses de governo com milhões de compartilhamentos.

  1. Realizações em campos essenciais

Em apenas um mês, o prefeito João Dória reduziu em 70% a fila para exames com seu programa, o Corujão da Saúde. Quando iniciou em 10 de janeiro, quase meio milhão de paulistanos aguardavam serem chamados, enquanto que “especialistas” inventavam de tudo para desacreditar o programa. Até dizer que pouca gente iria ser atendida de madrugada porque não iria acordar, o que é ridículo para quem sabe como funciona de verdade, quando necessitados chegam a ficar mais de um dia na fila para serem atendidos. De acordar na madrugada para ficar na fila para acordar na madrugada para ser atendido vai um abismo de diferença. E quais foram os custos? Bem menos do que levar toda a máquina pública a construção de infraestrutura, contratação de pessoal e administração, o prefeito aplicou a política liberal dos vouchers, na qual paga para o serviço privado para que atenda o usuário da saúde.

Este exemplo foi o mais emblemático, mas há outros em uma série de parcerias e doações com empresas para cuidado da cidade. Em outras palavras sabendo separar o que é público e privado, Dória aproximou os dois setores da cidade criando uma sinergia onde se diminui o peso do setor público, mas sem perder sua função com o apoio e mais importante, envolvimento dos agentes privados.

Agora pense, se este sujeito em poucos meses fez tudo isto como prefeito, o que fará como governador do estado ou tomara, presidente da república? Aguardamos ansiosamente para saber.

[1] Fundação Perseu Abramo. Percepções e Valores Políticos na Periferia de São Paulo. 2017.

[2] DataFolha. Avaliação dos programas da prefeitura. 2017.

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